sábado, 21 de março de 2009

Legisladores devem entender de leis. Mas eles entendem?


Legisladores legislam.
Se legislam, devem entender de leis. No mínimo.
Se não entendem de leis, alguém deve entender por eles. E quem entende também deve entender o mínimo possível.
Com todo o respeito a Suas Excelências, mas não se admite que os 15 vereadores que assinaram, na Câmara Municipal de Belém, o requerimento pedindo a instalação de uma CPI da Saúde não tenham atentado – eles próprios ou seus assessores – para formalidades que podem até ser idiotices, mas precisam ser observados para não abrir flancos legais por onde possam enveredar os que se opõem a investigações parlamentares do mais relevante interesse público, como é o caso de apurar este caos na no setor de saúde da administração ruinosa, deletéria, perniciosa de Duciomar Costa.
Deem uma olhada nas duas imagens acima. Clique nelas para vê-las melhor.
Contêm a íntegra do teor do requerimento dos proponentes da CPI.
Quais as duas formalidades que a Constituição Federal exige na formalização de um pedido de CPI?
São duas.
Só duas.
E simples – todas duas.
Uma, a de que o fato seja determinado, claro, objetivo, específico, delimitador dos trabalhos da comissão.
A outra é de que a CPI tenha prazo para funcionar.
Leiam de novo o que está escrito acima.
Bastava dizer apenas, em algum momento, mais ou menos assim:

Com base nos dispositivos [tais, tais e tais], os vereadores abaixo-assinados pedem a Vossa Excelência que mande instalar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que deverá apurar, no período de 60 dias, a falta de estrutura dos postos de saúde do município de Belém.
Tal proposição deve-se aos fatos expostos a seguir [com a discriminação de todos os argumentos contidos nos requerimentos acima].


Pronto.
Só isso e apenas isso.
É de uma evidência solar, palmar, clamorosa que todos os fatos descritos pelos 15 proponentes da frustrada CPI da Saúde são notórios, evidentes.
São fatos do conhecimento de todos e são indesmentíveis. Se são indesmentíveis, é porque são absolutamente verdadeiros.
Mas o fato determinado – conforme se exige - não deve ser formulado, não deve ser articulado da forma que o foi no requerimento que se lê aí em cima e que abriu o flanco para que um parecer jurídico da assessoria da Mesa da Câmara considerasse inconstitucional a forma do pedido para a instalação da CPI.
O fato determinado a que a Constituição se refere é uma expressão curta, clara, objetiva que delimite precisamente os limites de atuação da CPI.
Isso, qualquer cidadão sabe.
E sabe muito mais qualquer dotô – qualquer um – que trabalha em assessorias jurídicas de parlamentares.
Céus!
Por que deixaram de lado uma coisa tão simples (apontar o fato determinado e o prazo dos trabalhos), em prejuízo da própria iniciativa das mais louváveis de instalar a CPI?
Quem propôs a Comissão?
Propuseram a CPI 15 vereadores: Raul Batista (PRB); Ademir Andrade (PSB) ; Marquinhos do PT; Alfredo Costa (PT); Amaury da APPD (PT); Adalberto Aguiar (PT); Otávio Pinheiro (PT); Augusto Pantoja (PPS); Cobrador Pregador (PPS); Bispo Antônio Rocha (PMDB); José Scaff Filho (PMDB); Vanessa Vasconcelos (PMDB); Carlos Augusto Barbosa (DEM); Fernando Dourado (DEM).
Desses 15, ao que se sabe, não têm experiência parlamentar apenas e tão somente quatro: Fernando Dourado, Otávio Pinheiro, Augusto Pantoja e Cobrador Pregador. Os demais, todos já têm experiência parlamentar. Ademir Andrade, por exemplo, já foi até senador da República.
E mesmo os vereadores de primeira viagem dispõem de assessores que, se consultados, esclareceriam a melhor forma de redigir o documento de acordo com as formalidades legais.
Foram consultados?
Se o foram, por que não atentaram para uma coisa tão simples, mas que, por ter sido omitida, frustrou a instalação da CPI?
E se não foram consultados, por que não o foram?
Por quê?

6 comentários:

Anônimo disse...

Blog,

Na minha visão faltou apenas o prazo, que poderia ser suprido por um aditamento.

Qualquer fato que fosse ou seja apresentado não seria e não será aceito.

O que o pessoal não vê é que a CPI é instrumento das minorias.

Pior é que tudo aconteceu, e acontecerá ainda, porque o fiscal da lei não faz o que deveria ser feito: fiscalizar.

Um relatório do Ministério da Saúde apontou o desaparecimento de mais de 400 equipamentos e o que a polícia fez? Ao os órgãos municipais fizeram a notícia crime do desaparecimento? Se não, prevaricaram e a polícia pode investigar as duas situações.

No Brasil, mede-se a polícia pela quantidade de armamento e não pelas atividades necessárias a descobrir o crime, a fim de que MP e Judiciário possam fazer melhor a sua parte.

As CPI's se fazem presentes porque a polícia não alcança o espaço que lhe foi dado pela lei.

Estão acostumados a crimes violentos e acham que apenas a violência resolve.

Inteligência (não o serviço em si com esse nome, mas aquela que temos no cérebro) é uma das principais armas contra a bandidagem de todas as matizes.

O que doi mais é ver um senhor de perto dos seus 70 anos (o presidente da Câmara) defender com unhas e dentes o que poderia muito bem ser contronado. Afinal, ninguém está falando em investigar o passarinho que morreu eletrocutado, mas gente que morre todos os dias pela péssima atuação na área de saúde.

Poster disse...

Anônimo,
Assiste-lhe plena razão no seu comentário.
Mas, veja só: custava os vereadores serem claros, claríssimos na definição do objeto da CPI? Em uma linha, poderia delimitar o fato e em duas palavras, o prazo.
Pronto.
Porque não fizeram isso, abriram margem para que os formalismos prevalecessem.
E prevaleceram.
Infelizmente.
Abs.

Anônimo disse...

Se esvrevendo tudo aquilo não aceitaram, imagine se fosse só o que o blog sugeriu (que seria o bastante na minha opinião).

ocorre que nem se tivesse sido redigido por Rui Barbosa seria aprovado.

O negócio também está na assessoria.

Um dia esse políticos vão perceber que precisam de assessores jurídicamente preparados (e em outras áreas também) e não apenas para entupir seus gabinetes e ver a verba ir por ralo a fora.

Poster disse...

Hehehe, Anônimo.
Faz sentido.
As.

Anônimo disse...

Não temos que ter vergonha de perguntar a quem sabe aquilo que não sabemos. Os nossos nobres Vereadores com pinta de quem sabe tudo fizeram um requerimento mal feito e por isso perdemos a grande chance de esmiuçar as coisas do desgoverno do Oftalmobaxareu Dulciomal. Na proximo pedido de CPI, possivelmente na Secretaria de Obras (Sergio Pimentel) façam uma vaquinha e consulte um jurista com conhecimento da causa para que não tenhamos novos dissabores.

Anônimo disse...

Dizem as boas linguas, que tudo foi combinado para não ter CPI. Tudo jogada ensaiada, se saisse, o oculista Dulciomar liberaria seu pessoal para assinar na Assembléia a possivel CPI dos Kits e dicionários. Quem tem c.., tem mêdo.