O caso do bispo eleito presidente do Paraguai, dom Fernando Lugo - que desobedeceu ao Papa e à Santa Sé e se manteve candidato a presidente da República e foi eleito – caracteriza um fato novo na Igreja, e lamentável. Ele está suspenso a divinis, quer dizer, não pode exercer o ministério sacerdotal e episcopal, mas continua bispo. O Vaticano está estudando seu caso. Uma vez bispo, bispo para sempre, pois o sacramento da Ordem não pode ser cancelado.
É a primeira vez em que um bispo católico é eleito presidente da República, portanto, trata-se de situação inédita. Em janeiro do ano passado (2007), o Vaticano suspendeu o bispo dom Fernando Lugo a divinis, que significa, segundo o Código de Direito Canônico, que o "sacerdote continua obrigado aos deveres a ele inerentes, embora esteja suspenso do ministério sagrado". Dom Lugo pediu ao Papa para retornar ao estado laico, mas o Pontífice rejeitou sua solicitação. Todo bispo ao ser assim ordenado presta um juramento de obediência ao Papa; e esta obediência foi quebrada, o que sem dúvida é algo grave.
A eleição do religioso oposicionista Fernando Lugo para a presidência do Paraguai interessa aos brasileiros. Lugo é mais um político de oposição que chega ao poder - depois de seis décadas de domínio colorado - protegido por um partido pequeno e sem apoio no Congresso para governar. Este fenômeno nos lembra a eleição de Salvador Allende, no Chile, e a de Jânio Quadros e de Fernando Collor, no Brasil.
Se Lugo não tiver a competência que Lula teve para formar uma coalizão de apoio ao governo no Congresso, algo de surpreendente poderá ocorrer no Paraguai. Nesta semana, de acordo com informações divulgadas pela imprensa local, Fernando Lugo prometeu fortalecer a "unidade continental" e promover a "integração regional". Ele declarou que cuidará de elaborar um "plano de emergência" contra a fome, particularmente entre os indígenas; melhorar a saúde pública e reduzir o desemprego.
Como fazer tudo isto sem o apoio do Congresso? É uma questão a resolver depois da posse. Lugo, bispo católico que renunciou ao sacerdócio para candidatar-se à presidência, apóia-se na "Aliança Patriótica" que fundou com base em 11 sindicatos e movimentos indígenas. Esta é a estrutura de apoio que ele tem para governar.
Ademais, ganhou notoriedade como o "padre dos pobres" e impressionou os eleitores com uma intransigente defesa da ética na política. Recebeu o apoio popular ao denunciar o "imperialismo brasileiro causador de males sociais no Paraguai" e defende revisão no Acordo de Itaipu para aumentar o preço da energia que o País vizinho vende ao Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que não aceitará revisão do Acordo de Itaipu, que vence em 2023, mas o governo brasileiro tem uma alternativa para negociar com o presidente eleito do Paraguai: antecipar o pagamento da energia a ser fornecida por aquele país ao Brasil, a partir de 2023, e começar a pagar a diferença agora. É proposta para negociar.
Os riscos previsíveis de Itaipu para o Brasil são maiores do que os gerados pelo gás boliviano. Para Lugo, o que interessa é uma receita maior pelo fornecimento de energia elétrica ao Brasil, mas os riscos não são só econômicos, mas também militares e políticos. O Brasil terá daqui para frente dois problemas a administrar, na Bolívia e no Paraguai.
Aos brasileiros é preciso atenção máxima para uma crise continental que se desenha em câmera lenta na Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai e Argentina. Devemos estar vigilantes para a Bolívia que terá um plebiscito neste 4 de maio para criar o Estado de Santa Cruz. Pode ser o começo de um sério conflito de conseqüências imprevisíveis no continente.
Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
É a primeira vez em que um bispo católico é eleito presidente da República, portanto, trata-se de situação inédita. Em janeiro do ano passado (2007), o Vaticano suspendeu o bispo dom Fernando Lugo a divinis, que significa, segundo o Código de Direito Canônico, que o "sacerdote continua obrigado aos deveres a ele inerentes, embora esteja suspenso do ministério sagrado". Dom Lugo pediu ao Papa para retornar ao estado laico, mas o Pontífice rejeitou sua solicitação. Todo bispo ao ser assim ordenado presta um juramento de obediência ao Papa; e esta obediência foi quebrada, o que sem dúvida é algo grave.
A eleição do religioso oposicionista Fernando Lugo para a presidência do Paraguai interessa aos brasileiros. Lugo é mais um político de oposição que chega ao poder - depois de seis décadas de domínio colorado - protegido por um partido pequeno e sem apoio no Congresso para governar. Este fenômeno nos lembra a eleição de Salvador Allende, no Chile, e a de Jânio Quadros e de Fernando Collor, no Brasil.
Se Lugo não tiver a competência que Lula teve para formar uma coalizão de apoio ao governo no Congresso, algo de surpreendente poderá ocorrer no Paraguai. Nesta semana, de acordo com informações divulgadas pela imprensa local, Fernando Lugo prometeu fortalecer a "unidade continental" e promover a "integração regional". Ele declarou que cuidará de elaborar um "plano de emergência" contra a fome, particularmente entre os indígenas; melhorar a saúde pública e reduzir o desemprego.
Como fazer tudo isto sem o apoio do Congresso? É uma questão a resolver depois da posse. Lugo, bispo católico que renunciou ao sacerdócio para candidatar-se à presidência, apóia-se na "Aliança Patriótica" que fundou com base em 11 sindicatos e movimentos indígenas. Esta é a estrutura de apoio que ele tem para governar.
Ademais, ganhou notoriedade como o "padre dos pobres" e impressionou os eleitores com uma intransigente defesa da ética na política. Recebeu o apoio popular ao denunciar o "imperialismo brasileiro causador de males sociais no Paraguai" e defende revisão no Acordo de Itaipu para aumentar o preço da energia que o País vizinho vende ao Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que não aceitará revisão do Acordo de Itaipu, que vence em 2023, mas o governo brasileiro tem uma alternativa para negociar com o presidente eleito do Paraguai: antecipar o pagamento da energia a ser fornecida por aquele país ao Brasil, a partir de 2023, e começar a pagar a diferença agora. É proposta para negociar.
Os riscos previsíveis de Itaipu para o Brasil são maiores do que os gerados pelo gás boliviano. Para Lugo, o que interessa é uma receita maior pelo fornecimento de energia elétrica ao Brasil, mas os riscos não são só econômicos, mas também militares e políticos. O Brasil terá daqui para frente dois problemas a administrar, na Bolívia e no Paraguai.
Aos brasileiros é preciso atenção máxima para uma crise continental que se desenha em câmera lenta na Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai e Argentina. Devemos estar vigilantes para a Bolívia que terá um plebiscito neste 4 de maio para criar o Estado de Santa Cruz. Pode ser o começo de um sério conflito de conseqüências imprevisíveis no continente.
Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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