quarta-feira, 13 de julho de 2022

Antes, eram fezes na cabeça de jornalistas. Hoje, no Pará, a violência contra jornalistas assume outros perfis. Mas é violência.

A Imprensa paraense registra em sua história - que remonta, ao que se sabe, ao início do século XIX com a circulação do intrépido O Paraense, do não menos intrépido Cônego Batista Campos - momentos em que, literalmente, resvalou para os limites pútridos de fezes despejadas na cabeça de jornalistas que faziam oposição aos poderosos de plantão.

Foi assim com o velho Paulo Maranhão, quando foi alvejado por fezes que lhe foram lançadas por baratista fanático e, ao mesmo tempo, indignado com a virulência da oposição que a Folha do Norte, o impresso de Maranhão, fazia ao governo do general Magalhães Barata.

Um detalhe - nas circunstâncias, nada desprezível: o editor da Folha foi atacado perto da casa dele, às proximidades da Basílica, em Nazaré, num momento em que, coincidência das coincidências, o fornecimento d'água havia sido cortado para todo o bairro.

Em sua trajetória marcada por violências deflagradas por lutas políticas, a Imprensa paraense também teve o registro de empastalamento de jornais. E não foi quaquer empastelamento, não. A Província do Pará, que dava sustentação ao governo de seu proprietário, o também jornalista e prefeito (naquela época intendente) de Belém, Antônio Lemos, e funcionava no prédio que depois viria a ser a sede do Instituto de Eduação do Pará (IEP), na Serzedelo com a Gama Abreu, foi incendida por volta do ano de 1910 por lauristas, assim chamados os partidários do governador Lauro Sodré, liderança que contrastava com a do velho Lemos.

Hoje, decorrido pouco mais de um século de acontecimentos como esses, a violência contra jornalistas, para se exprimir, não precisa vir na forma literal de baldes com fezes despejados na cabeça de jornalistas e nem tampouco as estruturas físicas onde eles trabalham precisam ser incendiadas.

A violência, hoje, mostra-se às vezes mais sutil ou mais, digamos assim, adornada de aparências legais. Mas nem assim deixa de ser violência. E violência inominável.

A violência, hoje, revela-se por inteiro, quando jornalistas, sobretudo os que editam blogs, portais ou outros veículos que funcionam na mídia virtual, são cerceados na sua liberdade - de informar, de criticar, denunciar e cobrar, seja lá o que for e de quem for.

A violência, hoje, revela-se por inteiro quando jornalistas são alvos de buscas e apreensões absolutamente desnecessárias, mas que o Poder Judiciário chancela e autoriza por entrever excessos no exercício do jornalismo.

A violência, hoje, revela-se injustificada quando, a título de acudir o direito de pessoas supostamente atingidas na sua honra por informações ou críticas produzidas por jornalistas ou profissionais de outras áreas, as mídias que estão sob sua responsabilidade são compelidas por ordens judiciais a suprimir matérias ou postagens ou então elas próprias, as mídias, são derrubadas, ou seja, são tiradas simplesmente do ar.

Hackers - Nesta terça-feira (12), dois jornalistas de Belém ocuparam-se durante quase todo o dia em formalizar presencialmente, na Polícia Federal e no Ministério Público Federal (MPF), pedidos para que sejam investigados os sucessivos ataques de hackers que os sites deles têm sofrido nos últimos dias.

Durante o relato, os dois profissionais chegaram a apresentar documentos demonstrando que o dirigente de uma autarquia adquiriu 16 registros com nomes similares ao de um site que ele acusa de veicular informações que maculariam sua honra. Em outra situação, uma notificação extrajudicial para a retirada de 16 matérias disponíveis em outro site foi muito além de uma ordem judicial, para retirar apenas uma.

Nenhum direito é absoluto. Absolutamente nenhum, inclusive o direito à livre expressão. Assim é que, se há excesso no direito de criticar ou de informar, o Judiciário é o âmbito apropriado para discutirem-se as reparações pertinentes.

Nós, jornalistas, cometemos erros? Sim, muitos.

Cometemos excessos? Sim. Estamos passíveis de cometê-los.

Estamos acima das leis? Não estamos.

Mas há uma grande diferença entre estarmos passíveis de observar os limites legais no exercício da nossa profissão e a tentativa de sufocarem o jornalismo e os jornalistas quando eventuais excessos sobrevêm.

Convenhamos: blogs, portais e outras mídias virtuais do Pará, sobretudo os que têm jornalistas como responsáveis, estão sendo alvos de tentativas de sufocá-los, de simplesmente eliminá-los e extingui-los, para que não sobre pedra sobre pedra - ou vírgula sobre vírgula, se quiserem.

No Pará, a tentativa de pulverizar, de tirar do mapa ambientes jornalísticos que hoje se mostram os poucos meios que ainda ousam contestar discursos oficiais - sempre enganosos, ilusórios, demagogos, hipócritas e eleitoreiros - é exatamente proporcional à compulsão demonstrada por outros veículos, de bajular, de adular, de ajoelhar-se compungidamente e covardemente diante de autoridades e homens públicos que, por exercerem atividades públicas, precisam ser fiscalizados. E fiscalizados rigorosamente, deve-se dizer.

A sociedade paraense precisa estar alerta para esses sinais desastrosos que põem em risco a liberdade do jornalismo e de jornalistas.

Se ninguém fizer nada, se ninguém se opuser aos que sonham, noite e dia, dia e noite, ficar completamente imunes às lupas do jornalismo, então não poderemos, depois, reclamar que somos vítimas deles - de suas ambições, de sua demagogia, de suas venalidades e da sua espantosa falta de escrúpulos.

Um comentário:

Pedro do Fusca disse...

É o que vemos na maioria da imprensa do Pará comprometida com os Barbalhos e Edmilson como sobrevivência. Restam os Blogs, alguns tambem ja só elogios a estes individuos. Os sérios que ousam desafia-los tem o peso da justiça e dos rakes. Afinal uma vergonha.