sexta-feira, 21 de junho de 2013

Por que tudo isso? Onde? Como? Quando?


Vamos combinar?
Combinemos entre nós.
Tentemos concordar entre nós.
Quem de nós é capaz de apostar aonde tudo isso vai parar?
Tudo começou por causa de R$ 0,20 a mais nas passagens de ônibus em São Paulo. Mas como vai terminar? E quando?
Quem de nós, em sã consciência, é capaz de prever onde vai quebrar essa onda, essa vaga, esse vagalhão, esse tsunami de insatisfações?
Quem de nós é capaz de identificar um foco, um norte nessas manifestações, que ontem levaram mais de 1 milhão de pessoas às ruas em 75 cidades do país, Belém entre elas?
Contra o quê, afinal, se protesta?
Contra tudo, não é?
Contra tudo.
Contra quem se protesta?
Contra todos, não é?
Contra todos.
Quem protesta?
Os jovens, predominantemente.
Mas há milhares de outras faixas de idade, bem mais avançadas.
Quem os lidera?
Ninguém.
Nem os partidos?
Sim, muito menos e principalmente os partidos políticos.
Há um deserto de interlocução permeando essas manifestações.
Qual o objetivo dos protestos?
De início, cobrava-se a revogação do aumento de tarifas de ônibus.
Os aumentos foram revogados por decreto, mas as manifestações prosseguiram.
Continuaram com intensidade crescente.
E aí?
Todos querem a cabeça dos corruptos.
Todos querem saúde de qualidade.
Educação de qualidade.
Todos bradam contra gastos excessivos e superfaturamentos - com dinheiro público, of corse - na construção de equipamentos para a Copa de 2014, estádios sobretudo.
Há protestos contra a aprovação da PEC 37.
Contra a aprovação do projeto que autoriza a cura gay.
Contra os atrasos no BRT, no caso de Belém.
E sobre essas demandas, o que esperam os manifestantes?
Que amanhã os corruptos já estejam na cadeia?
Que amanhã tenhamos saúde e educação de Primeiro Mundo?
Em relação a essas demandas, que não se resolvem por decretos como os que suspenderam os aumentos, como contemplar os anseios de massas crescentes que proclamam nas ruas os seus anseios?
Quem chamar para conversar?
Quem se apresentar com autoridade suficiente para encarar jovens que já demonstraram aversão a canais convencionais de representatividade, como os partidos políticos?
Todas essas perguntas, todos esses questionamentos, esses por quês, quando, onde e como, tudo isso precisa começar a ser objeto das ponderações não apenas de autoridades - até aqui acuadas, aturdidas, boquiabertas, passivas e compassivas -, mas das próprias massas que vão se esparramando pelas ruas de todo o país.
Isso é necessário para tentarmos, ainda que palidamente, imaginarmos ou especularmos aonde é que tudo isso vai parar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sabe-se como começou. Não se sabe como terminará - para o bem ou para o mal.

Anônimo disse...

E Viva o movimento anárquico. Anárquico no sentido lato da palavra. "Todos por todos, sem líder, mas com responsabilidade de uma sociedade mais igualitária". A grande maioria sustenta a praxis do Movimento Anárquico, só falta desfraldar a bandeira.

Anônimo disse...

Certamente, não mais será como antes.
A insistente "alucinação" do tal "paraíso" onde tudo esta correto, como nunca se viu "nestipaís"; de que nada existia nem prestava antes do grande-pai, caiu por terra.
O povo acordou.
Acordou e viu a realidade.
E começou a gritar, a indignação reapareceu!
XÔ "tudo isso que está aí"!

Ismael Moraes disse...

Lembro de um pequeno conto do Henfil, que trata do limite às injustiças sociais. O texto abaixo é uma versão minha, sem exatidão de forma: em um certo país, o povo se revoltou. O rei chamou o primeiro general, que, em uma estratégia infalível, cercou o povo, deixando-o acuado e sem saída. Mas o povo, desesperado, avançou sobre o exército do 1º genral, e o destroçou. O rei então chamou o segundo general, que em uma formulação tática melhor e mais eficiente que do 1º, deixou o povo sem qualquer esperança de recuo ou fuga. Desta vez, o povo já exaurido, reagiu com tal fúria famélica que, após estraçalhar o 2º exército, comeu vários corpos de soldados.
O rei, sem outra alternativa, convocou um velho general aposentado, que estudou o terreno e as possíveis rotas de fuga do povo. Após isso, constatando que o povo estava sem saída à beira de um alto desfiladeiro, mandou que fosse construída uma linha férrea à frente de onde estava a massa; mandou então que todos os vagões fossem abastecidos de alimentos, roupas e medicamentos. O povo ficou quase uma semana comendo, se agasalhando e se tratando. Enquanto isso, o velho general mandara construir uma ponte, que permitia a saída do povo para outro continente - após isso mandou o exército atacar. Estando bem alimentado e tendo por onde sair, o povo fugiu.
O velho general retornou como um grande herói.
Moral da estória: até na injustiça é preciso ordem.