Não é fácil perder um amigo como o Maia, irmão que se foi ontem pela manhã, aos 47 anos, após brigar com um câncer no esôfago durante 2 anos e quatro meses e após se submeter a diversos tratamentos, alguns dos quais extremamente dolorosos.
Pra mim é demais dolorosa mais esta perda, pois já se foram meu mano Zé Wilson em agosto 2009, meu amigo e irmão Walter Rodrigues em maio 2010 e meu paizinho em abril/2011. São perdas demasiadas que se juntam e arrancam a alma da gente em pedaços.
[...]
Maia se comovia profundamente com as injustiças, com as sacanagens. E lutava contra todas elas, de forma competente. Amava a chuva, amava Belém, a baía do Guajará e quando aqui vinha nas lides da Capaf, do BASA, tinha prazer especial em dar um pulo nas barraquinhas da avenida Nazaré para comer maniçoba na rua. Achiava bacuri uma fruta deliciosa. E é.
Amei Brasília pelas mãos e olhar dele. E juntei tanto conhecimento ouvindo ele, conversando, trocando idéias, aprendendo. Como diz Samuca, ele terá sempre nosso amor e nosso aplauso.
A poesia estava entranhada nele. Recitava vários poetas e poemas assim de cabeça, entre uma petição e outra, ouvindo baixinho Astor Piazzola. E ora rindo, ora praguejando a cada nova tramóia descoberta.
Os trechos acima são de um texto comovente da jornalista Vera Paoloni, externando saudades de seu amigo, o advogado Castagna Maia, que faleceu no último sábado.
Leia o texto, que tem como título O mano Castagna Maia se foi. Mas estará sempre presente!
Um comentário:
e Maria Oliveira,
Fiquei aqui, imaginando, o Maia era muito jovem, mas a “kilometragem” dele era muito alta, ou seja, ele viveu muito pouco em termos cronológicos, mas o pouco que viveu, foi muito intenso, pois era muito apaixonado por tudo que gostava, ou que se dispunha a fazer.
Sua obra, seus exemplos, seus sorrisos (tinha um para cada situação), seus tiques e trejeitos, sua alegria, a solidariedade com os amigos e com a classe trabalhadora, com a qual tinha um compromisso verdadeiro, continuarão vivos, e não é apenas no campo dos sentimentos, vivo também do ponto de vista material, pois são muitos os trabalhadores que nem sabem que este homem existe, e só estão vivos hoje graças ao seu trabalho incansável, primoroso, apaixonado e apaixonante.
Nas suas petições, ou "tijolos" como ele as denominava, tem material para muitas teses de mestrado e doutorado, e isso é muito mais que o fruto do seu trabalho, das noites em claro, é, a sua essência, é a alma do Maia que está impregnada nelas.
Imagine se um homem como ele fosse embora com mais se 100 anos, a comoção seria ainda maior, pois mais pessoas tomariam conhecimento de tudo que ele representa, pois a dimensão dele seria, com o decorrer do tempo, ainda maior.
O filósofo Alemão, Arthur Schopenhauer, dizia que "Os eruditos são aqueles que leram nos livros; mas os pensadores, os gênios, os iluminadores do mundo e os promotores do gênero humano são aqueles que leram diretamente no livro do mundo", e o Maia era um misto destes dois, pois além de ter uma erudição invejável, sabia como poucos, fazer a leitura diretamente das coisas, pois era, sobretudo, um observador, nada escapava do seu olhar atento, que fazia a inter-relação entre as coisas mais díspares possíveis, algo que a princípio parecia ser "sem pé nem cabeça”, era por ele harmonizado, e a explicação para entender algo complexo estava ali, depois de um “daqueles sorrisos”, em algo simples.
Estas minhas palavras não tem a finalidade de arrumar uma justificativa para sua ida tão cedo, são apenas algumas reflexões sobre o sentido da nossa existência, que é muito mais que passar pela vida, ser mais um, existir, viver.
E partindo do pressuposto de que “fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas" (Thomas Cray), chego à conclusão de que a vida do Maia continua, pois ficou um pouco dele em cada um de nós, e isso não é apenas uma representação, é a vida que ele doou que está viva e latente em todos nós.
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