Transcrevo, do Portal da Copa (www.copa2014.gov.br), este trecho da matéria publicada em maio deste ano quando o Supremo Tribunal Federal validou, contra o voto de Joaquim Barbosa, a lei geral da Copa. O ministro Lewandowski foi o relator no processo:
Lewandowski apontou as vantagens econômicas (materiais) e imateriais de o Brasil sediar eventos esportivos como a Copa do Mundo, entre elas melhora da imagem do país, o aumento das exportações, o incremento ao turismo, a melhora da qualidade dos produtos e serviços, a incorporação de novas tecnologias e maior conforto aos cidadãos.
Mesmo nesse início de maio a nação brasileira já tinha descoberto que a lista de vantagens apontada pelo juiz se não era um simples embuste, conversa de vendedor, no caso a Fifa, para convencer cliente, não resultaria em benefícios nem a curto, nem a médio prazos. Porque o Brasil constatou, com uma boa dose de amargura, que o padrão Fifa é tomar dinheiro dos outros. Muito, muito dinheiro.
Os direitos concedidos à Fifa pela lei geral da Copa são extraordinários. Aliás, a lei é extraordinária: ela manda pagar um prêmio de cem mil reais para todos os jogadores, titulares ou reservas, que foram campeões do mundo em 1958, 1962 e 1970. Ou para os herdeiros deles. Curiosamente, Paulo Maluf foi processado e condenado por ter premiado os jogadores com um fusca no tri de 1970. Mas o Brasil é a terra de Macunaíma: o que vale para um, não vale para outro. Questão só de peso e de medida, como diz a música de Billy Blanco.
Blatter deve ter ficado feliz quando viu a lei aprovada, e mais ainda quando a viu referendada pelo Supremo. Mas ele ainda não identificou Macunaíma. Vai rapidamente descobrir que a lei é só... uma lei. Os Levandowski da vida levarão de dez a vinte anos para garantir sua eficácia.
Agora Joseph Blatter tem se preocupado em demonstrar ao mundo que problemas porventura ocorrentes durante a realização da Copa são culpa dos brasileiros. Ele se empenha em reclamar, de forma se isentar completamente das responsabilidades. Quando identificar Macunaíma vai ver que a sua expertise é coisa pouca diante da esperteza brasileira.
Certo de uma arrecadação milionária nos licenciamentos, defronta-se com uma feroz concorrência dos sem-marca: o Brasil não quer logomarca da Fifa, quer preço baixo nos badulaques. Os chineses sabem disso muito bem: eles é que estão levando o grosso da receita. Blatter vai brigar com a China?
A lei lhe garante toda a segurança que quiser, mas a polícia dificilmente vai se mexer pelos belos olhos dele. Ele terá que contratar sua própria segurança se quiser chegar a qualquer estádio.
Estádios, aliás, padrão Fifa: ilhas de luxo num mundo faminto. Versalhes modernos. Pouco importa o preço que custem. Pouco importa se ficarão vazios ou mal utilizados. Eles obedecem ao padrão Fifa: seus alicerces estão enterrados na lama da corrupção. Ricamente escondidos.
Ontem uma testemunha de Jeová, no seu apostolado humilde, discreto e persistente, bateu à minha porta, entregou um folheto e pediu que eu lesse a Bíblia. Pois é da Bíblia que eu tiro o fecho desta crônica:
Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto. (Marcos 4:22)
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