sábado, 20 de dezembro de 2008

Um homem bom. Um homem Tigre. Um doce Tigre.

Há homens bons que não parecem ser bons.
Há homens bons que são bons sem ostentar que o são.
Há homens bons que são bons, mas não parecem naturalmente bons.
Isaac – acima, na redação de O LIBERAL, na foto de Cristino Martins - era um homem bom.
Isaac era um homem naturalmente bom.
Isaac era um homem que parecia naturalmente bom.
Isaac era um Tigre – assim mesmo, sem aspas – dos mais doces.
Era o mais doce dos Tigres.
O mais afável, cordato, educado, gentil, respeitador dos Tigres.
O tigre que dominava o Tigre era um tigre da paz, da convivência fraterna, construtor de convívios harmoniosos.
Muitos que não conheceram o Tigre, ou que o conheceram apenas como jornalista que se tornou o decano dos colunistas sociais do Pará, poderão ter feito dele a imagem de alguém distante do rés-do-chão, de sentimentos de fraternidade muito próprios de quem cultiva vaidades sem excesso.
Enganam-se.
O poster teve a felicidade de conviver com o Tigre por mais de 20 anos, em alguns períodos assiduamente, em outros períodos esparsamente, quando nossos horários na redação passaram a se desencontrar – Isaac saía quando o blogger chegava.
E nesses períodos de encontros esparsos é que Isaac demonstrava uma afetuosidade comovente.
- Tigre, venha cá. Nunca mais... Parece que você se esqueceu do Tigre. Parece que não gosta mais do Tigre – era o que sempre dizia no reencontro conosco.
Em meados da década de 80, quando o poster foi chefe de reportagem em O LIBERAL, ainda na redação antiga, da Gaspar Viana, é que o contato estreitou-se.
Isaac chegava à redação por volta das 9h, de terno e gravata, como convinha aos antigos jornalistas.
Chegava à redação e não dava “bom dia”. Dizia apenas, com uma saudação em tom elevado.
- Tigre!
Era só. Era o seu “bom dia”, antes de acomodar-se no fundo da redação, embaixo de um relógio, numa mesinha que ficava ao lado, bem ao lado da mesa ocupava por Alyrio Sabbá. Ali, no início da manhã, apenas os três – Alyrio, Isaac e o poster, então chefe da reportagem -, repassávamos as primeiras fofocas do dia, que também poderiam ser as últimas.
E foi neste contato assíduo que o Tigre se mostrava o mais doce dos Tigres. Até para pedir, até para cobrar alguma coisa – um carro para uma reportagem, um fotógrafo para cobrir um evento -, parece que Isaac o fazia com sentimento de culpa.
Na sua mesinha ao fundo da redação, Isaac recebia pessoas o dia inteiro. Provavelmente, eram raros os que iam lhe dar um abraço, dizer-lhe um “muito obrigado” por alguma nota que saíra em sua coluna. A maioria ia pedir-lhe mais notas, mais fotografias na coluna. Ele sabia lidar bem com isso, sem perder a elegância.
Isaac era elegante.
Usava termos elegantes, hoje em desuso. “Dama de belas virtudes” era uma de suas expressões preferidas. A dama poderia não ter nenhuma virtude, mas ele a tratava assim. O que fazer? Isaac era elegante.
Seu jornalismo personificou-se.
Critica-se muito os jornalistas porque seriam gente do mal, que só sabe fazer intrigas, só sabe dar relevância ao negativo.
Isaac é de uma geração de jornalistas que fez do colunismo social uma espécie de página de relações públicas de um jornal. Uma espécie de “página do bem”, ou de “página do jornalismo do bem”.
As pessoas são vaidosas. Umas mais, outras menos, mas todas são. Uma nota sobre um aniversário, uma nota sobre o sujeito que viajou a Paris, uma nota sobre a colação de grau de uma graduanda, sobre uma premiação de um determinado profissional, sobre o casal que vai “trocar alianças no altar” são notas que, a rigor, interessam apenas ao aniversariante e seus próximos, à graduanda e seus próximos, ao premiado e seus próximos, ao casal e seus próximos.
Mas quem não lê coluna social?
- Eu não leio - dirá você.
Você é um dos poucos.
A coluna de Isaac sempre teve uma enorme audiência, uma enorme aceitação.
A coluna de Isaac promoveu gente que, se hoje é conhecida, deve isso ao Tigre.
Quantos se lembrarão disso? Quantos serão gratos a Isaac por isso? Quanto estarão hoje sinceramente comovidos porque o Tigre nos deixou?
Sabe-se lá.
Há muitos que preferiram guardar do Tigre essas imagens.
O poster chegou, por várias vezes, a perguntar a outras pessoas como ele estava de saúde. Diante das informações que obteve, preferiu não ir à casa de Isaac visitá-lo.
Desculpa, Tigre, eu não tive coragem de lhe ver.
Tenho de confessar isso e pedir-lhe desculpa.
Mas, ao contrário do que você dizia nos nossos reencontros, não me esqueci de você, não.
- Parece que você se esqueceu do Tigre. Parece que não gosta mais do Tigre – você dizia.
Não, ninguém se esquecerá de você. Sempre gostaremos de você.
Com este testemunho, o blog não fará mais postagens hoje.
Se fizer mais postagens, esta, sobre o Tigre, passará para baixo.
E o Tigre não pode ir para baixo.
O Tigre tem que permanecer no topo – dos nossos corações, das nossas boas lembranças.
O Tigre tem que ficar no alto.
O Tigre tem que ficar no céu.
Para sempre!

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns, mestre PB.
Voce também é um Tigre.
Abs

Poster disse...

Grande Juca,
Obrigado.
Quem conheceu o Tigre, é impossível não ter gostado do Tigre.
Abs.

RUI RAIOL disse...

Mesmo ser ter estado pessoalmente com ele, podia mesmo ver sua alma através das letras.

Isaac combinava elegância e simplicidade como poucos. Raro dom!

Essa postagem, Paulo, está digna dele.

Rui Raiol

Poster disse...

Olá, Rui.
Simplicidade.
Realmente, isso resume o que era o Tigre.
Abs.