segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pindorama: a saga da democracia


Do Império às eleições deste ano, a trajetória da democracia alcançou agora o auge na riquíssima história do Brasil. Mas quais as chances reais de que essa fase não seja um mais breve intervalo entre longos períodos de ditadura? O Brasil só perdeu para a Holanda em uma Copa do Mundo, em 1974 (antes do fracasso na África do Sul), quando apenas 476 brasileiros (dos mais de 100 milhões então) votaram para presidente da República. Os favorecidos faziam parte de um colégio eleitoral estruturado pelo governo dos coturnos para garantir a posse de mais um general no poder.
O eleito foi Ernesto Geisel, com 400 votos, contra 76 dados a Ulisses Guimarães, do MDB, que se lançou como "anticandidato" para marcar (o)posição. Hoje, mais de 135 milhões de brasileiros podem votar para presidente, o que faz do País a terceira maior democracia do Planeta. E não é apenas a multiplicação do eleitorado em 284 mil vezes que impressiona. Outros pontos básicos, como as liberdades de expressão e de organização e a capacidade de resolver conflitos por meios das instituições, parecem consolidados.
O que o eleitor leva mais em consideração na hora do sufrágio: benefícios sociais e econômicos proporcionados por governos ou a trajetória de vida dos candidatos? Essa é a mais instigante questão no fórum de análises que se abre na presente quadra político-eleitoral. A interrogação acirra a polêmica que, a esta altura do campeonato, tem como cerne os principais atores do pleito presidencial de 31 de outubro, já em seu segundo turno: José Serra, com densa experiência política e administrativa nas esferas federal, estadual e municipal; e Dilma Rousseff, destaque somente na área técnica e cuja identidade ganhou força na era Lula.
As pesquisas confirmam que a vantagem de Dilma caiu. O encurtamento da diferença existe. Os institutos de pesquisa divulgam que já está havendo um empate técnico. Os analistas afirmam que grande parte dos votos de Marina Silva na reta final da eleição saiu da conta de Dilma. Esse porcentual de votos migrados de uma parte para outra retornará para a origem? Porque não escoaram para Serra no primeiro turno, poderiam voltar para Dilma e seriam suficientes para garantir a vitória dela. A situação acredita piamente que a tendência é essa. Mas não se pode garantir.
Os ventos da reação já se fazem sentir. A pequena diferença entre os candidatos denota que dois fatores são fundamentais. O eleitor tupiniquim está aprendendo, vota degustando o menu econômico, ora avaliando capacidades dos candidatos. Há, contudo, uma teia que sugere bifurcações na tomada de decisão do eleitor. Os adeptos do fator econômico não votarão necessariamente na candidata situacionista, como se poderia apresentar, e parcela dos conjuntos que apontam como fator mais importante atributos do candidato poderá recusar o sufrágio no candidato oposicionista.
Não resta a menor dúvida de que o prato econômico será o mais disputado na mesa eleitoral. A alavancagem gerada pela economia tem a ver com o instituto de sobrevivência do indivíduo. Para efeitos eleitorais, ele se apresenta na forma de vantagens econômicas e satisfações materiais, superação de dificuldades, ascensão de pessoas na escada social, conforto e bem-estar geral. O voto que sai dessa equação recebe um selo de origem. Da mesma forma, boas ideias só convencem quando a fonte é crível. Ah, a empáfia, quando excessiva, pode virar obsessão.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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