terça-feira, 11 de junho de 2013

Quem se interessa por vidas humanas no Marajó?

Leitores do blog, vários, estão impressionados.
Confessam-se impressionados com a crueldade configurada na matança de cães em Santa Cruz do Arari, na Ilha do Marajó.
Impressionou-os a falta de sensibilidade da administração pública com animais.
Péssima e forte - fortíssima - impressão causou-lhes o fato de o prefeito do município, o petista Marcelo Pamplona, apresentar como justificativa para o, digamos assim, canicídeo a necessidade de evitar a proliferação em excesso de cães e a suposta transmissão de doenças.
Enternecidamente impressionados ficaram ainda vários leitores do blog com a mobilização contra o canicídeo, que trouxe a Belém, vejam só, atores como Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank e Fiorella Matheis.
Pois bem.
Da mesma forma, leitores do blog, esses mesmos, estão impressionados com a crueldade de gente - de carne e osso - morrendo em Santa Cruz do Arari e em outros municípios do Marajó por falta de assistência médica.
Impressionados, os leitores do blog lembram-se, por exemplo, do município de Anajás, que ostenta o maior índice de malária em todo o país, o que resulta, inclusive, no sacrifício de vidas. Vida humanas, vale dizer, e não apenas a vida de cachorros.
Impressiona-os - e muito, muitíssimo - a falta de sensibilidade da administração pública de vários municípios do Marajó em criar opções de sobrevivência para milhares de famílias que vivem na miséria. Miséria extrema.
Enternecidamente impressionados mostram-se os leitores de blog com a prostituição infantil, tantas vezes já denunciada por lideranças marajoaras, mas ainda crescente na região.
Impressionáveis e impressionados, os leitores do blog, aqueles que aplaudem do fundo do coração a mobilização nacional em repulsa e repúdio à mortandade de cães, não sabem por que atores não se mobilizam nacionalmente para clamar, entre lágrimas e autógrafos, suas indignações contra criancinhas que morrem à míngua no Marajó.
Tão à míngua que às vezes, como nos romances de Graciliano Ramos, só os cães - sobreviventes de tragédias humanas cruentas - são testemunhas de vidas humanas que fenecem ainda no seu início, sob o peso e o estigma da miséria, do abandono e do esquecimento.
Quem, afinal de contas, se interessa por vidas humanas no Marajó?
Quem?

4 comentários:

Anônimo disse...

E ainda querem criar mais 51 municípios por aqui, nos quais imperará o mesmo descaso da enorme maioria dos que já existem.

Anônimo disse...

De que adianta ser a 6ª ou a 7ª "maior" economia do mundo?
Kenneth

Anônimo disse...

Calma gente, é que...sabe, agora é só Copa de 14 e Olimpíadas de 16.
Então, as verbas todas estão comprometidas para essas "prioridades prioritárias".
Em que pese o "grande-guia-pai-dos-pobres" ter afirmado que "não teria dinheiro público", mas tudo bem.
Afinal, somos todos felizes e vivemos num paraíso (ui!) regado a bolsas.
Educação, saúde e segurança são tudodebom!
Parafraseando a grande Marta, criadora do deus-lula, "é relaxar e gozar".

Luiz Braga disse...

Caro Paulo, Texto brilhante a altura da gravidade da situação. Sensacional lembrar Graciliano Ramos. Pena que nossa sensibilidade parece não se multiplicar pelos que efetivamente poderiam fazer mais pelos heróicos e abandonados marajoaras. Fosse no facebook fosse no poder público. Um grande abraço do Luiz Braga