Renan Calheiros, o popular: e se ele incluísse na "agenda positiva" a sua própria renúncia? |
Sabem o Congresso Nacional?
Pois é.
Virou o campeão nacional das bondades.
Transformou-se no poder que está absolutamente sintonizado com os anseios populares.
Em 72 horas, o Congresso aprovou projetos dos mais populares.
Fê-lo porque qui-lo (com o perdão das próclises, mesóclises e ênclises janistas)?
Não.
É claro que não.
Fê-lo porque as ruas o querem.
Porque as ruas o pressionam.
Porque multidões acuam a classe política, empurrada para o córner e mantida nas cordas sob o clamor de milhões de insatisfeitos que há mais de duas semanas sacodem o país em enormes manifestações.
Nos últimos dias três dias, a Câmara aprovou a redução a zero de PIS-Cofins na tarifa do transporte. Isenção não tem prazo de validade. A matéria seguirá agora para o Senado.
O Senado, por sua vez, tirou da gaveta e aprovou projeto do senador Pedro Taques (PDT-MT), que transforma a corrupção em crime hediondo. A matéria ainda vai à Câmara.
A Câmara, vejam só, derrubou quase à unanimidade a PEC 37, que impedia o Ministério Público de abrir investigações criminais. Com um detalhe: até um pouco antes das multidões saírem às ruas, a presidência da Câmara anunciara o adiamento da votação da matéria, que de uma hora para outra foi recolocada em pauta e mandada para o lixo, ou melhor, para o arquivo.
Tem mais bondades para o gozo, o regalo da opinião pública?
Tem.
Também na Câmara, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania aprovou proposta de emenda à Constituição que acaba com o voto secreto nas votações em plenário para perda de mandato de deputados e senadores.
No Senado, o plenário aprovou em votação simbólica o projeto que altera as regras de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Com a decisão, o texto será enviado à sanção da presidente Dilma Rousseff.
Nunca antes, jamais, em tempo algum, na história deste país, deputados e senadores mostraram tanta vontade política para deliberar sobre matérias de alcance popular.
Nunca antes, jamais, em tempo algum, na história deste país, deputados e senadores abandonaram conveniências partidárias e revelaram-se apenas e tão somente legítimos e empenhados despachantes dos anseios populares.
Nunca antes, jamais, em tempo algum, na história deste país, deputados e senadores ouviram verdadeiramente os clamores de suas bases.
Tudo muito bem?
Sim, tudo muito bem. E tudo muito bom.
Mas, ao mesmo tempo em que aprova projetos sob pressão popular, o Congresso, daqui para a frente, jamais, em tempo algum poderá dizer que há obstáculos de qualquer natureza para a aprovação de matérias que têm amplo apoio da sociedade.
E vejam ainda uma coisa comovente.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou a suspensão do recesso parlamentar do Congresso em julho, até que uma série de propostas sejam aprovadas pelos parlamentares.
A "agenda positiva", segundo ele, contém mais de dez projetos que deverão ser analisados, segundo Renan, nos próximos 15 dias. Algumas dessas matérias já estão aprovadas, seja em plenário, seja em comissões.
O ponto mais positivo da agenda positiva, no entanto, seria se Renan renunciasse.
Afinal de contas, o Senado, vocês se lembram?, já recebeu de movimentos sociais uma petição com quase 1,6 milhão de assinaturas pedindo seu impeachment.
Que tal se Renan renunciasse?
Seria, como se diz, um gesto de grandeza de Sua Excelência.
Mas quem sabe se as pressões, a continuarem nesse ritmo, não o forçarão a renunciar?
Quem sabe?
Um comentário:
E o laborioso trabalho das Excelências(será que cabe usar esse pronome de tratamento?)continua.
Hoje pela manhã a CCJ do Senado aprovou, por unanimidade, a PEC do Trabalho Escravo, que prevê o confisco de propriedades onde for flagrado o trabalho escravo, e que foi proposta pelo Deputado Paulo Rocha ainda nos idos de 1995.
Vejam bem : são mais de 18(dezoito) anos que a bendita está acorrentada, aprisionada nas gavetas e escaninhos de Suas Excelências, só andando a esmo nas quietas madrugadas do Congresso , quando reverbera a indignação de milhares de trabalhadores brasileiros que são despojados dos mais elementares direitos, usurpados por fazendeiros gananciosos e criminosos.
Entretanto, a proposta ainda tem de ser votada em dois turnos pelo Plenário do Senado Federal.
Oxalá isso ocorra antes que a juventude guerreira que está nas ruas envelheça.
Kenneth Fleming
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