Por Alan Cativo, no Blog T
O Blog do Planalto entrou no ar hoje, 31 de agosto, sem permitir a postagem de comentários do público (mesmo que moderada pela equipe da Secretaria de Imprensa da Presidência da República). Aliás, o veículo age exatamente em sentido contrário: há, sim, um arsenal de possibilidades incentivando o público a copiar e distribuir o conteúdo postado, por meio de conexões com Twitter, Facebook, Del.i.ci.ous e outros mais.
Ficou a impressão de que entrou no ar, em verdade, a agência de notícias do Planalto, por assim dizer. E que tem inclusive estrutura como tal, com uma equipe da Secretaria de Comunicação formada por três jornalistas e dois técnicos exclusivos para o blog, informou o G1.
No primeiro dia, os mais de 10 mil acessos simultâneos deixaram de fora muita gente que tentou conhecer o novo canal.
Mas os números podem refletir mais curiosidade que euforia. Primeiro: no final de junho passado a Secretaria de Imprensa abriu uma consulta pública para saber o que o público esperava encontrar no blog. Não vi em que estratégia isso resultou, mas aposto uns trocados que ninguém recomendou cortar a valiosa (mesmo que muitas vezes mal utilizada) caixinha de comentários. Segundo: enquanto divulgava o futuro blog, a promessa oficial era de “informar, explicar e contextualizar as ações, decisões e mensagens do governo federal”. Nitidamente, por hora só o primeiro verbo se faz presente.
Contextualizar talvez tenha sido um dos avanços dos blogs como veículo de comunicação, ao gerar no debate com a platéia uma caixa de ressonância de temas de interesse público – ela mesma, a tal caixa de comentários. Não se quer discutir se alguns blogs não têm critérios e optem deliberadamente por publicar impropérios como se comentários fossem. A platéia é assim mesmo. Mas o caso é que a caixa de comentários é um avanço exatamente ao ampliar a notícia e dar a ela uma perspectiva maior que o lead ou o título.
É quando o blog funciona como mediador, e não distribuidor de informação.
Tentar controlar todo tipo de opinião gerada pelo público é um tremendo desafio para quem administra algum veículo na internet. Criar regras e apegar-se a elas é uma saída moral e jurídica para muitos blogueiros, a exemplo do que faz Juca Kfouri. E veja lá que muitos blogueiros agem como veículo de comunicação, mas passam longe de qualquer registro próximo dos de uma empresa difusora de notícias.
E reparem que já existem empresas especializadas em produzir comentários em blogs selecionados pelo cliente e todas as técnicas de Search Engine Optimization (numa tradução totalmente livre, é algo como “colocar sua marca entre os primeiros resultados do Google”).
Há um universo de grandes questões que diz respeito às caixinhas de comentários, e que é do tamanho de 60% da população da internet brasileira segundo o Ibope Nielsen Online, que apontou quase 22 milhões de pessoas acessando blogs em julho no Brasil.
Nas organizações, vale inclusive ater-se ao conteúdo, às críticas impublicáveis geralmente recusadas nas intranets. Um gerente de comunicação ou de gestão de pessoas a serviço de uma empresa pode aprender, por meio do esculacho na caixa de comentários, como pensam os empregados insatisfeitos que desabafam, criticam e atacam por meio de comentários anônimos. E daí utilizar a parte mais qualificada dessa informação para pautar o futuro do trabalho. Não à toda, pesquisa do IBOPE e do Nielsen Online indicam que agências de comunicação empresarial estão criando áreas específicas para administrar blogs.
O pessoal da comunicação do governo federal não deveria ter medo da tal caixinha de comentários. Para ela iria resvalar muito, muito lixo, sim. Uma montanha de irrelevâncias a ser deletada. Mas também iria catalisar várias correntes de pensamento e percepções sobre temas que sem dúvida devem interessar quem planeja a comunicação do governo. Temas que interessam ao país – e que se pressupõe, portanto, de interesse do próprio governo.
A opção em banir os comentários do Blog do Planalto deve ter suas razões, mas são razões exclusivamente da instituição governo. Muito exclusivamente da instituição. Tão exclusivamente que não dá para entender como um canal de comunicação do governo, justamente o governo, se dispõe a não assumir os riscos e ouvir o público sem a intermediação das pesquisas de imagem e outros indicadores da comunicação. Algum comentário aí?
Um comentário:
Combina bem, Paulo.
Essa democrática posição do governo onde não se comenta ou se opina sobre a "opinião" do presidente, combina com um governo que incensa a democracia no palco e por baixo dos panos pressiona para que ela continue sendo frágil, patrimonialista, corrompida.
Combina sim! Coaduna-se, se você acha mais adequado.Deixa de ser implicante.
Nem lhe mando abraço!
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