segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Kit escolar: mandaram a secretária fazer. E ela fez.

Como diriam os nossos antigos – e os atuais também – narradores esportivos, “o tempo passa e o cronômetro não para”.
Pois é.
O tempo passa, o cronômetro não para e vão surgindo, cada vez mais, informações consistentes de que a secretária de Educação, Iracy Gallo (na foto, da Agência Pará, entregando kit escolar na Escola Anísio Teixeira) deixou-se muito mais envolver do que tomou, ela mesma, a iniciativa de envolver-se em supostas irregularidades nessa questão de mochilas, agendas e camisas de estudante distribuídas pelo governo do Estado.
A secretária, ao que se informa, puxou o arranque para seguir estritamente os ritos da legalidade.
E seguir estritamente os ritos da legalidade consistiria, é evidente, convocar o necessário processo licitatório, na modalidade que a operação exigia por lei.
E aí?
E aí que uma voz das mais autorizadas do governo Ana Júlia determinou-lhe – isto mesmo, determinou-lhe, ordenou-lhe, mandou – que tudo fosse feito da forma que o foi.
O argumento – prosaico, e que se tornaria desastroso, tal a ilicitude configurada – de quem mandou foi o de que seguir a lei, nas circunstâncias, obrigaria o governo a entregar os tais kits neste meio do ano, o que “não teria tanto impacto”.
É uma pena que a doutora Iracy Gallo não tenha se rebelado.
Teria preservado sua biografia. No mínimo, sua biografia.
Agora, a secretária vê-se na contingência de pedir exoneração porque não teve o apoio político de quem manda no governo.
Inclusive de quem, diretamente, mandou que ela fizesse o que fez.
E agora?

Substituição nos próximos dias
A expectativa é de que o governo do Estado formalize o afastamento da secretária de Educação até o final desta semana, no máximo início da próxima.
Enquanto a exoneração não vem, Bila trata de dar a volta por cima.
Politicamente, é claro.
Demonstração disso foi a nota que os jornais publicaram na última sexta-feira.
A nota é assinada por várias empresas que realizam o registro de preços na Região Metropolitana de Belém. Todas demonstram apoio à secretária, a quem reputam como “pessoa de caráter e conduta inquestionáveis, merecedora de nossa admiração.”
Se Bila Gallo ficou bem na foto perante os empresários, não ficou tão bem assim em outras duas fotos.
Era do maior interesse da professora Bila receber o apoio, em forma de nota, do Protocolo das Universidades no Pará, que nada mais do que um fórum que reúne os dirigentes de universidades com sede no Estado.
Para descolar a nota, foi usado como intermediário o professor Licurgo Brito, candidato a vice na chapa da professora Regina Feio, que disputou as eleições para reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), no final do ano passado.
A nota que interessava à secretária, todavia, não foi aprovada. E nem deverá sê-lo.
Agiu-se também em outro campo, o da Undime, a União dos Dirigentes Municipais de Ensino, que reúne todos os secretários municipais de Educação do Pará. Da mesma forma, a Undime, pelo menos até agora, não topou imitar os empresários fornecedores da Seduc.
De mais a mais, não custa perguntar: qual o significado, qual a expressão, qual o peso político de notas como essa dos fornecedores?
Qual?

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que ninguém em sã consciencia assina embaixo, enquanto ordenador de despesas, nem que o Papa mande, uma ação administrativa desse porte e risco, sem algo em troca. Me desculpa, mas creio que não tem santo nessa estória.

Anônimo disse...

Para fazer o certo, não adianta mandar porque ninguém faz. Agora para fazer o errado...

Anônimo disse...

Pelo jeito, a Bila ainda vai virar mártir.

Anônimo disse...

O Anônimo das 12:24 tem toda a razão: ou assinou sem saber o que fazia, o que demonstra incompetência, ou assinou com plena consciência do seu ato, o que revela improbidade (desonestidade) administrativa.
Não há alternativa possível fora das duas possibilidades.