domingo, 15 de março de 2009

Que dupla, hein?


Será que o segredo do sucesso na política está no chamado velho truque do desaparecer por um tempo? Sim, é a resposta mais sugestiva, após o mandato-tampão do senador Garibaldi Alves, que pouco significou, mas teve a virtude de não ser o redentor das mazelas do Senado. Ademais, durante sua passagem pela presidência, a mais poderosa casa da Corte viveu, pelo menos, um tempo de razoável probidade e concórdia interna. Insuficiente para debelar as imposturas, assume a presidência do Senado José Sarney, trazendo a tiracolo dois políticos em débito com o povo, Fernando Collor e Renan Calheiros.
Quem não se lembra de um ex-presidente da República com ares de "jovem guarda", que fazia do preparo físico uma grande propaganda e foi o responsável por uma série de presepadas no mar, na terra e no ar, ganhando o apelido de Indiana Collor - referindo-se a trilogia que o diretor americano Steven Spielberg dirigiu para o cinema?
Pois é, no início dos anos 90, a mídia publicou uma entrevista espantosa, na qual Pedro Collor, irmão do então presidente Fernando Collor, escancarava o tráfico de influência que havia tomado conta do governo federal. Pedro confirmou à Imprensa que Paulo César Farias, o PC, ex-tesoureiro da Campanha de Collor à presidência, havia se tornado uma eminência parda e montara uma grande rede de corrupção com o conhecimento do presidente.
Segundo o irmão, PC tomava dinheiro de empresários interessados em negociar com o governo, ficava com 30% do arrecadado e repassava o resto para o presidente. Daí em diante, a sustentação política de Collor começou a se fragmentar imediatamente. Nas semanas que se sucederam, várias provas do envolvimento do presidente com a corrupção emergiram. Os estudantes caras-pintadas foram às ruas exigir a saída de Collor.

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“Paulo Brossard, então senador da República, em 1978, disse: "Democracia neste país é relativa, mas corrupção é absoluta.’”
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Em setembro de 1992, a Câmara aprovou o afastamento do presidente e a abertura do processo de impeachment contra ele, numa sessão histórica, acompanhada ao vivo por todo o país. Collor renunciou antes de ser julgado. Mesmo assim, perdeu os direitos políticos por oito anos. Era o fim de festa. O ex-presidente Fernando Collor e a ex-primeira dama Rosane deixam o Palácio do Planalto: pela porta dos fundos. Em 2006, 14 anos depois da queda, voltou à vida política ao ser eleito senador por Alagoas.
Mas política no Brasil admite as alianças de ocasião e certa dose de incoerência, principalmente quando a retomada do poder se dá curtido no caldeirão da vingança. O pouco tempo que transcorreu da eleição e já se vislumbra o tamanho do estrago: Senado vazio e as disputas das presidências de comissões permanentes mediante violação de critérios regimentais para atender os favores de campanha, explosão de atritos até então latentes na base governista e o retorno dos feudos.
E o pior estava por vir, o ex-presidente da República, impichado em 1992, é só mais um inexpressivo cidadão que o governo federal e seus parlamentares ajudaram a ressuscitar. Sob a bênção de Sarney, hoje no comando da Casa, devolveu-se a Renan Calheiros poder para fazer de Collor presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado.
O senador Aloizio Mercadante, após uma carícia, falou da formação de uma "aliança espúria". Reclamava da composição entre o governo, o PTB de Collor e do ilustre Renan Calheiros. Pois é, não é, senador, quem mandou salvar Calheiros, que tinha contas pessoais pagas por uma empreiteira, da cassação em 2007?
Candidato ao governo de Alagoas em 2010, Calheiros restabelece, desse modo, relações, por assim dizer, profícuas com Collor e garante o apoio do PTB e dos meios de comunicação que o ex-presidente controla no estado. O acordo traz ainda outra vantagem ao PMDB: enfraquece o PT. Quanto mais fraco o partido do Nosso Guia fica, mais cresce a força do PMDB na coligação que dá sustentação a Lula.
O PMDB tem, agora, a presidência das duas Casas mais importantes da Corte, um PTB domesticadíssimo - e uma avenida pela frente. Quanto ao PT, só resta estender o tapete vermelho para o grande desfile. Paulo Brossard, então senador da República, em 1978, disse: "Democracia neste país é relativa, mas corrupção é absoluta".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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