O governo do Estado cometeu vários erros nesta greve dos servidores da Secretaria da Fazenda (Sefa) que se encerrou nesta quarta-feira (02).
Vários erros.
Não pensem que o erro maior foi o spray de pimenta e as bombas de gás lacrimogêneo atiradas em grevistas que se encontravam no Itinga.
Não pensem que o erro maior foi o secretário de Fazenda, um dos interlocutores, digamos, de catiguria do governo do Estado dizer que parente não é aderente e, depois disso, sofrer o desgaste de ter dois cunhados seus exonerados da Sefa.
Não. Esses não foram os maiores erros.
Talvez o maior dos erros tenha sido o de tentar personalizar a paralisação, dar-lhe um nome, dar-lhe uma cara, corporificá-la com braços, pernas, alma e coração.
Talvez o maior dos erros tenha sido o esforço do governo do Estado em chamar a greve de “Charles Alcântara” (na foto) e chamar Charles Alcântara de “greve da Sefa”.
E o que é pior: o esforço em reduzir a paralisação à figura de Charles veio acompanhado de um esforço de maior fôlego ainda: o de tentar descredenciá-lo, desqualificá-lo como um sujeito vingativo, tomado por todo espécie de ressentimentos, pelo recalque, pela predisposição de rejeitar, a priori, tudo o que viesse e vier do governo Ana Júlia apenas porque é do governo Ana Júlia. Um governo a que ele, Charles Alcântara, já serviu como chefe da Casa Civil.
Não se sabe quem foi esse inspirado do Palácio dos Despachos que adotou esse tipo de estratégia política.
Uma estratégia política que se revelou desastrosa, despropositada, politicamente desgastante.
Charles Alcântara - o governo Ana Júlia deveria reconhecer - não é um qualquer.
É presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Fisco Estadual do Pará (Sinditaf).
É uma liderança sindical.
É uma liderança de um segmento de trabalhadores.
É uma liderança que acredita na greve como instrumento legítimo de luta, quando esgotadas as vias administrativas.
Nessa condição, Charles é fiel a seus liderados.
Essas constatações deveriam levar os estrategistas, os inspirados que flanam – com toda a licença do Flanar – ao redor de Sua Excelência a governadora Ana Júlia a fazerem algumas reflexões, algumas ponderações, alguns questionamentos da seguinte ordem.
Mas, afinal, Charles Alcântara, o petista, não está fazendo o que qualquer petista sempre defendeu?
Não está, na condição de líder sindical, defendendo a categoria que representa?
Não está lutando pela valorização profissional de uma categoria de trabalhadores?
Não está, democraticamente, pugnando pela conquista de direitos legítimos, como a melhoria de vencimentos e a fixação de um plano de carreira que valorizar cargos e funções tipicamente de Estado, como é o caso de auditores e dos exercentes de outras atividades no âmbito do Fisco?
Afinal, por que achar que Charles Alcântara, como presidente do Sinditaf, é um “traidor”?
E “traidor” de quê, afinal?
Do governo Ana Júlia?
Putz!
Acham que Charles é “traidor” apenas porque ele, enxotado – literalmente enxotado – do governo Ana Júlia, assumiu a presidência do sindicato e está lutando pelos direitos de sua categoria?
Afinal, os inspirados e estrategistas que avoejam em torno de Sua Excelência acham que o certo seria Charles, na condição de presidente do Sinditaf, subir num caixote – ou num palanque –, mandar às favas seus liderados e proclamar que Sua Excelência, a governadora Ana Júlia, é a governadora dos sonhos de qualquer um?
Quem é mais petista, afinal: Charles Alcântara, que se impôs como liderança sindical e adota princípios que sempre foram caros ao PT, ou alguns petistas – inclusive parlamentares do partido – que se mostram nauseados, que se mostram enojados com a atuação sindical de Charles Alcântara?
Charles Alcântara defende princípios que o PT sempre defendeu - ou defendia...
Quem mudou, então: Charles Alcântara ou o PT?
Quem?
11 comentários:
Não Paulo, nenhum dos três mudaram . Nem o Charles, Nem Ana Júlia , nem o PT . Todos continuam se comportando como sempre fizeram, Traindo, Mentindo, Aproveitando-se de situações para criarem factóides . Não teria sido muito mais nobre, ele ter reconhecido todas essas denúncias de corrupção, nepotismo, desvios de função e defasagem salarial, etc. na época em que era Chefe da Casa Civil ? Naquela época, além de ser uma atidude altruista, ele tinha o poder de decisão e ação . Não me iludo com esses três .
Fenelom
Bom dia, caro Paulo:
se o Guia-de-todos-os-povos transforma o PT no seu exdrúxulo espelho, os aprendizes daqui fazem pior: fazem do espelho a sua imagem, ainda mais medíocre que a do Guia.
Charles agora sabe disso. Eu, sem benevolência ou ironia, digo: bem vindo, Charles, os que queriam um estado forte e democrático te saúdam. Do lado de cá da fronteira. Fronteira que não tem bandeirinhas de partidos ou facções. Fronteira dos que queriam um Pará melhor. E agora vão continuar lutando por ele. Cada um na sua trincheira, mas todos do lado de cá.
Abração, Paulo.
Pois não!
Rssss
Parabéns pela precisão do comentário!
É uma vergonha o que estão tentando fazer com o Charles.
Ana Julia fazer reflexões?...
Ela só sabe mesmo é fazer reflexos, nos lindos cabelos.
Com aquela cabeleleira-aspone , paga com o nosso dindin.
Tudo seria tão verdadeiro se ele fizersse isso - ou parte - quando estava no governo. Mas não, sempre quis se aliar a Direitona. Ainda fica a sina: quando está por cima, nada!
Ahhh, coitadinho do Charles, até parece. Irresponsabilidade é levar parte de uma categoria de trabalhadores a uma aventura, uma greve política, apenas para tentar emparedar o governo. Lembrem, Charles foi chefe da casa civil deste mesmo governo.
O PT deve uma explicação aos seus eleitores sobre uma possivel expulsão do Charles. Os eleitores pagam nas urnas
Parabéns, Chales. Como sempre, cumprindo seu papel.
Acreditar que ele faria isso estando como Chefe da Casa Civil é devaneio. Achar que por ética estando pela situação seria lícito e idôneo é muita inocência. Ética, licitude, idoneidade são coisas que não existem, só para os inocentes é sonhadores.
Mas... Há males que vêm para o bem. Antes tarde do que nunca.
Parabéns Chales!
Prezado PB,
Vou dizer o que penso sem rodeios: quando um partido está na oposição, ele promete mais do que deveria para chegar ao poder; se o partido é de esquerda, como é (ou diz ser) o PT, costuma desfraldar a bandeira da igualdade, que, como sabemos, tem forte apelo popular.
Ocorre, todavia, que, ao chegar ao poder, o partido - qualquer partido - defronta-se com limites inescapáveis, como, por exemplo, a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), compromissos financeiros, limites orçamentários, etc.
O partido é, então, forçado, em face da responsabilidade que lhe cabe observar, a mudar o discurso, a tornar-se consequente e responsável.
Para a esquerda, trata-se de um tormento porque sempre se embalou na utopia das bandeiras igualitárias (mas não sabe dizer que igualdade exatamente defende, mas isto são outros quinhentos que não cabe aqui comentar) e, ao chegar lá, tem de enfrentar a dura realidade de ajustar seus projetos àqueles marcos ou limites estreitos dos recursos limitados.
E aí, PB, a esquerda padece - e muito! - porque preocupa-se pouco ou ignora completamente o que seja a eficiência e não consegue definir o que é prioritário para um governo que se pretende social e popular.
A idéia de distribuir bolsas (de todo o tipo, como estamos cansados de ver) não é em si má, embora me pareça que, dissociada de políticas públicas que levem o beneficiário a exercitar algum tipo de aptidão ou talento visando sua autonomia futura, não tem tido o condão de alterar a realidade social dos mais pobres ou miseráveis.
Tanto é assim, PB, que a violência urbana não diminui, antes cresce, e a qualidade da mão-de-obra também não se eleva, o que prejudica o desenvolvimento econômico e social de nosso país.
Então, para mim, é este o dilema da esquerda, melhor dizendo, do PT: a distribuição de bolsas só tem finalidade eleitoreira, pois elas, as bolsas, não modificaram a realidade social dos seus beneficiários e não há uma única idéia consistente que lhe sirva de alternativa.
Como a eficiência é desprezada pela esquerda, todo o resto fica em segundo plano, a despeito das promessas não realizadas de um PAC que, até agora, não saiu do papel.
Isso tem tudo a ver com o caso Charles Alcântara - quando estava no governo, por força do cargo que ocupava, comportava-se com discrição, moderação e pragmatismo.
O cargo lhe impunha tal comportamento.
Ao deixar o governo, melhor dizendo, o cargo de relevo que ocupava, voltou à "oposição", ou seja, voltou a empunhar as bandeiras antigas, como, por exemplo, melhores salários, etc, tudo temperado talvez pelo secreto desejo de mostrar ao governo que este se equivocou ao descartar um quadro supostamente bom e competente.
Num mundo de recursos limitados, governar traz, inevitavelmente, desgastes. É preciso fazer escolhas sobre como gastar os recursos e, claro está, as escolhas feitas nem sempre são (ou têm sido) as melhores.
No caso do Charles Alcântara, lamentei profundamente quando ele encerrou o seu blog porque as análises que fazia eram acuradas e inteligentes.
De repente, ele silenciou, deixando a impressão de que fora pressionado e, não querendo ainda deixar o PT, cedera.
Penso que ele serviria muito mais à opinião pública se voltasse a dividir suas análises criticas conosco. Mas, para isso, ele precisaria, como disse a Bia com evidente acerto, se libertar dos seus compromissos partidários, o que é difícil para quem é de esquerda, admito.
Mas o Charles intelectual, insisto, é mais útil à sociedade do que o Charles pendular que ora está na "situação", ora está na "oposição" do governo do PT estadual.
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