Nunca, jamais na história deste país, aliás, deste Estado, um governador escolheu tão rapidamente um desembargador, pinçando-se dentre os três nomes escolhidos pelo Tribunal de Justiça e enviado ao Poder Executivo.
Pois a governadora Ana Júlia Carepa já inscreveu seu nome na História do Pará como tendo protagonizado esse feito. Ela fez em cerca de três horas, três horas e meia, se tanto, o que chefes do Poder Executivo levam uma semana, às vezes duas, outras vezes até mais, para escolher o nome que vai ocupar a cadeira vaga no desembargo.
E mais: a governadora nem pestanejou para escolher não o primeiro colocado, Haroldo Guilherme Pinheiro da Silva, que conquistou logo 19 votos no primeiro dos 11 escrutínios. Nem escolheu Edilson Dantas, o segundo, que conquistou 16 votos na terceira série de votação. Foi escolher Leonam Gondim da Cruz, que também obteve 16 votos, como Edilson, mas entrou por último na lista, no décimo-primeiro escrutínio, encerrado já pouco depois das 14h, quando os desembargadores já demonstravam sinais de cansaço, na sessão que durou mais de quatro horas.
O Diário do Pará, em sua principal coluna, o “Repórter Diário”, na edição desta quinta-feira, chega a revelar que “o procurador-geral do Estado, Ibraim Rocha, já fazia plantão no Tribunal à espera do documento encaminhando a lista, assinado e protocolado à governadora pela presidente Albanira Bemerguy”. Completa o jornal: “Logo em seguida, numa rápida reunião no CIG com os chamados secretários da casa, Ana Júlia bateria o martelo, transformando Leonam Cruz no 30º desembargador do TJE.”
A pergunta que não quer calar, pelo ineditismo da situação: por que a pressa, a rapidez da governadora Ana Júlia em indicar o novo desembargador cercad de três horas após receber a lista tríplice?
Algumas versões correram ontem à noite. Os detalhes eram um pouco diferentes entre umas e outras, mas o essencial estava presente em todas: a governadora quis sinalizar claramente que se viu desimpedida de quaisquer compromissos e amarras de ordem política e partidária, desde que ficaram fora do páreo advogados como Luiz Neto, benquisto entre os petistas e advogado dos mais militantes nos fóruns de Belém, e Paulo Sérgio Weyl Albuquerque Costa, muito ligado a Jarbas Vasconcelos, este com fortes ligações de amizade com a governadora e líder da oposição nas últimas eleições da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará.
Exclusões causaram agastamentos
Luiz Neto não passou nem no primeiro crivo. Foi um dos 25 habilitados para a primeira fase da escolha da OAB, que consistiu na argüição, em 16 de fevereiro passado, de cada um dos aspirantes ao desembargo pelos integrantes do Conselho da Ordem, que escolheram em votação secreta os seis candidatos que posteriormente concorreram à eleição direta. Weyl chegou a figurar como quinto colocado na lista sêxtupla, como 719 votos, e foi o mais votado no interior do Estado, onde obteve 257 votos. Mas não chegou a entrar na lista tríplice.
Como se viu com as amarras soltas em relação a qualquer compromisso de ordem política, a governadora resolveu agir rápido, até porque mataria com a mesma cajadada um outro coelho: estaria livre das pressões que, naturalmente, convergem sobre o chefe do Poder Executivo, obrigado nessas ocasiões a fazer malabarismos políticos para equilibrar-se sobre conveniências e interesses político-partidários, sem desprezar a qualificação técnica dos indicados.
Além disso, deve-se considerar que a demora na escolha do desembargador colocaria o Palácio dos Despachos numa frente de pressão que poderia competir, palmo a palmo, com o caso Uepa, que já se prolonga desde o início deste ano e até agora ainda não permitiu à governadora escolha o reitor – se Sílvio Gusmão, se Bira Rodrigues, se Ana Cláudia Hage -, uma vez que o processo se encontra paralisado por decisão judicial. Além da paralisação, o caso Uepa tem desencadeado repercussões políticas – negativas, é evidente – inevitáveis, uma vez que os grupos em disputa na instituição começaram uma guerra de acusações que ainda não se nem quando vai parar, mas já se sabe onde está: no Poder Judiciário e no Ministério Público.
Essas contingências e circunstâncias, é evidente, não reduzem e nem ensombrecem a qualificação técnica e outros predicados que o novo desembargador, Leonam Cruz, deveria apresentar, como de fato apresentou, para chegar a compor a lista tríplice da OAB-PA. Mas é inegável que o componente político foi-lhe favorável – amplamente favorável.
Por tudo isso é que convém repetir: nunca, jamais na História deste Estado, um desembargador foi escolhido tão rapidamente pelo chefe do Poder Executivo. Além dos seus merecimentos pessoais, Leonam contou com uma conjuntura que lhe favoreceu em todos os sentidos.
Sorte para Sua Excelência.
5 comentários:
A governadora Ana Júlia pode ser boba para a maioria de seus atos no governo, mas dessa vez, no mínimo, foi viva e rápida no gatilho.
Está mais do que na cara, que Ana Júlia não correu o risco de atender o telefonema de Jader Barbalho, pedindo por seu advogado, Edilson Dantas.
Aos poucos, Ana vai vendo que dá conta de governar sem as quatro mãos de Jáder Barbalho, que por sinal, onde tocam, acaba em escândalo.
Está aí a deputada Simone Morgado pra contar...
Vic Pires Franco
Oi, Paulo! Como sempre, sua análise é corretíssima. Assino embaixo. E o deputado Vic sabe o que diz. A governadora tratou de passar adiante a batata quente, oooops, a missão, antes que ouvisse o pedido em favor de Edilson Dantas. Do que se depreende, no mínimo, que já foram mais chegados os caciques do PT e do PMDB. Nas últimas 24 horas, meu amigo, o meu queixo ficou caído. Mas já me recompus e estou na vigília. Beijo para você e Conceição. E tenhamos todos uma Páscoa abençoada.
Pois é, Franssi.
Muitos ficamos - de queixos caídos.
Obrigado pelas felicitações. Igualmente, boa Páscoa para você.
Abs.
A rápida nomeação do novo desembagador, Leonan Cruz Jr.,revelou séria e madura sensibilidade da Governadora do Pará, em relação a prestação jurisdicional e aos cidadãos paraenses que aguardavam solução para mais de 700 processos acumulados e outros que entram diariamente.Lamentavelmente, a OAB levou quase 5 meses para definir a lista a ser enviada ao TJE. Por isso: nota 100 para Ana Júlia Carepa, que não perdeu tempo e nomeou logo o novo desembargador, dando exemplo.
Jader já havia sinalizado sua "opinião" à governadora de seu preferido para a vaga do 5º. Ocorre que, os secretários a alertaram para o desgaste futuro se a decisão não fosse tomada imediatamente.
Aliás, Jader e suas forças já tinha conseguido indicar e empossar dois candidatos no TCE de uma tacada só Erlindo Braga e Ivan Barbosa. Faltando por enquanto, sua irmã Mara no TCM. Veremos!
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