Nova derrota no STF encoraja Lula a nomear "petista"

Na FOLHA DE S.PAULO:

O relator do pedido de extradição de Cesare Battisti, Cezar Peluso, foi nomeado para o STF por Lula. Mas um desavisado que assistisse ao longo e contundente voto dele, desconstruindo item por item o ato de refúgio concedido ao ex-militante de esquerda erigido pelo Ministério da Justiça, dificilmente inferiria que ele chegou ao Supremo no atual governo.
Nunca antes neste país, para usar a construção cara a Lula, um presidente nomeou tantos ministros para o STF. Foram sete, contando Carlos Menezes Direito, morto na semana passada. Lula pode ter ainda mais duas escolhas. Paradoxalmente, seu governo coleciona derrotas significativas -e está prestes a colher mais esta, em questão de relações internacionais, uma das áreas sensíveis do lulismo. No placar da sessão interrompida do Supremo, três nomeados por Lula votaram contra ele, e três a favor.
Peluso disse que o ministro Tarso Genro falseou a história ao rotular a Itália dos anos 70 como regime antidemocrático, e caracterizou os quatro homicídios atribuídos a Battisti como crimes comuns, derrubando a tese da perseguição política. Mais: atribuiu as motivações do governo ao conceder o benefício ao italiano como ideológicas, pelo fato de ele ter sido um militante comunista.
Não é de hoje que o presidente se queixa com auxiliares: a despeito de ter tido tantas nomeações, não colhe vitórias fáceis no tribunal. Peluso é o alvo principal. O presidente costuma dizer, em jantares com aliados, que se arrepende de ter nomeado "um antipetista".
O julgamento do caso Battisti, que, exceto por uma reviravolta, caminha para levar o governo a um constrangimento político e diplomático, deve acentuar esse sentimento, de que faltou "aproveitar" a chance de ter um STF mais cordial.
Pode encorajar o Planalto a fazer a primeira nomeação "100% PT": o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, ex-advogado de Lula e do partido em questões eleitorais e cotado para a vaga de Direito.