domingo, 22 de março de 2009

Após aborto, garota de nove anos recebe apoio psicológico

Na FOLHA DE S.PAULO:

Pouco mais de duas semanas após ter sido submetida a um aborto, a menina de nove anos que foi abusada sexualmente pelo padrasto em Alagoinha (PE) passa os dias desenhando, pintando e brincando com bonecas em um abrigo em Recife, com a mãe e a irmã, de 14 anos.
A Secretaria Especial da Mulher, órgão estadual responsável pela tutela da menina, afirma que ela passa bem, tem recebido apoio médico e psicológico e não faz ideia de que passou por um aborto para interromper a gravidez de gêmeos -que estava no quarto mês.
O aborto ganhou repercussão até mesmo na mídia internacional quando o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, tentou barrar o procedimento procurando os pais da menina, diretores do hospital onde ela estava internada e o Tribunal de Justiça.
Sem sucesso, ele lembrou, após o aborto, a lei canônica e afirmou que a mãe e os médicos que participaram do aborto estavam automaticamente excomungados da Igreja Católica.
Dias depois, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) declarou que cada caso deve ser analisado diante de suas próprias circunstâncias e que nenhum familiar da menina estava excomungado.
A secretária da Mulher, Cristina Buarque, afirmou, logo depois do aborto, que a menina pensava que havia sido submetida a um procedimento para se livrar de vermes. A secretária-executiva da pasta, Lucidalva Nascimento, diz que a garota não entende o que passou pois é "muito menina", e que ela realmente acredita que estava apenas com verminose.

Alagoinha
Segundo Nascimento, a mãe não quer retornar a Alagoinha porque teme que as filhas fiquem estigmatizadas na cidade, de 14 mil habitantes, e não consigam retomar suas vidas.
A casa alugada em que o padrasto, a mãe e as duas meninas viviam, na zona urbana de Alagoinha, está trancada desde 27 de fevereiro, quando a menina foi internada em Recife. Segundo vizinhos, o proprietário do imóvel -de dois quartos, sala, banheiro e cozinha- está aguardando a retirada dos pertences da família para poder alugá-lo a outras pessoas.
Lucidalva Nascimento diz que a menina gosta de participar das atividades lúdicas e recreativas promovidas pelo abrigo e que tanto ela como a irmã, que também sofreu abusos sexuais do padrasto, voltarão a estudar assim que retornarem à rotina em uma outra cidade.
Na creche municipal onde estudava o segundo ano do ensino fundamental, em Alagoinha, professoras dizem que ela era "carinhosa e nunca faltava às aulas". Mesmo assim, apresentava déficit de aprendizado que a fez repetir o ano passado.

O pai das meninas
O pai das meninas, que está separado da mãe delas há cerca de dois anos e meio, afirmou à reportagem, na casa onde mora em Alagoinha, que não tem notícias delas. "A última vez que vi minha filha foi no hospital. Ninguém me conta nada."
O lavrador diz que quando a viu, na véspera do aborto, ela apontou para a barriga e disse que teria duas crianças. "Ela falou que ia ser uma dela e outra para a irmã brincar. Ela sabia que estava grávida."
Ele afirma que só permitiu o aborto porque disseram a ele que a filha -que tem 1,36 metro e 33 quilos- ia morrer.
Segundo ele, os encontros com as filhas não eram frequentes porque a separação com a mulher foi traumática.
No dia em que o padrasto foi detido pela polícia e confessou ter abusado sexualmente das duas meninas por cerca de três anos, o pai diz que foi chamado por amigos e vizinhos para ir à delegacia, mas preferiu não seguir ao local. Segundo ele, se for preciso, vai pedir para ter a guarda das meninas.

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