quarta-feira, 11 de março de 2009

Crise bate mais forte no país e PIB cai 3,6%

Na FOLHA DE S.PAULO:

A divulgação da forte retração da economia brasileira no último trimestre de 2008, de 3,6% na comparação com o trimestre anterior, fez ruir o discurso oficial segundo o qual o Brasil seria um dos países menos afetados pela crise econômica global.
Se considerado apenas o período de outubro a dezembro, a reviravolta sofrida pelo país foi uma das mais agudas do planeta. Levantamento feito pela Folha com 37 países aponta que apenas 5 -Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Indonésia e Estônia- afundaram tão ou mais rapidamente que o Brasil na onda recessiva detonada a partir de setembro.
"Eu estou convencido de que o Brasil sofrerá menos do que qualquer outro país a crise econômica surgida nos Estados Unidos", dizia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 10 de outubro. Em dezembro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) ainda dizia esperar um crescimento "em torno de 3% a 3,5%" no último trimestre, na comparação com o mesmo período de 2007 -a taxa, porém, não passou de 1,3%, em uma economia que até então crescia a um ritmo de 6,8%.
Esse ritmo vigoroso da economia brasileira pré-crise ajuda a explicar por que o PIB aqui teve retração mais forte que nas outras grandes economias. Enquanto a expansão ganhava ritmo no país, com alta do PIB em 12 trimestres consecutivos, os EUA, por exemplo, já viviam recessão desde dezembro de 2007. A parada aqui, por causa do ritmo mais intenso, acabou sendo mais forte também.
E o fato de o Brasil ter sofrido uma retração maior do que nos outros países no último trimestre do ano não significa que a crise aqui seja maior. América do Norte, Europa e Ásia registram já recessão em vários países importantes, com previsões mais pessimistas do que as feitas para o Brasil.
O PIB de parte da economia mundial, especialmente o dos países mais ricos, começou a se contrair já no segundo trimestre de 2008, o que reduziu o impacto da queda nos últimos três meses, mas o tombo brasileiro é quase sem precedentes.
O Japão, por exemplo, que foi o desenvolvido mais afetado no período, registrou um recuo de 3,3%, o pior resultado em 34 anos da segunda maior economia mundial.
Mesmo na América Latina, onde o Brasil costuma ser visto com mais otimismo que seus vizinhos, nenhum dos países que já divulgaram os dados do PIB do quarto trimestre teve resultado pior. A Argentina divulgou uma contração de 0,3%, o que permitiu um crescimento econômico de 7% no ano.
O México, apontado por analistas como o país em pior situação, por causa da queda das exportações para os EUA e das remessas dos migrantes naquele país, os principais motores da sua economia, sofreu um retração de 2,7%. É verdade, porém, que a economia mexicana já vinha em trajetória de estagnação, com expansão de apenas 1,3% no ano.
Na Venezuela de Hugo Chávez, que propagandeia o crescimento em meio à crise com veemência superior à brasileira, o banco central divulgou em caráter preliminar uma espantosa expansão de 7,5% no fim do ano passado.
Apesar disso, os 4,8% acumulados no ano inteiro ficaram abaixo do resultado brasileiro, de 5,1% de expansão ao longo de 2008.
A comparação com Rússia, Índia e China, que com o Brasil formam o acrônimo Bric (reunindo os quatro gigantes emergentes), não pode ser feita porque eles não fazem a relação de trimestre ante trimestre anterior.
Já pelas estimativas do FMI, o desempenho do Brasil neste ano não será melhor do que o dos emergentes em geral: espera-se, para o país, um crescimento de 1,8%, ante 3,3% para o conjunto das economias em desenvolvimento.

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