sábado, 2 de outubro de 2021

Sebastião Tapajós: o gênio que se valia de suas raízes santarenas e amazônicas para nutrir um talento incomparável

Sebastião Tapajós: ele se projetou nos palcos da Europa. Mas era em Santarém e na
Amazônia que gostava de estar, de viver e lapidar a sua genialidade.
(Foto extraída do portal do instituto que leva o nome do artista)

A morte do violonista Sebastião Tapajós aos 78 anos, ocorrida neste sábado (2), num hospital particular em Santarém, é um golpe para todos: para os santarenos, para os paraenses e para a cultura musical amazônida e brasileira.

A primeira vez em que assisti a uma apresentação de Sebastião Tapajós foi no final dos anos 1970, quando ele esteve no colégio em que eu estudava (acho que no antigo Científico), o Dom Amando. Desde então, não parei mais de ficar atento às suas audições. E a última em que estive foi, se não estou enganado, no Theatro da Paz, em 2019.

Sebastião Tapajós foi aquele gênio - gênio mesmo, sem qualquer exagero - que se nutria de suas raízes, que embebia o seu talento dos cantos e encantos do seu torrão para exprimi-lo em acordes incomparáveis que ele extraía do violão.

Adolescente, e ainda morando em Santarém até 1978, na orla da cidade - banhada, como vocês sabem, pelo majestoso Rio Tapajós -, eu o via passar na frente de casa, acompanhado de amigos, para ir pescar. Uma rotina que sempre manteve e que traduzia a sua simplicidade.

Mesmo tendo-se projetado nos melhores palcos da Europa e até da Ásia, sobretudo no Japão, Sebastião Tapajós sentia-se bem mesmo quando estava em Santarém, que hoje pranteia sua partida para a eternidade, em decorrência de complicações que advieram de uma cirurgia cardíaca.

Formado pelo Conservatório Nacional de Música de Lisboa, em Portugal, Sebastião Tapajós estudou guitarra na Espanha com Emilio Pujol e cursou o Instituto de Cultura Hispânica. No Brasil, recebeu a cadeira de violão clássico do Conservatório Carlos Gomes de Belém, onde lecionou até julho de 1967.

Ao longo de sua carreira, tocou com nomes conhecidos da MPB como Hermeto Pascoal, Jane Duboc, Zimbo Trio, Waldir Azevedo, Paulo Moura, Sivuca, Maurício Einhorn e Joel do Bandolim, e internacionais como Gerry Mulligan, Astor Piazzolla, Oscar Peterson e Paquito D'Rivera. Na Europa, pontificou por mais de duas décadas e tornou-se respeitado sobretudo na Alemanha.

Compôs várias canções, em parceria com Marilena Amaral, Paulinho Tapajós, Billy Blanco, Antonio Carlos Maranhão, Avelino V. do Vale e outros compositores. Entre os intérpretes de suas canções estão artistas como Emílio Santiago, Miltinho, Pery Ribeiro, Jane Duboc, Maria Creuza, Fafá de Belém, Nilson Chaves, Ana Lengruber e Cristina Caetano.

Em 2013, Sebastião Tapajós recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado do Pará e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Em 2017, foi criado o Instituto Sebastião Tapajós, que realiza projetos em benefício da população local e da preservação da Floresta Amazônica, apoiando a cultura e a educação ambiental.

Esse é o talento que acabamos de perder.

Um talento que agora rebrilha na eternidade.

2 comentários:

kenneth fleming disse...

Hoje o rio Tapajós correrá em silêncio, mas amanhã seguirá levando a todos, brasileiros e estrangeiros, a deliciosa música desse ilustre mocorongo. Também tive a alegria e o prazer de ouvi-lo ao vivo.

Eduardo Rocha disse...

Valeu, Mano! O som de Sebastião Tapajós permanecerá ecoando da Amazônia para o mundo.