domingo, 1 de novembro de 2009
Vale tudo na aliança
Empenhado na candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Nosso Guia é acusado de antecipar a campanha. Em defesa do logro segundo a qual a recente turnê do presidente da República pelas obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco não teve propósito eleitoral, o ministro da Justiça, Tarso Genro, argumenta que se os governadores José Serra e Aécio Neves podem "circular", Nosso Guia também pode levar Dilma para vistoriar e fiscalizar. Pela bola de cristal da hora, trata-se de "suposta campanha"
Em resumo, são todos pré-candidatos à Presidência da República, atuando em igualdade de condições, pois têm a sorte de exercer cargos que lhes dão visibilidade, naturalmente. Nenhum deles estaria desrespeitando a legislação, porque as proibições só alcançam candidaturas formais e a partir do momento em que a campanha se iniciar oficialmente.
O governador das Minas Gerais concorda: "É legítimo, faz parte do jogo político", comentou no primeiro dia da caravana. O governador de São Paulo não fala nada a respeito, enquanto o presidente do partido de ambos, senador Sérgio Guerra, marca a oposição do PSDB anunciando providências enérgicas.
A oposição já havia tentado balizar a posição da Justiça Eleitoral quando questionou a legalidade do encontro-show que o Nosso Guia organizou para apresentar Dilma a prefeitos de todo o País, no dia 10 de fevereiro passado. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu que não houve propósito desviante naquela reunião. A corte acatou o argumento do então advogado-geral da União e agora ministro do STF José Antônio Toffoli, de que a presença de prefeitos de partidos de oposição (PSDB e DEM) provava o caráter exclusivamente governamental do evento.
Se estava tudo como manda o figurino, então a situação nada mais fez do que interpretar a decisão como uma licença para prosseguir no mesmo tom. Claro que sempre poderia tomar a iniciativa de atuar sob critério mais ético, mas, pelos parâmetros em vigor, seria simplório.
O inabalável presidente da República, apesar das críticas e muito senhor de si, diz que vai continuar visitando obras com Dilma. Louvado como o grande comunicador da política brasileira, Nosso Guia sente-se como o chefe supremo do Areópago na arte de dirigir as relações entre os Estados.
Contudo, isso não impede que ele tropece num ruído de sua própria lavra. Ao receber um convite para explicar a estratégia das alianças da campanha presidencial de 2010, Nosso Guia demonstrou um exibicionismo exacerbado, "viajou na maionese" e mostrou uma postura despudorada dizendo, em entrevista à Folha de S.Paulo: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão". Essa afirmação gerou um clima nada amistoso no País e provocou uma reação indignada das lideranças da Igreja Católica, onde sua agremiação partidária costuma arrebanhar uma imensa parcela de votos.
Nosso Guia se diz católico e cumpridor de seus deveres de sua religião. Ao mencionar o Homem de Nazaré - hipoteticamente - como capaz de fazer uma coalizão com o apóstolo que o vendeu por 30 dinheiros, tratou de modo trivial um personagem venerado pelos fiéis como o filho de Deus. Será que ele quer ser o próximo Dan Brown?
Alimentados de realismo político, seus aliados afirmam que ele não disse nada demais. É óbvio e ululante. Infelizmente, o que não falta no país do carnaval é Judas na política brasileira.
Muito poucas vezes se assistiu a uma confissão tão clara de aleivosia diante dos maus costumes que eles propagaram por nossa vida pública. Numa reação clara e calculada diante de uma multidão de palavras trôpegas, o governador tucano José Serra rompeu o silêncio cauteloso e mandou esta pérola: "A entrevista mostra bem o que ele (Lula) é. De ponta a ponta, na forma e no conteúdo".
O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entidade que representa a cúpula da Igreja Católica, dom Dimas Lara Barbosa, reagiu indignado: "Cristo não fez aliança com fariseus. Pelo contrário, teve palavras duras para com eles". No mais, a força do Nosso Guia continua intacta. Ele parece gozar de certa imunidade afetiva.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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2 comentários:
Bom dia, caro paulo:
só um reparo ao artigo do professor Sergio Barra: "é óbvio e LULANTE".
Abração.
Hehehehehe,
Faz sentido, Bia.
Todo o sentido.
Abs.
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