segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crianças pegam na enxada em cemitério

No AMAZÔNIA:

Crianças correndo em meio às sepulturas, dividindo o trabalho com zeladores adultos, arrancando o mato e cobrindo cuidadosamente os canteiros com areia. A cena mais comum nos cemitérios públicos de Ananindeua, ontem, véspera do Dia de Finados, era a dos meninos e meninas filhos de zeladores disputando a atenção de quem entrava e saia das necrópoles. A maioria delas, juntos de pais e mães indiferentes à condição mesmo que passageira de trabalho infantil, cobrava entre R$ 2 e R$ 3 pelos serviços. Eles capinavam, limpavam, lavavam, reviravam a terra dos canteiros e até pintavam de cal as muretas dos sepulcros. Trabalho de gente grande, suado e mal pago, que de tão comum já nem é capaz de causar espanto.
Nos cemitérios municipais de São Sebastião, no centro de Ananindeua, e no Cemitério Parque Girassol, no bairro do Águas Brancas, havia poucos zeladores pagos pela prefeitura ontem. A preparação das necrópoles por parte da administração municipal, na semana que antecedeu o feriado de Finados, se limitou ao roçado do mato que tomava os corredores de acesso aos túmulos. Ontem, sobretudo no cemitério de São Sebastião, ainda havia lixo sendo queimado e muito trabalho a ser feito.
O trabalho de limpeza ficou por conta dos zeladores particulares de ocasião. Pintores, pedreiros, jardineiros sem trabalho, que no feriado de Finados veem uma oportunidade para faturar. Os filhos, braços de trabalho a mais, ajudam a garantir renda maior.
'Eles vem para me ajudar, porque querem, e não fazem mal para ninguém', justifica o pintor Jorge Queiroz, morador do bairro do Pato Macho, em Marituba, que levou os dois filhos, de 10 e 11 anos, e um sobrinho de 13 para o cemitério de São Sebastião, como 'reforço' para o puxado dia de trabalho de zelador em véspera de Dia de Finados.
'Dar valor' - 'Criança tem que aprender a trabalhar desde cedo, para dar valor', diz o pintor, seguido em fila indiana pelos ajudantes. A manhã de trabalho não rendeu mais do que R$ 10 para a família Queiroz. A explicação para a baixa produtividade era a concorrência, este ano, fora do comum nos corredores de sepulturas do cemitério São Sebastião.
No Parque Girassol, em Águas Brancas, também não foi difícil encontrar crianças com enxada na mão, roçando túmulos. O mais novo entre os cemitérios públicos de Ananindeua já apresenta os primeiros sinais de que se encaminha para a rotina de descuido, quebrada apenas em véspera de Finados. Lá havia muito mato e pouco cuidado.

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