segunda-feira, 24 de março de 2008

PMs pagam para trabalhar na região de Tailândia

As diárias estão atrasadas. Muitos deles se vêem expostos à humilhação de pedir ajuda a colegas para matar a fome.


Cresce a insatisfação entre os integrantes do contingente de policiais militares que está afastados há várias semanas de Belém, participando na região de Tailândia da força-tarefa que combate o desmatamento, a chamada Operação Arco de Fogo.
As diárias, que deveriam ser pagas antecipadamente para que o militar possa arcar com suas despesas longe de casa, têm sido pagas com atraso. Aliás, com bastante atraso. Os PMs saem de Belém sem um tostão no bolso, principalmente no meio do mês, quando o soldo que recebem já acabou há muito tempo.
A situação concreta de um oficial é emblemática e traduz, na medida e perfeição exatas, o que tem acontecido com dezenas de outros oficiais que distantes de suas famílias.
Um dos destacados para viajar à região de Tailândia, o oficial não recebeu as diárias antecipadamente e teve que pagar do próprio bolso os custos do deslocamento. Quando chegou ao município, teve que arrumar local para ficar e pagar sua própria alimentação. Tradução: pagou para trabalhar. Foi obrigado a reservar parte do próprio soldo para garantir a ordem pública.
O oficial ganha pouco mais de R$ 2 mil. Por sorte, sua família tem certa independência financeira. Por isso é que ele consegue se manter por lá. Os atropelos que enfrenta, todavia, são menores do que os enfrentados por vários outros colegas.
Soldados que têm mulher e filhos e vivem exclusivamente do soldo que recebem passam por privações. Alguns tiveram dificuldades para comprar refeições. Se não contassem com a generosidade dos colegas em condições menos piores, teriam passado fome, uma vez que não têm outra alternativa financeira para garantir o sustento de suas famílias em Belém senão com o salário que ganham.
No último final de semana, pouco antes do feriadão, o oficial da PM cujo relato pormenorizado o blog recebeu continuava com sua conta bancária zeradíssima: nenhum tostão de diária. É uma situação difícil, a que esses militares estão submetidos, porque a polícia não tem alojamento e muito menos alimentação para fornecer aos PMs que se encontra na região de Tailândia.

Funções típicas de Estado
Policiais militares – e de um modo geral os integrantes de forças de segurança – exercem funções típicas de Estado. E nessa condição é que o Poder Público precisa garantir-lhes inteiras condições para que desenvolvam suas atribuições com um mínimo de tranqüilidade. Do contrário, não terão a serenidade necessária para desincumbir-se de tarefas estressantes, como aquelas a que são submetidos os policiais – tanto civis quanto os militares.
No caso desses PMs que estão em Tailândia, além das privações que enfrentam, devem ser considerados os riscos a que estão expostos e as pressões de seus familiares – pais, mães, filhos, esposas e companheiras -, todos passando por carências afetivas, em decorrência da distância e do tempo prolongado em que se encontram em área afastada de Belém, e por carências financeiras.
Numa situação dessas, como buscar a necessária tranqüilidade para trabalhar? E a quem e como desabafar, uma vez que os militares, para não ferir regramentos disciplinares, vêem-se impedidos de botar a boca no trombone para reclamar de situação que os afeta diretamente e a seus familiares?
O governo do Estado e o Comando-Geral da Polícia Migilitar do Estado precisam, urgentemente, corrigir essa situação. Se o fizerem, não estarão atendendo ao preceito legal básico de que ninguém pode trabalhar de graça – a não ser relógio. E além disso, configura situação afrontosa um policial militar ser obrigado a meter a mão no próprio bolso para trabalhar.
Onde já se viu?

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6 comentários:

Anônimo disse...

Paulo, realmente você retratou a periclitante situação dos PM'S não só em Tailândia, pois que se aplica a todos que hoje estão deslocados de suas bases para vários Municípios do Pará...O interessante é que a Lei Estadual nº. 5.119/84 dispõe:
"Art. 1º- Diárias são indenizações destinadas a atender às despesas extraordinárias- de alimentação e pousada e são devidas aos policiais militares durante seu afastamento de sua sede por motivo de serviço ou para a realização de cursos e estágiosde interesse da Polícia Militar do Estado.
§ 1º. As diárias compreendem a Diária de Alimentação e a Diária de Pousada.
§ 2º- Diária de Alimentação é devida, inclusive nos dias de partida e de chegada."
No parágrafo 2º especialmente se nota que ela é devida inclusive nos dias de partida e chegada, ou seja, o policial militar já deve dispor dela no dia de partida, obviamente...
Neste pass Paulo, é bom que se faça uma pergunta que quem sabe algum dos seus inúmeros leitores possa responder: Tomando por base que a governadora, seus secretários, o comandante geral da PM entre outras autoridades RECEBEM REGULAR E ANTECIPADAMENTE AS DIÁRIAS A QUEM FAZEM JUS PARA EXERCER SUAS FUNÇÕES EM OUTROS LOCAIS QUE NÃO EM SUA SEDE, PORQUE OS MILITARES POSSUEM UM TRATAMENTO DIFERENCIADO E HUMILHANTE?????
Será que a profissão "policial militar" é menos importante que a de Governador do Estado ou Comandante Geral da Polícia? Obviamente que na teoria não, mas na prática há um grande abismo entre estes e àqueles, como é uma colméia ou em um formigueiro, ocorre que os PM'S como você bem definiu Paulo,são seres humanos, ainda que alguns duvidem disso e como humanos, a maioria possui família, sentimentos, contas a pagar e como você bem descreveu, não bastasse a distâncias em feriados, datas comemorativas, reuniões de família, ainda se expõe a toda sorte de acontecimentos ensejados pela falta do dinheiro, ou melhor pelo pagamento de seu próprio trabalho, UMA INVERSÃO DE VALORES SOCIAIS, pois que em uma sociedade civilizada se trabalha em busca de uma remuneração, de sustento e não do empobrecimento hoje imposto à Polícia Militar pelo Governo do Pará...
É muito bom saber que existem pessoas inteligentes como você Paulo que não se calam diante dessas injustiças que degradam a sociedade.
Parabéns!

Anônimo disse...

Parabéns pela escolha do tema Paulo, sou irmã de um militar de 27 anos, cabo da PM, que hoje está deslocado para o interior do Pará há mais de 20 dias, tendo passado por diversos Municípios, e ainda não recebeu qualquer diária ou ajuda de custo para se manter...Estamos aqui em Belém preocupados com a situação dele e ele com a situação em que deixou a família, pois sua esposa con traiu dengue foi ao HPM e não pode ser atendida, pois não havia médico de plantão e a urgência estava lotada, não tem dinheiro para procurar uma clínica particular, aliás hoje ela não tem dinheiro sequer para os medicamentos que está tomando, quem está comprando estes medicamentos sou eu e outro irmão, além de já ter feito dois supermercados para a casa dele, uma vez que o dinheiro do salário dele acabou no início do mês e ele tem filhos, meus sobrinhos e não podemos deixar as crianças morrerem de fome...
Aos militares que compõe o pilotão dele, foi oferecido ajuda na alimentação e alojamento por parte de alguns comerciantes e fazendeiros da Região em que se encontram, ocorre que eles não pudem recebê-la sob pena de serem alvos de processos, como se sabe, o jeito é quase morrerem de fome e acampar no mato até que um filho de Deus resolva pagar as diárias ou até receber seu próximo salário que terá que dividir entre suas despesas com o seu trabalho, e as despesas para a manutenção de sua família...
Depois querem cobrar a Segurança Pública, querem combater o famoso "bico" e pior, querem que os militares, através de pressões e perseguições internas que ocorrerm dentro da Tropa, confirmem que tudo está às mil maravilhas...
P.S: Desabafo de uma irmã revoltada com O TRABALHO ESCRAVO DE SEU IRMÃO!
Vânia

Anônimo disse...

Ei gente, tenho uma péssima notícia para dar aos leitores, sou vizinho do Comandante Geral e pelo visto ele não está nem um pouco preocupado com a situação dos PM'S da coorporação que hoje ele comanda...o tratamento para quem observa, conclui que é de rei...resta saber se ele agum dia se importará com seus súditos!
Tenho dito...

Anônimo disse...

Quero informar que as diárias não estão em minha conta, não as apliquei em qualquer fundo de investimento, portanto proponho fazermos uma campanha: QUAL O CAMINHO PERCORRIDO PELAS DIÁRIAS PAGAS À POLÍCIA? POR ONDE PASSAM ANTES DE CHEGAR AO BOLSO DOS PMS? SE VC FOSSE PM, PAGARIA PARA TRABALHAR OU QUAL SOLUÇÃO DARIA PARA A FALTA DE DIÁRIAS? Quem souber, por favor me responda, pois eu não sei, mas tenho uma leve desconfiança...Aceito sugestões de onde devemos começar a procurar...
Altevir Rodrigues

Poster disse...

Os comentários de vocês são dos mais relevantes.
Vou postá-los amanhã, terça, na ribalta.
Abs.

Anônimo disse...

Este é apenas a ponta do iceberg, as diárias não pagas ainda revelam a incompetência geral do atual comandante da PMPA, que recebe mimos e presentes em explícita troca de favores entre as partes, partes internacorporis e externacorporis, de afilhados a fornecedores. Uma pena que o governo nãos e manifeste publicamente acerca deste fato tão antisocial tão desumano para uma categoria tão sacrificada.