O ex-vereador Raul Meireles, atual assessor do governo Duciomar Costa, assina artigo intitulado “O bode, o governo e o PMDB”.
Foi publicado na edição de ontem, de O LIBERAL (está aí, na imagem acima. Clique para ampliá-la).
Meireles, compadre da governadora Ana Júlia, fala mal do governo da comadre.
Diz coisas assim, comentando a postura atabalhoada do Palácio dos Despachos nas negociações para a eleição da Mesa da Assembléia:
“O governo ‘tem uma Ferrari parada na garagem’ e parece que ninguém, entre seus quadros, sabe pilotar. Precisa aprender a exercer o poder que tem nas mãos. Precisa perder o medo de agir com independência em relação ao PMDB e não adianta usar como desculpa que cumpre os acordos que faz, até porque, para terem validade, devem pressupor reciprocidade, palavra que, no dicionário do PMDB, não existe.”
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Leia abaixo.
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O bode, o governo e o PMDB
Uma vez mais o governo do Estado é derrotado na Assembléia. A primeira, quando tentou emplacar o Mário Cardoso como conselheiro do TCM e deu Zeca Araújo. A segunda, quando apoiou o deputado Luiz Cunha para o mesmo tribunal e deu Cezar Colares. Agora, a terceira, no caso da Mesa. O mais interessante é que em todos esses episódios o governo foi derrotado com a intervenção decisiva do seu principal aliado (sic), o PMDB. Esta última, por sua importância política e pelo que ela tem de reveladora, precisa ser examinada com mais cautela.
De um lado, soa no mínimo estranho que toda essa polêmica tenha girado em torno da disputa do cargo de primeiro vice-presidente da Assembléia entregue pelo PMDB ao PSDB, como subproduto do acordo Jáder/Jatene que vem sendo costurado por ambos, tendo em vista 2010. De outro, porque o pedido formulado pela governadora para tirar o PSDB da primeira vice era tão insignificante pra merecer do seu principal aliado, o PMDB, tamanha resistência, só tendo sido aceito depois que o deputado Domingos Juvenil já estava garantido na presidência. Mas, então, o que há por trás de tudo isso? Na verdade, o PMDB usou um velho e manjado truque político: colocou um "bode sala" e tanto o PT quanto o governo "caíram como um patinho". Dito de outro modo, o PMDB criou um factóide, uma falsa divergência política, deslocando o centro da disputa para um cargo insignificante, usando como "boi de piranha" o deputado Ítalo Mácola, tomado de empréstimo do PSDB, enquanto elegia, sem risco, o seu candidato a presidente porque sabia que se alguma turbulência, fora do seu controle, empurrasse o governo para a disputa da presidência, com uma candidatura alternativa, o PMDB poderia sair derrotado. Eleito o seu candidato a presidente, o "bode foi retirado da sala", o status quo mantido e parece que todos ficaram felizes e se auto-proclamaram vitoriosos. O PMDB, tudo bem ... O PSDB, vá lá que seja, ganhou um cargo na mesa. Agora, o governo e o PT ganharam o quê?
Para mim é lamentável ter que admitir essas coisas, pois apoio, defendo e torço para que a atual gestão do governo da Estado seja exitosa, mas nesse episódio da Assembléia o governo e o PT cumpriram o "ritual do subalterno" em relação ao PMDB, sem esquecer uma só passagem da "liturgia submissão", que inclui a necessária reunião com o presidente da legenda, que ocorre sempre quando o confronto parece inevitável, na qual é feito o pedido para que ele intervenha no sentido de resolver a crise, nesse caso gerada por um factóide criado por ele próprio. Portanto, uma situação virtual, criada com o único objetivo de armar um palco privilegiado para o PMDB encenar mais um espetáculo de demonstração de força, demarcando seu território, se afirmando definitivamente como a única referência que deve ser seguida quando o assunto envolve a Assembléia. Vale dizer, descredenciando o governo e aprofundando, ainda mais, o nível de dependência deste em relação àquele, e ainda criando uma situação de constrangimento desnecessário à imagem pública da governadora. Logo, o recado dado pelo PMDB foi o mesmo de sempre: "aqui quem manda sou eu".
O governo "tem uma Ferrari parada na garagem" e parece que ninguém, entre seus quadros, sabe pilotar. Precisa aprender a exercer o poder que tem nas mãos. Precisa perder o medo de agir com independência em relação ao PMDB e não adianta usar como desculpa que cumpre os acordos que faz, até porque, para terem validade, devem pressupor reciprocidade, palavra que, no dicionário do PMDB, não existe.
O day after de todo esse episódio bem que poderia ser um Diário Oficial recheado de exonerações dos representantes do PMDB que ocupam cargos de confiança no governo. Se fizesse isso, o governo estaria apenas dando troco à altura do constrangimento desnecessário imposto pelo PMDB à imagem da governadora, numa demonstração inequívoca de desrespeito e quebra da confiança. No entanto, ao que parece, essa atitude não acontecerá e dormitará nos gabinetes palacianos, até que uma nova crise, real ou fabricada, se abata sobre a relação política governo do Estado/PMDB que, de resto, todos sabem, tem a ruptura anunciada, só não se sabe ainda quando se concretizará. Espero que não seja tarde demais.
raulmeireles@oi.com.br
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