segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O primeiro ano da crise


Antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama tinha plena consciência do tamanho da crise financeira americana que o aguardava. Ao término das primárias, o futuro presidente dos Estados Unidos fora de uma simplicidade altruística ao exortar o povo mais rico do mundo a refazer a América.
Quando tomou posse, fez um discurso de 20 minutos e nenhuma mistificação. Obama foi à essência e disse à época apenas o necessário, sem enfeitar. Realista no traço do perfil da conjuntura perigosa, duro com as ameaças à segurança de seu país, generoso na referência aos mais pobres, conciliador na proposta de estender a mão, entusiasmado e otimista ante a tarefa de conduzir a nação ao reencontro de valores que fizeram pelos Estados Unidos a maior, mais perene e poderosa potência do mundo.
Obama não falou de si, não exaltou suas qualidades, não vestiu o figurino de libertador, não vendeu facilidades, nem se mostrou amedrontado ante o vendaval de dificuldades. Falou de tolerância sem ser piegas, de honestidade, de patriotismo, de coragem, de lealdade, de trabalho. Mostrou-se ao planeta como o homem certo na hora exata.
Se à época seria um excelente ou um medíocre presidente era uma dúvida a ser tirada ao longo dos próximos quatro anos. Todavia, Obama cumpre papel concernente ao momento do poço abissal. Tem a medida necessária ao tamanho do rombo.
Para um problema de grandes proporções, só uma solução radical como uma eleição de um presidente negro, pela tonalidade da pele, e multirracial por dentro, algo alternativo nas maneiras. Neófito na política para o tamanho das trajetórias habitualmente cumpridas antes da chegada ao topo, jovem e ao mesmo tempo tradicionalista.
Cuidadoso na missão de inaugurar o início de uma era de recuperação econômica, da credibilidade interna e externa, da capacidade de indignação perdida diante de tantos e tão ásperos desastres ocorridos sob a administração George W. Bush.
O povo americano compara a comoção, à crise provocada pela divulgação dos papéis do Pentágano sobre a guerra do Vietnã em 1971, e a apatia frente aos descalabros em séries de Bush: as mentiras sobre as armas químicas de destruição do Iraque, as torturas nas prisões do Iraque, de Guantânamo e Abu Ghraib, os bilhões gastos nas guerras e reconstrução do Iraque, a crise econômica, a corrupção, o clientelismo, a incompetência. Na opinião de analistas, Obama terá mais chance de defender uma política nova e incisiva.
Num sábado de março passado, um grupo de americanos protestou no Estado de Louisiania, contra a "agenda socialista" do presidente Obama. A direita mais empedernida dos EUA acusa Obama de colocar o país no rumo do socialismo - algo que não vai ocorrer nem com trilhões de dinheiro público na economia nem com bancos estatizados.
Os manifestantes fizeram discursos e a imagem de Obama aparecia decorada com foice e martelo, o símbolo dos partidos comunistas. O ex-quase-presidenciável Mike Huckabee, que perdeu a disputa pela candidatura para o senador John McCain, disse que Obama está criando "repúblicas socialistas" no país e completou: "Lênin e Stalin iam amar isto". Como pensa pequeno esse "arauto" do passado.
Obama discursou no primeiro ano da crise. O presidente alertou, em 14 de setembro último, que Wall Street não permitirá uma volta aos excessos do passado e pediu ao Grupo dos 20 uma reforma enérgica do sistema financeiro mundial. Advertiu, ainda, no discurso que realizou a alguns passos de Wall Street para marcar o aniversário simbólico de um ano da crise financeira, deflagrada pela declaração de concordata do conceituado banco de negócios Lehman Brothers.
Obama fez um balanço da incipiente recuperação da economia dos Estados Unidos e impulsionar medidas que evitem voltar à beira do precipício. E considerou essencial reformar o que está errado no sistema financeiro mundial, um sistema que liga as economias e que propaga tanto benefícios quanto os riscos.
Obama pediu ao Congresso que adote regras financeiras mais rígidas, que impeçam os sobejos pregressos. Reconhece falhas e pede reformas e espera que os demais países também façam uma reforma a fundo do sistema financeiro mundial. Não quer retornar à época dos comportamentos imprudentes, quando muitas pessoas só estavam motivadas apenas pelo apetite por ganhos rápidos e bônus suculentos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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