domingo, 13 de janeiro de 2008

Trocando seis por meia dúzia



O Brasil é uma grande Nação. Não merece passar por momentos de angústia e de insensatez como os que vem transpondo nos últimos anos. Afora ser aspergido por uma série de escândalos, estamos desde setembro de 2006, até os dias de hoje, sem comando, com um presidente que parece não gerenciar o país e tem a ousadia de falar à nação que desconhecia que a situação no setor aéreo estava insubsistente, e como sempre não sabia de nada. Como não sabia? Se todos os dias os problemas no setor aéreo eram matéria repetitiva na Imprensa escrita, falada e televisada. Foi preciso que mais um desastre de grandes proporções, para que o governo fizesse mudanças no Ministério da Defesa.
Esta crise no setor aéreo é de gerenciamento, e de inapetência de gestão. Decorre de burocratismos que ignoram o interesse público. A crise tem motivação na falta de transparência, onde se fazem obras premiadas de arquitetura nos terminais de passageiros, maquiando as lojas e lanchonetes que se transformam em praça de alimentação de verdadeiros shoppings, que vendem e oferecem do bom e do melhor, sem se preocupar com os procedimentos básicos, como desconcentrar vôos e evitar que aeronaves, nas operações de pouso e decolagem, exponham-se a riscos de percorrer pistas escorregadias e portadoras de todos os defeitos de concreto e asfalto que a boa engenharia condena.
Em verdade, os brasileiros estavam cansados diante da inoperância do ex-ministro Waldir Pires, já sem apoio e em adiantado processo de "fritura", que só ele parecia não perceber. Magoado e melancólico, foi demitido. O presidente Lula, lamentavelmente, estava perdido e quase provocou uma grave crise entre as Forças Armadas. Enlevado com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, já havia quase decidido nomeá-lo ministro da Defesa, quando assessores tentaram demovê-lo da idéia que desagradaria a Marinha e o Exército, até que Nelson Jobin aceitou o convite após recusar por duas vezes.
Diante dos flagrantes da negligência do governo federal em forjar uma estrutura confiável, do ponto de vista técnico-operacional, seja dos aeroportos e aeronaves ou mesmo da malha aeroviária, o ente principal está na não escolha adequada e minuciosa dos profissionais que dominem o setor de competência em questão, a fim de que seja formada uma força-tarefa capaz de conceber corretamente as matrizes de diagnose e principalmente de prognose referentes às causas e efeitos das problemáticas que abrangem o referido modal há algum tempo e envergonham o país perante o mundo, tais como: atrasos constantes dos vôos, aglomeração exacerbada de passageiros na esperança de chegar aos seus destinos (por direito adquirido), má ou tardia administração de grande parte da estrutura dos aeroportos (inclusive os de grande movimento), desmandos nas funções de controle de vôo e, por fim, o colapso do conceito mais elementar da engenharia às pistas e mesmo às aeronaves aeroportuárias, no que devem proporcionar aos usuários: conforto, segurança, e economia de custos operacionais.
Essa sucessão de inabilidades, de condutas erráticas, excêntricas, desarvoradas e politicamente incorretas sob todos os aspectos acaba de consolidar, em amplos setores da opinião pública, a convicção de que o governo já perdeu completamente o controle da situação. E a falta de controle leva inevitavelmente à falta de sensatez; ou seria a falta de sensatez que leva à falta de controle? A austeridade e a soberba de Jobim já começou a atiçar a fogueira de presunções dos que pretendem sentar na cadeira de Lula. A continuar essa "guerra de vaidades", parece que vamos trocar seis por meia dúzia.

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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