No Juventude em Pauta, o sempre atualizado blog de Leopoldo Vieira, Thalita Coelho (na foto) - militante da Juventude do PT, membro da Direção Nacional da Articulação de Esquerda/PT e atualmente assessora da Coordenadoria de Promoção dos Direitos da Juventude no Governo do Pará –, escreve o artigo sob o título acima, que o Espaço Aberto reproduz.
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Apesar da participação das mulheres em importantes momentos da história da humanidade, as nossas lutas ainda são marcadas por uma quase invisibilidade na história oficial. Mesmo assim, o 8 de março é um dia para celebrar a luta das operárias têxteis de Nova Iorque em greve por melhores condições de trabalho em 1909/1910, as mulheres russas que lutavam por paz, pão e terra - e inauguraram a revolução de 1917, além de tantas outras batalhas e lutas mais recentes que contam com a participação das jovens feministas.
Nos últimos tempos, o movimento de mulheres, através de muitas lutas e reflexões, conseguiu introduzir o debate sobre a meta da igualdade de gênero nos debates políticos do país, com avanços mais claros nos debates sobre políticas públicas específicas. Mas quando fazemos essa análise com um recorte geracional, percebemos que não houve grandes avanços.
A discussão para políticas públicas e até mesmo das especificidades das jovens mulheres ainda é muito recente e não obteve êxito na construção de uma singularidade entre a condição da mulher e a condição juvenil. E por ser um debate ainda muito incipiente, ainda está muito restrito a construção de políticas públicas específicas e dentro destas, voltadas a políticas de saúde, como a prevenção à gravidez na adolescência.
Esse avanço tornou-se cada vez mais necessário e visível com o crescimento do debate a respeito da condição juvenil. O reconhecimento da importância desse segmento, a juventude, para a construção de um outro modelo de nação e para contribuir como sujeitos de direitos nas soluções de problemas enfrentados pelo país, tal como um segmento que precisa de políticas específicas, contribui sobremaneira para tirar da invisibilidade o recorte geracional no debate de gênero.
Da população juvenil no país, de acordo com os dados do IBGE, dos/as jovens de 15 a 29 anos, 50,2% são do sexo feminino. O Censo Demográfico de 2000 revela ainda, que, na média, desde 1991, as mulheres continuam em vantagem sobre os homens no que diz respeito à escolarização. E essa vantagem é ainda maior entre as jovens, pois enquanto os homens de 15 a 24 anos têm em média 6,7 anos de estudo, as mulheres têm 7,4 anos. Além disso, já somos a maioria nas universidades e representamos 51,6% da População Economicamente Ativa (PEA).
Outro importante avanço é percebido na atuação política das mulheres jovens. Cada vez mais é possível perceber a participação de jovens atuando em movimentos sociais, organizações juvenis, movimento estudantil, partidos políticos e em outras formas organizações.
Mas esses avanços da participação e das lutas das jovens mulheres ainda é fortemente marcado pela forte presença histórica do machismo e de preconceitos na sociedade brasileira. No contexto geral, as mulheres ainda se encontram em uma situação econômica menos privilegiada no país e sendo vítimas de grandes violações que perpetuam a ideologia machista e fortalecem a existência no Brasil das desigualdades com origem nas relações estruturadas nas diferenças de gênero.
A prova disso é que mesmo com mais anos de estudo que os homens e compondo mais da metade da PEA, ainda são as mulheres a receberem os menores salários; a percentagem de mulheres jovens que declaram não estudar e não trabalhar é maior que a dos homens jovens; as mulheres jovens ainda encontram-se mais confinadas em suas casas, tendo menos acesso à escola e ao trabalho. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo,entre as jovens de 18 a 24 anos, 42% declararam já ter sofrido alguma forma de violência; além da maior incidência de aborto inseguro ser realizado por mulheres com idade entre 20 e 35 anos; e segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no Brasil, as maiores vítimas do tráfico para fins de exploração sexual são as jovens, predominantemente as negras de 17 (15%) e de 23 anos(9%).
Esses dados demonstram a necessidade real e urgente de travar um debate de gênero considerando o recorte geracional, essencial para compreensão dessa população, que carrega consigo a carga pesada de sofrer preconceitos, acentuados quando são mulheres jovens negras, lésbicas, moradoras do campo ou pobres.
O 8 de março, construído muito antes da atual geração de jovens feministas, precisa ser um momento de fortalecer essa reflexão,tanto quanto sobre a necessidade de avanço nesse recorte geracional no debate de gênero e no entendimento das suas especificidades, quanto, e para mim prioritariamente, avançar na auto-organização das mulheres jovens, de forma que possamos avançar na compreensão desse novo momento que vivenciamos e das nossas tarefas atuais.
Compreender que as relações de gênero não são meramente uma questão biológica, como não é o debate sobre a condição juvenil, mas que se dá por uma construção social que determina a masculinidade e a feminilidade e , a partir daí, estabelece papéis na sociedade, deve ser uma das grandes tarefas para avançar no sentido da superação da desigualdades presentes atualmente nas nossas relações.
Portanto, jovens mulheres, bandeiras em punho, que o 8 de março marcado por lutas em defesa de um mundo com justiça e igualdade entre homens e mulheres nos espera.
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