"Nós" que não desatam

FRANCISCO SIDOU

Em clima de euforia pré-Copa do Mundo, foram iniciadas em Manaus as obras do metrô de superfície, uma estratégica obra viária incentivada pelo PAC da Mobilidade, que visa dar soluções modernas para os problemas do congestionamento do trânsito e do tráfego na cidade. A obra será concluída até 2012 e abrangerá os principais corredores de tráfego da capital baré. Até 2014, Manaus será uma das metrópoles mais modernas do Brasil . Os amazonenses estão de parabéns. Enquanto isso, em Belém, hoje uma cidade "travada" pelos congestionamentos estressantes e colossais, a prefeitura , via CTBel, anuncia como medida capaz de melhorar o tráfego no corredor infernal da Almirante Barroso a colocação de "tartarugas" para delimitar faixas exclusivas para ônibus... Trata-se de mais uma medida cosmética, das muitas adotadas nos últimos 20 anos, como as "cocadas baianas", os sinais de três e quatro tempos, o viaduto meia-sola do Edmilson, os dois túneis que alagam no "complexo" do Entroncamento e o pouco eficaz "rasga" do Conjunto do Basa.
Os paraenses sofremos os efeitos danosos da "cultura do atraso", resultante da falência múltipla dos órgãos e das elites políticas paraenses, que só "constroem" projetos de poder, nunca projetos de governo. Os "nossos" políticos profissionais apenas se digladiam pela posse da chave do cofre e da caneta que nomeia ou demite. Esquecem o interesse da sociedade que sustenta essa "máquina" da gestão pública, cada vez mais "inchada" e emperrada. Confundem a "coisa" pública com a privada, literalmente. Suas brigas paroquiais apenas têm prejudicado o desenvolvimento e a modernização do Pará, que só é notícia nacional quando acontece uma desgraça ou pelo desmatamento abissal. O retrato da desídia e da falta de visão de futuro de nossos gestores pode ser dimensionado pela total ausência de políticas públicas para o transporte na cidade e pela indigência e amadorismo das soluções adotadas, que apenas têm contribuído para agravar mais ainda a situação hoje insustentável do trânsito de Belém.
Na década de 80, técnicos japoneses da JICA , uma Consultoria Técnica mundialmente respeitada , elaboraram um completo Plano Diretor de Tráfego Urbano(PDTU) para Belém, com base em estudos que levaram cerca de seis meses de trabalho diuturno nas ruas da cidade. Os diagnósticos precisos e as soluções propostas, plenamente adequadas para a realidade da época, dormem a sono solto nas gavetas de alguma repartição municipal.
Obras viárias e medidas então consideradas inadiáveis como os anéis viários do Entroncamento e da Pedro Álvares Cabral com Júlio César, o prolongamento da avenida João Paulo II até Marituba , o deslocamento da estação rodoviária de São Braz do centro para área periférica, além da prioridade para o transporte coletivo com vias expressas (no canteiro central) nos principais corredores de tráfego como avenida Almirante Barroso e rodovia Augusto Montenegro, foram sendo adiadas por sucessivos governos municipais e estaduais.
A cidade continuou crescendo ou "inchando" diante da falta de planejamento urbano e da omissão dos sucessivos governantes. Com precisão cirúrgica, os técnicos japoneses projetaram uma Belém totalmente "engessada" por volta do ano 2010, caso nada fosse feito para contornar os problemas do tráfego urbano. Acertaram na mosca. Belém já está parando porque quase nada foi feito desde então. Faltou a visão de futuro, que diferencia governantes estadistas de meros políticos carreiristas.

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“Que tal, irmãos paraenses, formalizarmos, via abaixo-assinado pela internet, um convite ao governador do Amazonas, Eduardo Braga (paraense de nascimento), para transferir seu título eleitoral para Belém ou Santarém e então lançarmos sua candidatura ao governo do Pará, em 2010?”
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Diante do cenário de uma cidade "engessada" e mergulhada no caos, merece destaque o ultimato dado pelo Ministério Público do Estado para que a CTBel saía de sua paralisia e adote alguma medida para organizar , pelo menos, o tráfego de caminhões e carretas na cidade, que tem agravado os congestionamentos, causando tumultos na cidade em horários de maior fluxo de veículos. É de todo elogiável o esforço do ínclito promotor de Justiça do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Belém para tentar chamar à responsabilidade autoridades ditas competentes , mas que não estão exercendo sua função com a perspectiva do interesse público .
Outras medidas indispensáveis para desafogar o pesado trânsito na cidade como a construção de terminais de integração e a redução do número de coletivos que demandam o eixo Ver-o-Peso-Presidente Vargas/Boulevard Castilhos França/ Almirante Tamandaré continuam sendo proteladas porque, segundo se comenta nos bastidores rodoviaristas, não atenderiam aos interesses dos senhores donos de ônibus. Com a palavra o promotor Benedito Wilson Sá, que precisa averiguar essa versão na sua meritória cruzada pela melhoria do transito de Belém e louvável tentativa de colocar alguma ordem no caos estabelecido.
Por não vislumbrar soluções de curto prazo, diante da apatia quase geral das autoridades ditas "competentes" e "responsáveis" pelo setor, tenho uma proposta mais ousada. Que tal, irmãos paraenses, formalizarmos, via abaixo-assinado pela internet, um convite ao governador do Amazonas, Eduardo Braga (paraense de nascimento), para transferir seu título eleitoral para Belém ou Santarém e então lançarmos sua candidatura ao governo do Pará, em 2010? Nem interessa saber qual seu partido. O importante é que ele possa continuar aqui em sua terra natal o grande trabalho que vem realizando pelo Amazonas.
Desse modo, em vez de invejar o progresso do Amazonas e de Manaus, iremos compartilhar de suas conquistas, elegendo um paraense que lá se consagrou para o governo do Pará. Ele já disse que não quer ser senador "porque gosta mesmo é de trabalhar". Trabalho é o que mais tem por fazer aqui em Belém e no Pará. Impossível? Não necessariamente. Basta que ele transfira seu domicílio eleitoral para o Pará até 30 de setembro de 2009. Gilberto Mestrinho, na década de 60, prestes a deixar o governo do Amazonas, chegou a lançar sua candidatura ao governo do Pará, com apoio de empresários locais. Só não levou adiante esse projeto porque foi "abatido" em pleno vôo pela "dita cuja" militar.
Então, governador Eduardo Braga, o desafio está lançado. Eleito governador do Pará, o senhor entraria para a História e de quebra, ainda poderia conseguir transformar Belém em mais uma sede da Copa 2014 ,caso alguma das quatro cidades-sedes do Nordeste não atendam à rigorosa agenda de exigências da Fifa. Quem sabe Belém no lugar de Natal, que, segundo se comenta nos bastidores esportivos, não reuniria as condições mínimas exigidas?
Conseguindo "fazer" Manaus e Belém sedes da Copa 2014, o senhor acabaria consagrado e "eleito” Ministro da Amazônia. Lula certamente o apoiaria nessa empreitada. Aos céticos de plantão, gostaria de lembrar que o "novo" sempre assusta , notadamente aos que se acomodam diante do status quo dominante. Parodiando o bardo português, diria que se viver é preciso, ousar também é preciso.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br