Por CLÁUDIO VERSIANI
Desde que vi essa imagem de André Dusek na internet, soube que um dia teria de escrever sobre ela. Chegou a hora de exorcizar alguns fantasmas.
Penso num monte de adjetivos para descrever o sentimento que os quatro últimos presidentes brasileiros (por onde andará Itamar Franco?) geram no meu cérebro. Talvez a palavra mais correta seja melancolia. Poderia ser tristeza ou ainda a expressão: Brasil, país do futuro! Só se for futuro mesmo, porque o passado e o presente nos maltratam e muito.
Eu nasci em 1954, há 54 anos. Meu pai gostava de Juscelino Kubitschek e eu também, sem saber por quê. Depois Jânio da Silva Quadros. Eu achava ele engraçado. Não era! João Goulart, interessante. Eu começava a me interessar pelo Brasil. Vieram os militares, “os milicos” diziam assim meu pai e todo mundo. Mas eu só tinha dez anos de idade. Se meu pai não gostava, eu também não gostava. Já estava mais do que interessado, queria entender e meu pai tentava explicar. O dia em que JK foi cassado pela ditadura foi um choque familiar na nossa casa. Meu pai e minha mãe perderam o rumo e o prumo.
1968, 14 anos, Beatles, Roberto Carlos, Chico e os novos baianos e a vida seguia um pouco vigiada. No Brasil dos milicos tudo era proibido, era esquisito. Mas para um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones nem tanto, a vida rolava quase tranquila.
Mas a ditadura apertava cada vez mais e aos poucos viver tranquilo foi impossível. A adolescência acabou, a universidade chegou em 1974 e durou até 1979. Não militei no movimento estudantil, porém a Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Minas Gerais era política pura. Em 1978 já estava na rua trabalhando como repórter fotográfico do jornal O Globo na sucursal de Belo Horizonte.
Fotografei Ernesto Geisel duas vezes e morri de medo do homem. Veio João Batista Figueiredo e a ditadura começou a espernear ou a se debater. Tinha os dias contados. João disse que prendia e arrebentava. O atentado do Riocentro arrebentou com ele e com o país, mas ninguém foi preso. Vieram as Diretas Já e todo mundo acreditou. Como éramos bobos.
Dr. Tancredo trabalhava nos palanques pelas Diretas e nos corredores para assegurar sua eleição no colégio eleitoral. Se não bastassem várias tragédias, todas uniformizadas, de Castelo a Figueiredo, mais uma se abateu sobre a nação brasileira. Morreu Dr. Tancredo. Lá veio José Ribamar.
Chegamos à foto de André Dusek. Não vou gastar muito tempo com José Sarney. Foram cinco anos muito complicados e que não deram em nada. Ou em quase nada, deram em Fernando Collor de Mello. Quase ganhamos com Luiz Inácio Lula da Silva. Não fosse aquele segundo debate em que Lula se mostrou estranho e sem ação. Lembra da história da pasta que Collor teria na mão e que teria sido por isso que Lula ficou quieto e sei mais lá o quê?
Fernando Collor de Mello dividiu o país ao meio, os bons e os maus, os honestos e os desonestos. Veio o impeachment, o povo na rua e agora o país vai.
Mas vai de Fusca, chegou Itamar, o moderno, e ficamos por aqui.
Fernando Henrique Cardoso. Agora vai de verdade, o homem é doutor de verdade. Mas FHC fumou e não tragou, disse que Deus não existe e depois desdisse e mandou todo mundo esquecer o que tinha escrito. Eu já esqueci faz tempo e olha que eu não fumei nada. Mas não esqueço que FHC vendeu meio Brasil ou Brasil e meio e... nada de novo. Se reelegeu por mais quatro anos e nada de novo. Claro, não me esqueço do Real. Agora todo brasileiro come iogurte todo dia e um frango no domingo. Que maravilha!
OK. Finalmente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora sim, o PT no poder. Até que enfim, estávamos esperando desde de 1989. Chegou a revolução. Honestidade no poder, agora vai. Lula sabe o valor da educação. O Brasil vai mudar! Mudou sim. Mas não durou muito. Veio o mensalão, e o governo do PT acabou. E Luiz Inácio foi junto.
O Lula que desfila pelo Brasil e pelo mundo não é nem um arremedo de um sujeito que um dia disse que não tinha medo de ser feliz. Ele poderia ter sido uma das grandes personalidades do planeta. Hoje é só uma biografia manchada.
André Dusek, olho para sua foto e fico triste. São 24 anos perdidos. A foto é sensacional. História pura! Já a nossa história é a triste história da política brasileira.
Dias melhores virão.
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CLÁUDIO VERSIANI é Jornalista há 29 anos, foi editor de Fotografia do Correio Braziliense e repórter de Veja, IstoÉ e O Globo. Seu trabalho como fotógrafo já lhe rendeu vários prêmios nacionais e internacionais, como o Líbero Badaró, o Nikon Awards e o Abril de Fotojornalismo. Atualmente, é fotógrafo free lancer em Nova York, onde co-edita a revista eletrônica sobre fotografia www.picturapixel.com/blog.
Artigo disponível no Congresso em Foco
3 comentários:
Ora, não é o que dizem os índices de popularidade do presidente Lula, bem diferentes dos de FHC ao término de seus quatro anos. Lamento discordar de um texto tão bonitinho.
Será que a policia estava presente? Se estava o que fez? Se não fez quando fará?
Vejam todos iguais é o Brasil de todos
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