Cena da retirada de Dunquerque: aprenda com a História, Pazuello! |
A saída do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde marca uma efeméride na história do Brasil.
Em cinco séculos de história, ele foi o pior, o mais incompetente, o mais biruta, ridículo e desnorteado ministro da Saúde que o Brasil já teve.
Como ministro, Pazuello virou meme, piada, chiste, bazófia.
Como ministro, Pazuello também virou a voz do desgoverno.
Um desgoverno que levou, por exemplo, a cenas desesperadoras de pessoas morrendo por falta de oxigêncio em Manaus, tragédia que ensejou o Supremo Tribunal Federal a autorizar a abertura de uma investigação que pode resultar na responsabilização - penal e civil - de Pazuello e de quem, com ele, eventualmente tenha concorrido com ações ou omissões para os horrores que todos vimos.
Pazuello deixou o governo esgrimindo - por voz própria ou pela voz de alguns de seus ex-assessores - números e fatos (hehehe) que indicariam ter sido ele quase um herói da pandemia.
Lendo ou ouvindo essas baboseiras, tem-se a impressão de que Pazuello foi o valente e destemido soldado que lutou sozinho contra a pandemia. E venceu-a!
É cômico, não fosse trágico!
Biografias tisnadas - Eduardo Pazuello, ao que se sabe, é um militar que se mostrou, em sua trajetória na caserna, competente, dedicado e, segundo se diz, especialista em logística.
Não se pode - e nem se deve - duvidar dos méritos do militar Eduardo Pazuello.
Como ministro da Saúde, todavia, ele foi uma tragédia. E acabou tisnando sua biografia - como ministro e como militar. Tisnou-a duplamente, portanto.
Por que assumiu o risco de tisnar sua biografia, aceitando o encargo de encarar uma tarefa para a qual - viu-se logo desde seus primeiros dias no Ministério da Saúde - não estava preparado?
Porque o Pazuello ministro resolveu incorporar e agir como o Pazuello general.
O que para um cidadão civil é um encargo, um dever, uma atribuição, para um militar é uma missão. E poucos militares em missão conseguem intuir o seguinte: recuar da missão, desistir da missão pode ser também, dentro um determinado contexto, dentro de uma determinada circunstância, um ato de inteligência, de patriotismo. E pode representar, não raro, a preservação da vida. Ou de vida. Milhares, milhões de vidas.
Em suas alocuções, Pazuello invariavelmente usava o jargão, os conceitos e os princípios militares - inclusive os aplicados nas guerras - para compará-los às suas atribuições, aos seus fazeres e afazeres como ministro.
Pena que as referências de Pazuello em relação a estratégias de guerras limitem-se apenas aos velhos conceitos do nunca desistir, jamais desistir, sempre persistir na missão.
Leia, Pazuello, leia! E veja como você foi muito melhor que Churchill. Sóquinão! |
E que trágico acabou sendo o Pazuello ministro acreditar nisso.
Remember Churchill - Pazuello, acho, deve conhecer Churchill.
Se ainda não o conhece, indico-lhe, por exemplo, O Esplêndido e o Vil, livro que acabei de ler há uns dois meses e que, sem dúvida, é a obras mais impressionante, comovente, humana e ao mesmo tempo heroica de quantas já li (e foram várias, devo dizer) sobre o homem que liderou a Grã-Bretanha e ajudou a conduzir o mundo na vitória contra o nazismo.
Qual foi um dos grandes momentos de Churchill? Foi, como todos sabem - não sei se Pazuello sabe - A Retirada de Dunquerque.
O que foi a A Retirada de Dunquerque? Todos sabem - não sei se Pazuello sabe: foi uma desistência, um recuo, uma volta para trás, foi descontinuar a missão, interrrompê-la, suspendê-la.
Não fosse isso, as forças britânicas teriam sido dizimadas.
Depois do recuo, e para instilar ânimo em seus compatriotas, Churchill fez aquele famoso discurso em que disse, entre outras coisas: "Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca nos renderemos".
Pois é.
We shall never surrender.
Aprenda, Pazuello, aprenda!: recuar não é se render |
Churchill prometeu nunca se render após um recuo, uma desistência. Após descontinuar a missão e dar um passo atrás.
Depois disso, os britânicos restauraram suas forças, voltaram à luta, lutaram e enfrentaram um massacre de mais de um ano da força aérea alemã. Mas ganhariam a guerra mais à frente.
Como já não é ministro, lamenta-se que Pazuello não possa mais rever seus conceitos nesta verdadeira guerra que é o combate à pandemia.
Espera-se apenas que seu sucessor seja, pelo menos, um pouco menos pior do que ele.
E que o País - exclusive Bolsonaro, fique bem claro - possa vencer esta guerra que já ceifou, só no Brasil, mais de 300 mil vidas.
Ah, sim.
E se Marcelo Queiroga não estiver conseguindo cumprir a missão que lhe prescreveu o cientista Jair Bolsonaro?
Se tal acontecer, desista, Queiroga. Desista.
Não faça jamais como Pazuello fez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário