Sob o título “Para não esquecer”, esta crônica de Danuza Leão (na foto) foi publicada na Folha de domingo passado.
Mas ainda vale a ler.
Sempre vale.
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Eu já fui fã do presidente Lula.
A primeira e única vez que o vi de perto foi num encontro com a classe artística no Canecão, no Rio, isso antes do seu primeiro mandato; mesmo tendo achado que ele se comportava um pouco como Silvio Santos, andando no palco para lá e para cá com o microfone na mão, fiquei fascinada com o personagem.
Além de sua impressionante trajetória pessoal, Lula transpirava sinceridade e honestidade, além de enorme simpatia; e afinal, o PT era o PT, partido que ia levar a ética para o Planalto. Alguns amigos, poucos, me disseram que eu estava enganada, que esperasse para ver. Mas Lula encantou o país e foi eleito num clima de expectativa jamais visto, com a maior parte da população acreditando que tudo daria certo, enfim.
Sua posse, com Brasília vestida de verde e amarelo, foi uma apoteose, mas já naquela noite o novo governo, que comemorou a vitória no salão de um hotel, deixou uma impressão preocupante. Na porta do tal salão, a segurança dava medo, e não deixava ninguém chegar nem perto.
Alguns colegas da imprensa, que estavam lá para fazer seu trabalho, contar como tinha sido a festa, não conseguiram; Lula não deu o ar de sua graça nem para um alô de longe.
O clima ficou um pouco tipo linha-dura, sobretudo na comparação com Fernando Henrique, que foi o mais cordial dos presidentes.
Comecei a prestar mais atenção no noticiário político e vi que muitos dos que apoiaram Lula foram se afastando. Dava para desconfiar; por que seria? Depois vieram os escândalos, as antigas estrelas do PT sumiram e muitas são réus do mensalão.
Mas não vou falar de política, nem para elogiar os sucessos nem para cair de pau no governo. Vou falar de coisas aparentemente sem importância, e que não teriam mesmo nenhuma importância se não se tratasse de um presidente, e que incomodam, e não só a mim.
Logo no início, quando Lula e sua mulher, d. Marisa, recebiam para jantar, os homens levavam uma garrafa de bebida, as mulheres um pratinho de doces, economizando dinheiro do país, lembra? Oh, demagogia, teu nome é Lula, teu nome é PT. Ok, passemos. Claro que não vou falar da prosperidade de Lulinha, nem de d. Marisa, que nunca fez rigorosamente nada -pelo menos para se distrair- em sete anos de primeira-dama, a não ser se vestir de verde e amarelo nas ocasiões propícias. Além do chapéu de palha que o casal tem a mania de usar, como se fossem dois roceiros, Lula se deslumbrou com ele mesmo, mas não aprendeu que, como presidente, não pode dizer "o Obama me disse", ou "falei no telefone com o Sarkozy"; ficaria mais condizente com seu cargo dizer "o presidente Obama", ou "o presidente Sarkozy". O Itamaraty não podia ensinar essas coisas? E não acredito que jamais o presidente Obama ou o presidente Sarkozy dissessem um descalabro desses.
Mas o que me incomoda mesmo é quando Lula diz -e isso está se repetindo, ultimamente- que "eles" estão mordidos, "eles" estão com raiva -ou com seu sucesso, ou porque "eles" já sabem (é o que Lula acha) que vão perder a próxima eleição, ou sei lá o que, não importa; o que importa é o "eles". "Eles" quem? Presumo que sejam todos os que não são do PT, portanto inimigos.
Lembro o dia em que Lula, já eleito, se encontrou com Bush. Foi com a estrela do PT na lapela, quando deveria ter ostentado a bandeira do Brasil. É como agora: espera-se que um presidente seja a favor do país para o qual foi eleito, não só ao partido que o elegeu. Nenhum brasileiro gosta de ser chamado, pelo presidente do seu país, de "eles", como se tivesse nascido numa terra inimiga.
E para não dizerem que não gosto do PT, vou dar uma mãozinha na candidata de Lula: para ter boa votação, quanto menos Dilma Roussef aparecer na TV, mais votos ela terá.
6 comentários:
Dize tudo e mais um pouco..
este e o verdadeiro LULA DO PT..
Lula é o maior presidente de todos os tempos. Entrou para a Historia. Particularmente, eu não gosto muito da Dilma. Mas se Lula quer Dilma, é de Dilma que vou.
Arrasou!!!
Nota 10 para o comentário de Danuza Leão!!
Tem uma frase da Danusa que eu li e acho o máximo; "Não importa com quem você vai casar, o que importa, é quem vai ser o seu ex-marido". Disso com certeza ela entende, de política pode ser que nem tanto, mas a crônica sobre o presidente Lula está maravilhosa.
Eu me sindo um "deles". Defendo a democracia, a legalidade - direito a propriedade, ir e vir etc -, que as pessoas respeitem umas as outras, não se locupletem da coisa pública, trabalhem, produzam, não comprem votos, que o presidente do meu país fale corretamente e se comporte com educação, que não se ache mais preparado com o 4º ano primário de que outro que se formou, que não insentive a divisão de classes etc.
Pura dor de cotovelo!! Ela quer avaliar o Lula como se ele fosse um dos seus ... Ele não é! Tá se lixando para as etiquetas dessa senhora!! Olha o nível dela, está precocupada do Lula não chamar os outros presidentes de "presidentes"...!??? Realmete essa nossa pseudo-elite não tem mesmo o que fazer!!!! Vão pentiar macaco e parar de falar besteira!!!!!!!
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