domingo, 8 de março de 2009

Deflagrada a corrida presidencial


Está mais do que provado que discursos costumam ser uma armadilha quando alimentam expectativas. Com agenda de candidata, a ministra Dilma Rousseff deflagra a corrida presidencial com mais de um ano de antecedência e alimenta o debate sobre o uso da maquina pública. Foi o que deu para entender no "Encontro Nacional Com Novos Prefeitos e Prefeitas", realizado no final da primeira quinzena de fevereiro, em Brasília.
Claro que, como hipótese, a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil é debatida nos meios políticos há mais ou menos um ano. Como realidade, ela se apresentou definitivamente às ruas com esse encontro - um evento administrativo que foi organizado à moda de um comício eleitoral -, depois da festa de aniversário do PT. A ministra tirou fotos, abraçou os petistas e disse que vai montar uma agenda para se aproximar mais da população e dos partidos aliados do governo.
Antes, no papel de aceita tudo, Dilma sabia que seu desafio é transformar retórica em ações. No dia seguinte, Dilma jantou no Palácio da Alvorada com o Nosso Guia e quatro pesos pesados da economia. Discutiu a crise econômica e falou sobre a sucessão presidencial. Não pediu apoio explícito, mas começou a construir as pontes com potenciais financiadores de campanha.
Recentemente, Dilma acompanhou Nosso Guia na visitação às obras de uma ferrovia em Pernambuco. No Estado onde o presidente é quase uma unanimidade, Dilma ensaiou o que mais fará nos próximos dois anos: o contato direto com o eleitorado. Não existe outra definição para isso não ser campanha.
Dilma pegou o gosto pela coisa. No início aceitou a candidatura como uma missão da qual não podia fugir. Agora está à vontade. Botou na cabeça que quer ser a primeira mulher a chegar à presidência. Em outras palavras, a campanha foi deflagrada quase dois anos antes das eleições e 15 meses antes do que permite a lei. Dilma tem sido cada vez menos ministra e cada vez mais candidata.

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“A administração federal está a serviço da ministra Dilma Rousseff.
Contudo, os governos dos dois maiores colégios eleitorais do País são cidadelas dos postulantes do PSDB, José Serra e Aécio Neves. Com isso, os três: Dilma, Serra e Aécio, têm tempo de sobra para se valer da condição de híbridos, aproveitando os bônus dos cargos sem enfrentar os ônus que a lei impõe aos candidatos no período oficial de campanha.”
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Todos sabem, e isto não é segredo, que os três principais pretendentes à sucessão do Nosso Guia são ocupantes de importantes cargos públicos e, nessa condição, a ministra da Casa Civil e os governadores de São Paulo e Minas Gerais levam grande vantagem que em tese aniquilaria com as pretensões de quaisquer aspirantes a entrar na disputa de 2010: a máquina administrativa, seu uso, a visibilidade que proporciona e os apoios que atrai. A administração federal está a serviço da ministra Dilma Rousseff.
Contudo, os governos dos dois maiores colégios eleitorais do País são cidadelas dos postulantes do PSDB, José Serra e Aécio Neves. Com isso, os três: Dilma, Serra e Aécio, têm tempo de sobra para se valer da condição de híbridos, aproveitando os bônus dos cargos sem enfrentar os ônus que a lei impõe aos candidatos no período oficial de campanha.
É óbvio, que não caberia a nenhum deles abrir mão de suas funções atuais em nome de projetos futuros ainda incertos. Agora, como a realidade está posta, provoca distorções e contorcionismos das mais variadas naturezas. A principal delas, a agressão ao princípio da igualdade de condições assegurado pela Constituição. No quesito, a infração maior parte do governo federal, onde o Nosso Guia dá à sua administração o caráter de palanque permanente.
Do outro lado do muro, José Serra deu uma de mestre ao conseguir o apoio de Orestes Quércia, cacique peemedebista para o pleito de 2010. E caprichou ao nomear seu velho desafeto Geraldo Alckmin para secretário de Desenvolvimento, tirando do seu caminho um adversário que poderia incomodá-lo, haja vista a empatia que Aécio tinha para com Alckmin.
Restou a Aécio tentar conter a locomotiva de Serra. O governador mineiro faz um jogo político dentro do PSDB que desnorteia o governador paulista. Aécio parece levar a melhor ao propor as prévias. Ele não só "amarrou" Serra a esse processo como bloqueou articulações partidárias a partir de São Paulo, freando o comboio paulista.
Sem alternativa, Serra silenciou. O governador paulistano quer neutralizar as prévias simultaneamente, evitando viajar juntos nas preparatórias, como sugeriu o governador das Minas Gerais. Aécio, no velho estilo mineiro, propôs que o resultado das prévias em cada Estado da Federação valha um voto apoiado no princípio da democracia eleitoral: um homem, um voto. Com isso, neutraliza o gigantismo paulista em favor da Federação. Caso Serra consiga inviabilizar as prévias, Aécio seria obrigado a compor. Se essa hora chegar, ele pode jogar na mesa a proposta de mandato de cinco anos com o fim da reeleição.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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