sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Advogado é advogado, bandido é bandido. Ou não?

Advogados - uns nominados, muitos outros não -, em comentários por e-mail, em blogs (inclusive aqui no Espaço Aberto), redes sociais e outras mídias sobre este angu que envolve a OAB do Pará, apresentam alegação básica sobre a resistência de alguns quebrarem seus sigilos bancários.
Alegam que, no caso da quebra do sigilo bancário de um advogado, fatalmente apareceriam evidências de depósitos feitos por políticos corruptos, alguns na iminência de terem o mandado cassado, sob a acusação de que cometeram crimes eleitorais dos mais pesados.
Como assim?
Então um advogado tem vergonha, constrangimento ou seja lá o que for porque suas movimentações bancárias vão deixar escancarado que um bandido pé rapado ou um gângster de colarinho branco depositou dinheiro em sua conta?
Esse é um argumento inacreditavelmente fajuto, furado, frágil, inconsistente.
Olhem só.
Advogados são operadores do direito.
Seu múnus, suas garantias, os princípios em que devem assentar suas condutas provêm de um ambiente em que vige pleno - pleníssimo - o Estado de Direito, como aqui no Brasil.
No Estado de Direito, todos, absolutamente todos - os bandidos inclusive, os mais cruéis homicidas inclusive, os mais selvagens psicopatas inclusive - têm direito a defesa.
Os advogados que prestam serviços a essa turma toda não podem ser confundido com ela.
Advogado que defende bandido não é bandido. Às vezes, ambos são bandidos - o advogado e seu constituinte -, mas a regra é que advogado que defende bandido não é bandido.
Qual o problema, portanto, de aparecer na conta de um dotô advogado o dinheiro de um bandido ou de um corrupto, como alguns prefeitos de interior, por exemplo?
Nenhum problema.
Ambos, o advogado e o bandido, o advogado e o corrupto, o advogado e o homicida, assinaram um contrato.
Lá, devem estar fixados claramente os honorários.
Essa é uma relação profissional entre ambos.
Uma relação profissional e transparente.
E a transparência das relações profissionais entre um advogado e um bandido é inevitável, porque toda a sociedade sabe que um dotô está defendendo o suspeito do cometimento de um crime, seja lá qual for o crime.
Qual é, portanto, o problema em advogado fraquear seu sigilo bancário, ainda que apareçam em suas movimentações depósitos provindos, por exemplo, de políticos corruptos?
Não há qualquer problema nisso.
Doutores, contem outra.
Porque isso é conversa fiada de gente que, para não ser transparente, usa qualquer argumento.
Até os argumentos fajutos, furados, frágeis, inconsistentes.
Fora de toda brincadeira.

2 comentários:

Anônimo disse...

VAMOS TRABALHAR EM PROL DA ADVOCACIA...
A quem interessa manter essa política de insinuações? Chega! Vamos trabalhar. Isso sim.A advocacia paraense escolheu Jarbas e os que o apóiam para trabalhar pela classe, não para ficar alimentando insinuações. Todo esse embrólio está obstruindo o que já foi feito ao longo da presente gestão em prol da advocacia e o que ainda pode ser feito. De modo que cabe sim a indagação: a quem interessa obstruir a presente gestão? Só visitar o site www.oabpa.org.br para constatar o que já foi feito e o que pode ser feitos pela advocacia paraense.

Anônimo disse...

Urubus e sabiás

"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros.
Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."
Rubem Alves. "Estórias de quem gosta de ensinar"