terça-feira, 18 de março de 2008

Socorro a banco dos Estados Unidos assusta mercado

Na FOLHA DE S.PAULO:

Os mercados globais tiveram ontem um novo dia de forte pessimismo. Dessa vez, as perdas foram motivadas pela desconfiança provocada pela ação agressiva do Federal Reserve [BC dos EUA] de adotar, em pleno domingo, medidas de socorro ao sistema financeiro.
O Fed costurou a venda do Bear Stearns, que já foi o quinto maior banco de investimento americano, por um valor irrisório, abriu uma linha emergencial de crédito direto para bancos em dificuldades e ainda reduziu o juro dessas operações, a chamada taxa de redesconto.
Na visão do mercado, as iniciativas do Fed mais assustaram do que acalmaram os investidores, sugerindo que outras instituições enfrentam problemas semelhantes. Motivou ainda o mercado a pedir uma redução agressiva nos juros -pela primeira vez, falou-se em corte de até um ponto percentual, levando a taxa de 3% para 2%. A decisão sai hoje.
Com o desastre provocado, o presidente George W. Bush teve de convocar um "comitê de crise" para discutir as próximas ações, com a participação do secretário do Tesouro, Henry Paulson, o presidente do Fed, Ben Bernanke, o presidente da SEC (CVM americana), Christopher Cox, e Walter Luken, interino na supervisão dos negócios com futuros e commodities. Os bancos centrais britânico, japonês e australiano injetaram dinheiro para dar liquidez para os bancos honrarem eventuais pedidos de resgate.
As medidas adotadas pelo Fed levaram a uma das maiores corridas no ano para venda de ações, moedas, papéis de dívida e commodities. O resultado foi uma queda generalizada das Bolsas globais -incluindo o Brasil, que até a semana passada mantinha algum "descolamento" do pessimismo internacional. A Bovespa terminou o dia com baixa de 3,19%.
Nem as commodities escaparam das baixas, como o petróleo, que na sexta alçou o recorde de US$ 110,21 o barril. Ontem, recuou 4% e voltou a US$ 105,88 com a perspectiva de queda no consumo. O dólar americano recuou 2,25% em relação ao iene e bateu na menor cotação em 12 anos.
A Bolsa de Nova York teve perdas de 0,9% no índice S&P 500, que mede o desempenho de 500 ações americanas. O índice Dow Jones -termômetro de só 30 empresas- subiu 0,18%, mas a alta foi consequência da valorização de 10,32% das ações do JPMorgan, agente do socorro ao Bear Stearns, e que terá de injetar US$ 6 bilhões no banco. O mercado viu uma oportunidade única para o JPMorgan de levar uma carteira importante de clientes e uma posição privilegiada em Wall Street.
Demais bancos tiveram perdas expressivas, inclusive na Europa e na Ásia. Os papéis do Citigroup recuaram 5,86%, e os do Lehman Brothers, 19,13%. Com atuação parecida com o Bear Stearns, o Lehman é apontado como o próximo a assumir perdas consideráveis. A Bolsa de Londres caiu 3,86%, e a de Frankfurt, 4,18%. Em Tóquio, a baixa foi de 3,71%.
"Há crises conjunturais como as que estamos vivendo que vão durar bastante e ter graves conseqüências", afirmou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn.
"Não foi o Fed quem perdeu o controle do mercado, mas foi o mercado que perdeu o controle de si próprio. Nenhuma técnica de avaliação de risco sobreviveu ilesa. Todas fracassaram. A crise atingiu um dos mais importantes mercados de crédito do mundo e por isso deve ser profunda e duradoura. Essas perdas são sempre subdimensionadas", disse Marcio Holland, economista da FGV.
Na corrida por investimentos seguros de curto prazo, os títulos de três meses do governo americano viram seu retorno desabar para menos de 1% ao ano, chegando a 0,652%, o menor desde maio de 1958.

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