domingo, 6 de setembro de 2009

Melhor o Charles intelectual que o “Charles pendular”

De um Anônimo, sobre a postagem Quem mudou, então: Charles Alcântara ou o PT?:

Vou dizer o que penso sem rodeios: quando um partido está na oposição, ele promete mais do que deveria para chegar ao poder; se o partido é de esquerda, como é (ou diz ser) o PT, costuma desfraldar a bandeira da igualdade, que, como sabemos, tem forte apelo popular.
Ocorre, todavia, que, ao chegar ao poder, o partido - qualquer partido - defronta-se com limites inescapáveis, como, por exemplo, a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), compromissos financeiros, limites orçamentários etc.
O partido é, então, forçado, em face da responsabilidade que lhe cabe observar, a mudar o discurso, a tornar-se consequente e responsável.
Para a esquerda, trata-se de um tormento porque sempre se embalou na utopia das bandeiras igualitárias (mas não sabe dizer que igualdade exatamente defende, mas isto são outros quinhentos que não cabe aqui comentar) e, ao chegar lá, tem de enfrentar a dura realidade de ajustar seus projetos àqueles marcos ou limites estreitos dos recursos limitados.
E aí a esquerda padece - e muito! - porque preocupa-se pouco ou ignora completamente o que seja a eficiência e não consegue definir o que é prioritário para um governo que se pretende social e popular.
A idéia de distribuir bolsas (de todo o tipo, como estamos cansados de ver) não é em si má, embora me pareça que, dissociada de políticas públicas que levem o beneficiário a exercitar algum tipo de aptidão ou talento visando sua autonomia futura, não tem tido o condão de alterar a realidade social dos mais pobres ou miseráveis.
Tanto é assim que a violência urbana não diminui, antes cresce, e a qualidade da mão de obra também não se eleva, o que prejudica o desenvolvimento econômico e social de nosso país.
Então, para mim, é este o dilema da esquerda, melhor dizendo, do PT: a distribuição de bolsas só tem finalidade eleitoreira, pois elas, as bolsas, não modificaram a realidade social dos seus beneficiários e não há uma única idéia consistente que lhe sirva de alternativa.
Como a eficiência é desprezada pela esquerda, todo o resto fica em segundo plano, a despeito das promessas não realizadas de um PAC que, até agora, não saiu do papel.
Isso tem tudo a ver com o caso Charles Alcântara - quando estava no governo, por força do cargo que ocupava, comportava-se com discrição, moderação e pragmatismo.
O cargo lhe impunha tal comportamento.
Ao deixar o governo, melhor dizendo, o cargo de relevo que ocupava, voltou à "oposição", ou seja, voltou a empunhar as bandeiras antigas, como, por exemplo, melhores salários etc., tudo temperado talvez pelo secreto desejo de mostrar ao governo que este se equivocou ao descartar um quadro supostamente bom e competente.
Num mundo de recursos limitados, governar traz, inevitavelmente, desgastes. É preciso fazer escolhas sobre como gastar os recursos e, claro está, as escolhas feitas nem sempre são (ou têm sido) as melhores.
No caso do Charles Alcântara, lamentei profundamente quando ele encerrou o seu blog porque as análises que fazia eram acuradas e inteligentes.
De repente, ele silenciou, deixando a impressão de que fora pressionado e, não querendo ainda deixar o PT, cedera.
Penso que ele serviria muito mais à opinião pública se voltasse a dividir suas análises criticas conosco. Mas, para isso, ele precisaria, como disse a Bia com evidente acerto, se libertar dos seus compromissos partidários, o que é difícil para quem é de esquerda, admito.
Mas o Charles intelectual, insisto, é mais útil à sociedade do que o Charles pendular que ora está na "situação", ora está na "oposição" do governo do PT estadual.

Um comentário:

Anônimo disse...

O pragmatismo político e/ou administrativo, com certeza distancia os governantes "de esquerda" de seus ideais políticos. No entanto, essa distância poderia ser menor se esses mesmos governantes não dispusessem de "mensalões" ou "kits" com a finalidade de enriquecimento ilícito e/ou perpetuação no poder. Aí, não se trata só de distanciamento factual, mas de um verdadeiro divórcio entre o discurso ideológico e a prática na gestão pública. abs