segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Dos 58,2 milhões que votaram em Bolsonaro, bem-vindos os que não são e nunca foram bolsonaristas

Um apoiador de Bolsonaro: se ele for, digamos, um "conservador militante", ótimo.
Se ele for um bolsonarista fanático, aí teremos que chamar Alexandre de Moraes.
Uma coisa é o conservadorismo, outra coisa é o bolsonarismo.
Uma coisa é o conservador - inclusive, é claro, aquele que votou em Bolsonaro -, outra é o bolsonarista.
Reputo importantíssimo fazer uma diferença entre esse dois espectros após o resultado das urnas, de onde brotaram, neste domingo (30), nada menos que 58,2 milhões de votos para Bolsonaro.
Quer dizer, então, que teremos 58,2 milhões nos calcanhares de Lula, tentando golpeá-lo com todos os golpes, sobretudo os que têm como alvo regiões abaixo da cintura?
Não acredito. Não mesmo!
Dos 58,2 mihões de votantes em Bolsonaro, a esmagadora maioria é de conservadores que viram no elemento alguma qualidade que o identifica com o conservadorismo.
Esse conservador é aquele que preza as teses do neoliberalismo, faz de tudo para preservar a democracia e não cede ao fanatismo diante de pautas de constumes.
É aquele que jamais pensariam num golpe, ao contrário, por exemplo, de um Eduardo Bolsonaro e suas ilusões de fechar o Supremo com um cabo e um soldado.
O conservador é aquele não se compraz de ver uma pessoa debochando de pacientes agonizantes, como fez Jair Bolsonaro durante a pandemia.
É aquele que não nega a ciência, que respeita a diversidade em todos os sentidos, ainda que não concorde com elas.
É aquele que jamais apoiaria a tortura (como fez Jair Bolsonaro) e tem na democracia "o pior regime que existe, à exceção de todos os outros", como diria Churchill.
O bolsonarista, esse não.
O bolsonarista é o fanático. Sendo fanático, é igual a Bolsonaro.
O bolsonarista é aquele idiota que inunda o seu Zap com mensagens imbecis, como as que estão sendo veiculadas agora, "prenunciando" que, após a vitória de Lula, os comunistas, de martelo e foice na mão, vão invadir tua casa ou as instalações de tua empresa e depois vão comer criancinhas vivas.
O bolsonarista de raiz é o idiota que te manda vídeos alertando que, com a vitória de Lula, amanhã as drogas estarão liberadas em todo o País e os traficantes passarão a fundar clubes de comadres na porta da tua casa.
O bolsonarista é aquele palerma que manda vídeos com mensagens indicando que daqui a dois meses, quando tu acordares, todos os hospitais do País estarão de portas abertas para mulheres que pretendem abortar.
Com um conservador, você senta numa mesa de bar, vai a um restaurante e fica lá, conversando horas e horas sobre teses divergentes em relação às suas. De boa! Sem tons apocalípticos e sem pretender excluir os que pensam diferentes dele.
Com um bolsonarista fanático, você não consegue superar cinco minutos de conversa, porque ele tem uma visão apocalíptica, maniqueísta e hipócrita do mundo.
Bem-vindo à arena democrática, portanto, à esmagadora maioria dos que democraticamente votaram em Bolsonaro, mas não são, nem de perto, iguais a ele, um elemento pessoalmente repulsivo.
Quanto aos fanáticos bolsonaristas, esses não passam de párias. Eles não passam de uma uma negação - da serenidade, da moderação e do respeito aos ideais democráticos.
É nesse sentido que não vejo como um "risco" o fato de o Brasil estar dividido, porque a contradição e a diversidade são ótimas.
O "risco" mesmo é que os bolsonaristas fanáticos (desculpem a redundância) se sobreponham aos demais.
Quem pode atrapalhar o governo Lula não são os 58,2 milhões que votaram em Bolsonaro.
São os bolsonaristas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Isso é que dá deixar preso votar, fizeram toda a diferença.