domingo, 7 de dezembro de 2008

Campina padece com o longo abandono

No AMAZÔNIA:

O bairro da Campina perde um pouco de sua memória a cada dia. Casarões antigos são desfigurados. Fachadas são encobertas por placas. Ruas históricas são transformadas em meros corredores de escoamento de trânsito. O bairro que viveu o seu apogeu no período da Belle Épòque e cresceu com o dinheiro trazido pelos comerciantes de borracha está doente. Sofre com o abandono quase secular do poder público e corre o risco de virar lembrança - dessas que só voltam quando folheamos livros de história.
Iniciativas de revitalização ainda são muito pontuais. Dá para contar nos dedos os casarões que hoje passam por reformas para reavivar linhas arquitetônicas originais. A maioria ainda se limita a conservar apenas o desenho da fachada - não por cuidado com a preservação, mas em cumprimento à lei do Patrimônio Histórico que proíbe alterações drásticas à parte externa de casarões.
O Monumenta, o maior programa de incentivo à preservação patrimonial do País, coordenado em Belém pela prefeitura, direciona recursos federais a projetos de reforma e restauração de fachadas. Pelo programa, ajustes estruturais, instalações elétricas e reformas na parte interna dos casarios ficam relegados ao segundo plano. Para o presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Raimundo Raimundo Pinheiro, a intenção é que o restauro da fachada funcione como um incentivo para que o próprio morador dê continuidade à reforma. 'As pessoas passam a entender que a preservação das características originais da casa valoriza o imóvel e começam a investir nisso', afirma.
'Estão transformando o nosso bairro em um cenário. O proprietário deixa a fachada intacta, mas destrói todo o resto da casa. Perde grande parte do valor histórico daquele bem, que se estivesse todo preservado, valeria mais', diz o produtor cultural Léo Bitar, morador da Campina.
Na mesmo período em que ele resolveu mudar para o bairro, um punhado de fotógrafos, artistas plásticos, músicos e atores também escolheu adotar a Campina como moradia. Um movimento natural de retorno a um bairro que já foi reduto de artistas no passado. 'Foi, sim, uma decisão política. Morando aqui, eu tenho certeza de que pelo menos a história da minha casa eu posso preservar.

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