segunda-feira, 19 de maio de 2008

O ambientalista do Leblon

Por Ronaldo Brasiliense

 

Tenho o maior respeito pela história do ambientalista gaúcho José Lutzenberger, falecido há alguns anos. Ele foi nomeado pelo então presidente Fernando Collor para a Secretaria de Meio Ambiente antes da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. Foi, sobretudo, uma grande jogada de marketing ambiental. Lutz falava em alemão fluente com os verdes germânicos, grandes doadores para projetos ambientais em território brasileiro.

José Lutzenberger construiu uma história na área ambiental ao bater de frente contra a poderosa indústria do agrotóxico e o plantio de transgênicos. Enfim, pautou a vida defendendo suas idéias e deixou como herança a Fundação Gaia, criada para garantir a sobrevivência e sustentabilidade de todas as espécies de nosso sistema vivo.

O renome de Lutzenberger não o impediu de cometer bobagens. Uma delas, presenciei in loco: em 1992, estava a bordo do Búfalo da Força Aérea Brasileira (FAB) acompanhando o presidente Collor em viagem ao pelotão Surucucus, do Exército, dentro da terra indígena yanomami, em Roraima. Na viagem entre Boa Vista e a reserva yanomami, Lutzenberger apontou para os campos naturais de Roraima e sentenciou para Collor:

- Esse é o resultado, presidente, da destruição da Floresta Amazônica!

O general Santa Cruz, então comandante militar da Amazônia, quase saiu de seu assento e comentou com os que estavam mais próximos:

- Isso é o que dá colocar para cuidar do meio ambiente do país uma pessoa que nunca sequer esteve na Amazônia.

Santa Cruz, que defendia teorias xenófobas sobre a internacionalização da Amazônia e já àquela altura criticava a atuação de organizações não governamentais estrangeiras na região, estava desta vez coberto de razão: os campos de Roraima, um cerrado, prolongamento da savana venezuelana, só haviam abrigado floresta tropical, se haviam, milhares de anos antes. Lutzenberger morreu – pediu para ser sepultado completamente despido em seu sítio gaúcho –, mas aquela imagem dos campos de Roraima ficou na memória.

Conto a história, 16 anos depois, para no dia de hoje chegar à indicação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do deputado carioca Carlos Minc para ocupar o lugar da senadora acreana Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente. Nada contra Minc, que forjou seu ambientalismo entre Ipanema e Leblon e também tem história.

Mas tenho que lembrar a todos que Carlos Minc entende tanto de Amazônia quanto os pandas chineses. Se a Amazônia é a maior preocupação ambiental do Brasil – quem sabe do mundo – que o novo ministro trate desde já de meter a mão na massa amazônica. Que venha à região aprender. Não pode ser ministro do meio ambiente do Brasil quem não sabe diferenciar um tracajá de uma tartaruga expansa.

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