sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A violência banalizada é cruel. Cruel e torpe.

Olhem só.
A violência - frequente, avassaladora, incontrolável - conduz a banalizações das mais cruéis, das mais torpes, das mais inacreditáveis.
Nesse caso da zorra total em que se tornou a colônia agrícolo Heleno Fragoso, em Americano, onde uma adolescente de 14 anos foi vítima de selvagerias, a sensação de que a violência foi banalizada fica evidente em comentários como este aí embaixo, deixado na postagem A assepsia na colônia penal acabou? Ou vai adiante?
Olhem só o que diz um Anônimo, em comentário deixado lá.

Tudo bem, nada disso deveria acontecer, este fato é deploravel. Mas esta adolescente disse que não era a primeira vez que ia à colônia segundo os jornais; por que voltou ao lugar? Por que agora tirar uma de vitima? Hoje ninguem é bobo!

Olhe, Anônimo, então vamos prender a garota e deixar soltos os estupradores - tanto os que a estrupraram fisicamente como os que estupraram seus deveres funcionais de evitar o estupro.
É isso mesmo, Anônimo?
Olhe, meu caro, é fato que a garota não é inocente, no sentido de que ela realmente não ignorava os riscos que corria.
Também é fato que há muito a garota já tivera experiêncas sexuais, tanto que tinha como companheiro um homem de 25 anos, segundo afirmou.
Mas o depoimento da própria vítima é de que, aliciada por uma mulher, foi à área da colônia para encontro sexual com um preso, e não com vários, durante quatro dias, e ainda por cima sendo mantida cativa, drogada e submetida a bestialidades de toda ordem.
Tem mais, caro Anônimo: ainda que a garota gritasse ao mundo assim: "Eu quero ir à colônia Heleno Fragoso e me entregar sexualmente a 500 detentos, ser drogada por eles e ficar durante 1 ano servindo aos seus apetites sexuais", ainda que ela bradasse ao mundo dessa forma, Anônimo, o Estado, o Poder Público teria a obrigação de contê-la, teria a obrigação de evitar essa situação.
Primeiro, porque ela é menor de idade.
Segundo, porque sua integridade física estaria em risco.
Terceiro, porque uma conduta como essa dentro de um estabelecimento penal é proibida.
Entendeu, Anônimo?
É mais ou menos a mesma coisa, Anônimo, que um motoqueiro, consciente e deliberadamente, andar sem capacete, mesmo sabendo que ele, caindo com a moto, poderá morrer.
Ele não pode andar sem capacete porque a lei não lhe permite, Anônimo. Mesmo que ele queira e saiba dos riscos, não pode.
É mais ou menos a mesma coisa que você dizer assim para outra pessoa, no meio da Praça da República, às 12 horas de qualquer dia, no meio de um mundão de gente: "Me dá um tiro aqui na cabeça. Me mata".
Ei, Anônimo, mesmo que você diga isso, o cara que atirar em você e lhe matar não será inocentado porque você, consciente e deliberadamente, pediu para ser morto por ele.
É mais ou menos assim que funciona, Anônimo.
Mais ou menos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns,concordo com você assim como devemos deixar de ser hipócritas e achar que vivemos em um paraíso onde as pessoas tem disciplina consciente,o que assola a humanidade é a corrupção em sua escalada crescente onde nossas autoridades que devem combate-las,se eximem e se acham que não serão cobradas a vida lhes mostrará que estão redondamente enganados.

Anônimo disse...

Muito boa a réplica.

Kenneth

Anônimo disse...

Boa a postagem. E excelente a explicação da banalização: didática e elucidativa para que nós da sociedade repensemos nossos valores.

Anônimo disse...

Mas o caso já vem de bem antes de antes. A "menina" estava em flagrante situação de risco. Tinha fugido de casa. Já dormia com o namorado. Tinha amizades perniciosas como essa tal aliciadora chamada Ana ou Anne. O blog não concorda que a omissão do Estado começou por aí? Cadê o Conselho Tutelar? Cadê a Promotoria da Infância? Cadê a Defensoria Pública? Cadê o Pro-Paz? Cadê o Ministério Público Federal que acha que tudo é "federar"? Cadê o Juizado da Infância? Cadê a Secretaria de Proteção Social? Cadê a Fundação da Criança e do Adolescente? Cadê a Funpapa?... Cadê? Cadê? É tanto "cadês" que apenas demitir dois ou três apadrinhados em cargos comissionados não vai resolver "p... nenhuma"! Depois ainda querem chorar o leite derramado.

Anônimo disse...

Se uma vez aqui no Pará uma autoridade pública chamou uma menina também estuprada de retardada, o que dirá de quem não é autoridade!
Quanta estultice.