O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará, Antônio Carlos Albério, garante ao blog por telefone que não existe, pelo menos no Crea-PA, qualquer embargo com relação às obras dos edifícios “Village Sun” e “Village Moon”, as duas torres – de 40 andares cada uma – construídas pela Construtora Village e fincadas na Avenida Visconde de Souza Franco, a Doca.
Nos últimos dias, com a paralisação evidente, visível e incontestável das obras – pelo menos até a última sexta-feira – uma onda de boatos se disseminou em Belém. Isso motivou a empresa a comprar duas páginas do caderno “Negócios”, do Diário do Pará, para oferecer sua explicação. Mas não explicou. Infelizmente, não explicou.
Ao contrário, a Village lançou mão da betoneira verbal para cutucar a concorrência – classificada pelo presidente da construtora de “desleal e medíocre” - e para atribuir tudo a algo muito parecido a fofocas de comadres. Além disso, a empresa criou uma categoria nova de boato: o “falso boato”, o que permite a quem não é da Village imaginar que existe o boato verdadeiro, ora pois.
Albério explicou ao blog que o Crea apenas registra a obra, mas não analisa projeto. O registo consiste, sobretudo, em exigir que a obra tenha um responsável técnico e que o profissional indicado tenha formação e atividade compatível com o empreendimento.
O presidente do Crea acrescentou que técnicos do Conselho fazem, sim, fiscalizações regulares nas obras em curso. Mas, quando é detectada qualquer anormalidade, a providência que cabe ao Crea é comunicar à Secretaria de Obras do Município e, se for o caso, ao Corpo de Bombeiros e ao órgão encarregado pela emissão de laudos periciais. No caso das duas torres, diz Albério, pelo menos que seja de seu conhecimento, nenhuma anormalidade chegou ao conhecimento do Crea.
Mediocridade expressa, boataria crescente
A nota que o presidente da Village assina, e que está publicada em uma das páginas do caderno “Negócios”, mal disfarça a intenção de atribuir os “falsos boatos” – céus! - a coisa de medíocres, que “só se preocupam em falar de pessoas. É o que dizem os singelos ditos que encerram a nota. Dizem assim:
“Pessoas sábias falam sobre idéias.
Pessoas comuns falam sobre coisas.
Pessoas medíocres falam sobre pessoas.”
Engana-se a Village – e engana-se perigosamente –, ao imaginar que a ninguém deveria interessar ou que a todos deveria passar completamente despercebido quando uma obra, ou melhor, quando duas obras do porte das duas torres são paralisadas.
Isso é que é de uma mediocridade atroz. Por quê?
Porque a Village é uma construtora de grande porte para os padrões de Belém e do Pará. Porque as duas obras que executa têm grande impacto. inclusive no cenário urbano do bairro do Umarizal. Porque a publicidade em torno do empreendimento tem sido maciça. E porque, ao que se informa, dezenas de famílias já adquiriram imóveis nas duas torres. E por último, mas não menos importante: porque as obras estão paralisadas – ou pelo menos estavam, repita-se, até sexta-feira passada. Isto, a paralisação das obras, é de uma evidência solar. E se obras desse porte param, é justo que se pergunte: pararam por quê? Por que pararam? Soa como ofensivo à Village questionar-se isso?
Talvez faltou alguém orientar a direção da Village no sentido de que, quando nada se tem melhor a dizer sobre uma certa situação, é melhor calar. O que não é conveniente é achar que são maledicentes, maldosos e fofoqueiros os que procuram uma explicação plausível, aceitável e veraz sobre assunto dos mais relevantes.
Talvez faltou alguém dizer à direção da Village, além disso, que os “falsos boatos” – céus! – só se propagam justamente quando ninguém explica, quando o silêncio permanece ou quando são oferecidas explicações que não explicam, quando são oferecidas explicações que, em verdade, não são explicações, mas peças publicitárias, ainda que produzidas no estilo de matérias jornalistas.
O blog até que amanheceu esta segunda-feira com o ânimo de tentar um contato com a direção da Village, inclusive só para ouvir um “não falaremos mais sobre o assunto”. Mas lembrou-se que, na nota publicada ontem, o presidente da empresa escreve: “E, por fim, damos por encerrada tal questão, que não contribui em nada para o desenvolvimento de nosso Estado.”
Então, pronto. Como o diktat do presidente da Village parece terminante, definido, irrevogável e irretratável, ficamos todos livres para debater sobre boatos.
Sobre falsos boatos e sobre boatos verdadeiros, seja bem dito.
2 comentários:
O "falso boato" e os comentários se encerrariam tranquilamente se a construtora solicitasse a manifestação pública do Centro Tecnológico da Ufpa que, segundo a própria, monitora suas obras.
Parece fácil e seria útil para todos, não?
Claro, Anônimo.
É exatamente isso.
Mas o que se percebe claramente, nessa situação toda, é que não existe interesse em esclarecer o assunto.
A empresa, se quisesse, seria a primeira a esclarecer o assunto. Mas não se percebe essa intenção. Ao invés de esclarecer, cria mais confusão. Ao invés de esclarecer, dissemina ainda mais dúvidas.
Qual o resultado? Mais especulação. Mais "falsos boatos". Mais especulações. E tudo isso conflui contrariamente às pretensões da empresa, de zelar por sua imagem.
O blog vai postar, nesta terça-feira, seu comentário curto, mas elucidativo. Bastante elucidativo.
Abs.
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