sábado, 24 de maio de 2008

Uma década de ÉPOCA


Numa primeira mirada, o Brasil ou o mundo não são um todo. É a diversidade que os caracteriza. Pessoas e comunidades interagem e se cruzam, cooperam e se afrontam. As singularidades estão cada vez mais destacadas nas imagens televisuais ou nos estudos científicos. A escolha aqui será o de apontar alguns aspectos destas singularidades nos últimos dez anos de uma época. Permanências e rupturas, o convívio do velho com o novo acabam por modelar distintos momentos da história.
Ao final dos anos 80 nasce uma palavra: mundialização ou globalização. Ela se impõe no início dos anos 90 para designar muitas realidades embutidas. A constituição de um planeta geofinanceiro talvez seja seu aspecto mais espetacular. Uma de suas conseqüências é a formação de bolhas especulativas e o surgimento de crises financeiras que deram compasso à vida dos mercados (Ásia em 1998, Rússia e Brasil em 1998, naufrágio do Nasdaq em 2002).
Empresas multinacionais são outra faceta deste sistema. O fenômeno não é novo, mas as múltiplas operações de concentração e de fusão ou aquisições nos setores da comunicação, dos bancos, automotivo ou da eletrônica conhecem um florescimento fenomenal. A mundialização transforma a economia global em outros aspectos, também: abre os ex-paises comunistas para o capitalismo, acelera o crescimento do comércio mundial, faz desabrochar os mercados emergentes.
Irrompe um fato novo na história da evolução técnica: a invenção do web e o início da expansão do Internet. Nasce um sétimo continente, feito de redes de comunicação, capazes de gerar e diminuir as desigualdades de informação. Como pano de fundo, alguns pontos importantes: em 1998, tem início o boom do telefone celular e no ano seguinte, nasce o euro, moeda da recém-criada União-Européia. A OLP reconhece o direito à existência de Israel, a OTAN intervém no Kosovo e, quando da conferência de Seattle, ocorre a primeira manifestação antimundialização Em 1º de janeiro de 2000, se espera o Bug do milênio que não chega. Discute-se, ainda, o fim do trabalho, a precariedade dos empregos e a criação de um Terceiro Setor capaz de animar uma economia cooperativa e associativa.
Nova ordem internacional, mundialização, revolução tecnológica, transformação de tradições, culturas e da vida cotidiana se conjugam indicando novos desafios. Enquanto isto, em 1998, o governo Fernando Henrique Cardoso chega ao fim. Nele, sob a bandeira do Plano Real, da eficiência administrativa e da reforma do Estado, o país mudou. Ficam para trás a recessão e o clima de descrédito frente a políticas antiinflacionárias e idéias bizarras de matar tigres com um tiro só.
A inflação é, finalmente, derrotada. Ao mesmo tempo são implementadas medidas econômicas para a internacionalização da economia: venda de empresas estatais, desregulamentação de mercados e controle de gastos públicos. Investimentos estrangeiros de longo e curto prazo, são atraídos por políticas variadas ao mesmo tempo em que, para se manter a estabilidade econômica, o país entra em uma nova espiral de endividamento externo e de desemprego. Definida genericamente como neoliberal, tal política sofre críticas e gera controvérsias.
Em meio a tensões e as novidades, alguns velhos fantasmas reaparecem. Na região Nordeste e norte de Minas Gerais, volta a fome. A falta de chuva multiplica misérias, migrações, doenças e lágrimas. Com a precisão de um relógio suíço, ou seja, no espaço de doze a quatorze anos, a seca retorna, torrando safras e obrigando as pessoas a comer raízes, calangos e cactos despidos de espinhos. Há 10 milhões de brasileiros ameaçados. A Comunidade Solidária, ação social inovadora com o fim de combater a pobreza, com presença na região, não consegue, contudo, atender a tantos retirantes. Alguns bispos da CNBB e lideres do Movimento Rural Sem Terra animam saques a super-mercados ou armazéns. Às vésperas de um novo pleito eleitoral, os futuros candidatos evitam o local e o assunto. Enquanto isso, as cidades recebem novos migrantes em busca de nova miséria. A velha, eles já conhecem e tentam deixar para trás.
A falta de chuva, provoca outro medo antigo: o dos apagões energéticos O problema não é novo e torna a assustar. Dez anos antes, o ministro João Paulo dos Reis Velloso alertara para sonhos de crescimento frustrados sem investimentos massivos nesta área. Sem chuvas, o modelo hidrelétrico se paralisa. Existem poucas termelétricas em funcionamento e um equivocado processo de privatização, não exige a geração de energia nova.

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