CARLOS CORDEIRO
A segunda pesquisa do emprego bancário, elaborada trimestralmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Dieese, aponta uma enorme contradição dos bancos, que explica as crescentes reclamações dos clientes diante das filas nas agências e ofusca o discurso da responsabilidade social das instituições.
Com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, o levantamento mostra o fechamento de 2.224 postos de trabalho no primeiro semestre de 2009. As instituições financeiras desligaram 15.459 bancários e contrataram 13.235 entre janeiro e junho. É uma inversão do que ocorreu no ano passado, quando houve a geração de 8.754 vagas no mesmo período.
Desta forma, os bancos estão na contramão do movimento que a economia brasileira está seguindo. Enquanto os demais setores econômicos criaram 300 mil novos postos de trabalho no primeiro semestre com a retomada do crescimento, os bancos fizeram o contrário, apesar de não terem sofrido nenhum impacto com a crise. Isso é ainda mais injustificável quando sabemos que o sistema financeiro foi o que apresentou a maior lucratividade de toda a economia no período, quando os 21 maiores bancos somaram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões.
Além da redução do emprego, está havendo também uma diminuição na remuneração média dos trabalhadores do sistema financeiro. Os desligados no primeiro semestre recebiam remuneração média de R$ 3.627,01. Já os contratados tiveram ganhos médios de R$ 1.928,92, o que representa uma diferença de 46,82% a menos, o que reduz a renda do trabalhador e aumenta o lucro dos bancos. Na questão de gênero, a pesquisa mostra que as mulheres continuam tendo remuneração inferior aos homens nas instituições financeiras: 28,62% a menos.
Por isso, o emprego é uma das prioridades da Campanha Nacional dos Bancários 2009, ao lado da melhoria dos salários e da distribuição dos lucros e resultados, da valorização dos pisos salariais e de temas como saúde, segurança e condições de trabalho. Queremos garantia de emprego, principalmente para evitar demissões nos processos de fusões dos bancos Itaú-Unibanco e Santander-Real, e mais contratações para acabar com as filas e melhorar o atendimento dos clientes e da população. Também defendemos mais investimentos em segurança para evitar assaltos e sequestros, bem como buscamos a redução dos juros, tarifas e spread bancário, a fim de baratear o crédito e estimular a produção para a geração de empregos e o desenvolvimento.
É hora, pois, de acabar com essa contradição e colocar em prática a responsabilidade social. O Brasil precisa de empregos. O sistema financeiro não pode dar as costas para os clamores da sociedade.
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CARLOS CORDEIRO é economista, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
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