segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Entraremos [nas obras] e vamos acabar de nosso modo"

O site Pará Negócios, do jornalista Raimundo José Pinto, divulga a íntegra do abaixo-assinado que representantes de várias etnias indígenas entregaram na semana passada ao juiz federal substituto Antonio Carlos Almeida Campelo, com quem se reuniram por cerca de duas horas na Subseção de Altamira.

No documento, além da promessa dos índios de que estão dispostos a sacrificar a própria vida para barrar a construção da usina de Belo Monte, há uma outra ameaça: "Caso os senhores não consigam parar essa obra, nós, povos indígenas da Bacia do Xingu entraremos até os canteiros de obras desses empreendimentos e vamos acabar de nosso modo."

Veja aí embaixo a íntegra do abaixo-assinado:

 

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DOCUMENTO DOS POVOS INDIGENAS DA BACIA DO XINGU

 

Nós, delegados das comunidades indígenas da bacia do Rio Xingu, kayapó da Aldeia Kriny, kayapó do Bacajá Xikrin, Kayapó de Las Casas, Kaiapó de Gorotire, Kayapó Kubenkrãkênh, Kayapó Moikarakó, Kayapõ Pykarãrãkre, Kayapó Kendjâm, Kayapó Kubenkàkre, Kayapó Kararaô, Kayapó Purure, Kayapó Tepore, Kayapó Nhàkin, Kayapo Bandjunkôre, Kayapó Krânhãpari, Kayapó Kawatire, Kayapó Kapot, Kayapó Metyktire, Kayapó Piaraçu, Kayapó Mekrãnoti, Kayapó Pykany, Kayapó da Aldeia Aukre, Kayapó da Aldeia Kokraimoro, Kayapo Bau, Kayapó Kikretum, Kayapó Kôkôkuêdja, Mrotidjam Xikrin, Potikrô Xikrin, Djudjekô Xikrin, Cateté Xikrin, Ôodja Xikrin, Parakanã da aldeia Apyterewa e Xingu, Akrãtikatejê, Parkatejê, Munduruku, Araweté, Kuruwaia, Xipaia, Asurini, Arara da aldeia Laranjal e Cachoeira Seca, Arara do Maia da terra Alta, Panará, Juruna do Kilômetro 17,Tembé, Kayabi, Yudja, Kuikuro, Nafukua, Kamaiurá,Kalapalo, Waurá, Trumai, Xavante, Ikpeng, juntos com outros povos indígenas do Brasil nos colocamos em defesa do Rio Xingu e seus afluentes contra as barragens e outros projetos energéticos que estão previstos para serem construídos aqui.

Gostaríamos muitos que a justiça federal seja sensível ao pedido das comunidades indígenas, pois não aceitamos a construção de barragens no nosso rio. Queremos que essa ação seja definitiva e para sempre. Também queremos dizer que não vamos mais perder nenhuma parte da nossa terra,pois sabemos que estas construções de barragens nunca trouxeram e nunca irão trazer benefício algum para nossas comunidades, para os ribeirinhos, para os pescadores, para os pequenos agricultores que se encontram e vivem às margens do rio Xingu.

Esses projetos só trazem miséria, destruição e morte. Caso os senhores não consigam parar essa obra, nós, povos indígenas da Bacia do Xingu entraremos até os canteiros de obras desses empreendimentos e vamos acabar de nosso modo.

Aconteça o que acontecer, nós, povos indígenas morreremos defendendo as nossas vidas, nossos patrimônios e nossas terras. Dizemos a vocês ainda que haverá conflito entre o empreendedor e os povos indígenas, caso os senhores não parem com essas obras.

Já estamos cansados de ouvir e não sermos ouvidos. Já estamos cansados de escutar ameaças de construção de barragens na volta grande do Rio Xingu. Não estamos só em defesa do Rio Xingu, mas dos rios da Amazônia: moradia dos povos indígenas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não entrando no mérito da posição radical indígena, fica uma curiosidade no ar:
Quem terá sido o cacique-literato-linguista-ambientalista autor desse texto tão corretamente elaborado?
Os caciques que temos visto via TV não costumam se expressar com tanta clareza assim.
Será, eu disse será, que alguma daquela milhares de ONG's que "desinteressadamente" lhes dão apoio, apenas por a-d-o-r-a-r o verde da (ainda nossa) floresta, não esteve contribuindo para a elaboração desse texto?
Em tempo: se dividirem o número de indígenas pela quantidade de ong's que os defendem (grande parte com o nosso dinheirinho via governo), vai faltar índio.
Também está faltando juizo para a Eletronorte/Governo na condução (péssima) do assunto hidrelétricas.

Poster disse...

Anônimo,
Seus comentários serão postados na ribalta, mais tarde.
Abs.

Anônimo disse...

Quem terá sido o literato-linguista-desenvolvimentista que escreveu a inteligentíssima nota do anônimo das 15:25? Se dividirem o número de xerimbabos das empreiteiras pela quantidade de grana que elas vão graciosamente bamburrar, vai ter muito bolso cheio!