quinta-feira, 13 de outubro de 2022

"Nós nos sentimos traídos", diz eleitor de Jatene sobre o apoio do ex-governador ao bufão dos trópicos

Eleitores do Espaço Aberto, entre ex-filiados ao PSDB (ou ao ex-PSDB, um partido que já foi), meros simpatizantes do tucanato ou mesmo antipetistas (sim, até antipetistas) reagiram entre a surpresa, a revolta e a estupefação ao anúncio do ex-governador tucano Simão Jatene, de que vai apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial, marcado para o dia 30 deste mês.

Após a publicação, no início da noite da última terça-feira (11), do comentário intitulado Jatene anuncia apoio a Bolsonaro. Nunca Jatene foi tão pouco Jatene, dezenas de leitores, por WhatsApp, e-mail ou telefonemas, entraram em contato com o blog, compartilhando opiniões críticas à postura do ex-governador e procurando entender os porquês da opção dele.

Entre esses leitores, vários testemunharam sentir na pele o mesmo que Jatene sentiu: os efeitos violentos da postura radical de alas do PT e do lulismo, que lhes causaram gravames pessoais, seja no âmbito profissional, seja em suas esferas privadas de vida. Mas nem por isso jamais sequer cogitaram em apoiar o atual presidente.

"Não foi só ele" - "Não foi apenas o Jatene quem se viu 'perseguido', 'injustiçado', atacado ou alvo das virulências do PT. Além dele, vários de nós, que por imposições profissionais ou não estivemos alinhados ao PSDB, sofremos igualmente isso. Mas hoje, contrariamente ao Jatene, estamos certos de que precisamos cerrar fileiras junto ao campo democrático, junto a todos aqueles que pretendem preservar a democracia. E para fazer isso, precisamos nos opor a Bolsonaro. Não há outra alternativa", afirmou ao blog um leitor que preferiu não se identificar.

"O que leva uma pessoa como Jatene, que, além de inteligente, tem uma história de apreço à democracia e já ocupou cargos públicos de relevo, a posicionar-se ao lado de uma figura repugnante, de perfil assustadoramente fascista como Bolsonaro? Os sentimentos pessoais, as mágoas maldisfarçadas de Jatene, sua revolta (justa, admitamos) contra a devassa que sofreu e ainda sofre da família Barbalho, tudo isso seria suficiente para justificar a opção dele? Com todo o respeito às preferências do ex-governador, mas nos sentimos traídos nesta hora", desabafa outro leitor, que votou em Jatene nas três vezes em que ele foi eleito governador.

A propósito do anúncio de Jatene, um leitor do Espaço Aberto envia um artigo dos mais oportunos que Oliver Stuenkel assinou no jornal El País em outubro de 2018, ou seja, há exatos quatro anos, pouco antes do segundo turno eleitoral que selaria a vitória de Bolsonaro.

Os bufões e os genocídios - Alemão e pesquisador de relações internacionais e mestre em Políticas Públicas, Stuenkel traça, no artigo Por que votamos em Hitler, um painel da Alemanha no período que precedeu a Segunda Guerra Mundial e favoreceu e ascensão do nazismo.

Mas não apenas isso: ele revela as chocantes semelhanças entre os expoentes do nazismo e Bolsonaro, entre a banalização com que segmentos expressivos da sociedade alemã tratavam Hitler e a banalização com que segmentos expressivos da sociedade brasileira tratam Bolsonaro, tido por muitos como apenas um excêntrico, como aquele tiozão que chega ao churrasco de sandálias nos pés, contando piadas sem graça (homofóbicas e misóginas, inclusive) e achando que está se achando.

Pois o bufão, como anota Stuenkel, exterminou seis milhões de judeus e levou o mundo a um conflito armado que matou de 50 milhões. E Bolsonaro, o nosso bufão? Um de seus feitos foi ter contribuído, concretamente e planejadamente, para a morte de milhares de brasileiros vítimas da Covid-19. E ainda se permitiu debochar dos que agonizavam. Mas isso, vocês sabem, é só porque o cara é um brincalhão, é povão, não é? Pois é.

Leiam, abaixo, a íntegra do artigo de Oliver Stuenkel. Se preferirem, podem ler também clicando aqui.

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Por que votamos em Hitler

Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério. Ele era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays, elites progressistas, imigrantes, a mídia e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas. Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova força política dominante no país. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo. Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?

Em primeiro lugar, os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época. A jovem democracia não trouxera os benefícios que muitos esperavam. Muitos sentiam raiva das elites tradicionais, cujas políticas tinham causado a pior crise econômica na história do país. Buscava-se um novo rosto. Um anti-político promoveria mudanças de verdade. Muitos dos eleitores de Hitler ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos estabelecidos não pareciam oferecer boas alternativas.

Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos. Contrastando o discurso burocrático da maioria dos outros políticos, Hitler usava um linguajar simples, espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo. Hitler era politicamente incorreto de propósito, o que o tornava mais autêntico aos olhos dos eleitores. Cada discurso era um espetáculo. Diferentemente dos outros políticos, ele foi recebido com aplausos de pé onde quer que fosse, empolgando as multidões. Como escreveu em seu livro "Minha Luta":

Toda propaganda deve ser apresentada em uma forma popular (...), não estar acima das cabeças dos menos intelectuais daqueles a quem é dirigida. (...) A arte da propaganda consiste precisamente em poder despertar a imaginação do público através de um apelo aos seus sentimentos.

Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade. Os conservadores sonhavam com restabelecer a antiga ordem. Os conselheiros de Hitler eram todos homens heterossexuais brancos. As mulheres, ele argumentou, deveriam se limitar a administrar a casa e ter filhos. Homens inseguros podiam, de vez em quando, quebrar vitrines de lojas, cujos donos eram judeus, para reafirmarem sua masculinidade.

Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos -, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas. Muitos alemães que tinham amigos gays ou judeus votaram em Hitler, confiantes de que ele nunca implementaria suas promessas. Simplista, inexperiente e muitas vezes tão esdrúxulo, que até mesmo seus concorrentes riam dele, Hitler poderia ser controlado por conselheiros mais experientes, ou ele logo deixaria a política. Afinal, ele precisava de partidos tradicionais para governar.

Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência e aumentando as sentenças de prisão. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas. Os judeus - que representavam menos de 1% da população total - eram o bode expiatório favorito. Os alemães "verdadeiros" não deviam se culpar por nada. Tudo foi embalado em slogans fáceis de lembrar: "Alemanha acima de tudo", "Renascimento da Alemanha", "Um povo, uma nação, um líder."

Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler porque ele prometeu -- e implementou -- um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler.

Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas.

Doze anos depois, com seis milhões de judeus exterminados e mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães que votaram em Hitler disseram a si mesmos que não tinham ideia de que ele traria tanta miséria ao mundo. “Se soubesse que ele mataria pessoas ou invadiria outros países, eu nunca teria votado nele ”, contou-me um amigo da minha família. “Mas como você pode dizer isso, considerando que Hitler falou publicamente de enforcar criminosos judeus durante a campanha?”, perguntei. “Eu achava que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro”, minha avó, cujo irmão morreu na guerra, responderia.

De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã.

Hitler não chegou ao poder porque todos os alemães eram nazistas ou anti-semitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.

2 comentários:

Paulo André Nassar disse...

Até a Izabela jatene tá com o Lula. E o pai passando esse vergonha no crédito e no débito. Só mostra o tamanho ridículo que restou ao psbd. Nunca foram um partido. Eram apenas a alternativa viável ao antipetismo no estado e no braisl . Que descansaem em paz

Anônimo disse...

O sentimento de traição de Jatene deve ser recíproco com relação ao partido que ele ajudou a fundar, mas lhe cravou um punhal nas costas votando a favor de sua inelegibilidade por 30 moedas de Prata.