No blog Página Crítica
Existe uma outra faceta no ato-comício, custeado com recursos públicos, que cerca de 50 entidades sociais foram chamadas a realizar, nesta semana, no Palácio do Planalto. A pretexto de ter um encontro com o presidente Lula e expor a ele as alternativas para o enfrentamento da atual crise financeira, a manifestação serviu para que diversos oradores fizessem apologia ao nome da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) às eleições presidenciais de 2010, ali mesmo, numa cerimônia oficial. O que a imprensa pouco noticiou foi o teor da carta encaminhada à Presidência, na qual os movimentos pedem que o governo aproveite a crise para “mudar os rumos da política econômica”.
Seria apenas manifestação de ingenuidade, mas é coisa muito mais séria. O governo Lula não está em início de mandato. Ao contrário, em breve completará seis anos de gestão, tendo consumido a metade de seu segundo período. À luz de tudo que aconteceu neste tempo, é inconcebível que esses dirigentes ainda acreditem na possibilidade de uma alteração substancial na linha estratégica de um governo que desde seus primeiros atos fez questão de romper – na prática e simbolicamente – com os compromissos programáticos que haviam conduzido sua eleição em 2002, em meio a uma enorme expectativa de mudanças sociais, econômicas e políticas.
Apesar de acertar no diagnóstico e, em geral, nas medidas propostas, a carta dos movimentos possui um pecado original, isto é, o de se eximir de quaisquer contrastes críticos aos descaminhos do governo – que pratica justamente o oposto do que os signatários do manifesto dizem professar. Ao agir assim, acabam servindo como instrumento de uma manobra ilusionista, na qual o governo tenta manter vivo o verniz de uma inexistente participação popular.
Em resumo, viraram a cereja do bolo. Por opção própria e consciente, diga-se.
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