O ex-presidente do Paysandu e atual presidente da Junta Comercial do Pará (Jucepa), Arthur Tourinho, tem dito a amigos que não foi à reunião do Conselho Deliberativo, na qual se decidiu por unanimidade eliminá-lo do quadro de associados do clube, para não se ver obrigado a dizer o que pensa e o que sabe sobre o atual presidente do Conselho Deliberativo (Condel), Ricardo Rezende.
Rezende, que o atual presidente do clube, Miguel Pinho, chama de “primeiro-ministro”, é alvo das antipatias de Tourinho não é de hoje. Que eles se estranhem, é problema deles. Mas não há dúvida de que a torcida do Paysandu – e mesmo a que não torce para o time bicolor – gostaria mesmo de saber o que ex-presidente tem a dizer sobre alguns componentes da atual administração.
O mais certo, todavia, é que Tourinho não foi à reunião que o excluiu, em 18 de dezembro do ano passado, porque não tinha como se defender das acusações gravíssimas que constam do relatório do advogado e conselheiro Sebastyão Haber, com base em dados levantados por auditores designados para vaculhar a adiministração do ex-presidente.
Haber, aliás, chegou a prometer ao Espaço Aberto que liberaria o documento, mas outro advogado que trabalhou com ele, Clodomir Araújo Jr., deu a contra-ordem. Disse que não poderia liberar o texto do relatório porque a decisão de mantê-lo sob reserva foi uma “posição fechada pelo jurídico do clube”.
Respeite-se a obediência do advogado à “posição fechada pelo jurídico”. Mas por que a reserva? Por que não revelar o inteiro teor do relatório, distribuí-lo à Imprensa, afixá-lo em lugar bem visível na sede social do Paysandu? O jurídico do Paysandu teme estar expondo indevidamente Tourinho à execração pública? Mas por que esse temor, se a própria eliminação do ex-presidente pelo Condel bicolor foi a maior condenação execratória que poderia ser imposta ao ex-cartola?
Mas deixemos os advogados pra lá e vamos ao relatório.
O Espaço Aberto obteve uma cópia do relatório de Haber. Basta ler com um mínimo de atenção suas dez laudas para se concluir o seguinte, em resumo: na verdade, os cofres do Paysandu, durante a gestão Tourinho, foram transpostos para dentro da empresa Ruben Martins Turismo, que tem como proprietária a atual companheira do ex-presidente do clube. A Rubens Martins Turismo poderia bem ter sido chamada, durante a era Tourinho, de Rubens Martins Paysandu Sport Clube Turismo. Se não o fez, foi por extremos pudores.
A empresa chegou a movimentar quase R$ 1 milhão – exatos R$ 934.635,10 – do próprio Paysandu. A alegação para esta, digamos, gestão compartilhada foi a de que o clube não poderia movimentar conta bancária, porque estava todo endividado.
O relatório expõe fatos escabrosos. A seguir, alguns deles:
* A auditoria na gestão Tourinho detectou “múltiplas cobranças a título de ‘taxa de assessoramento’ [pagas pelo clube à Ruben Martins Turismo], mas nenhum contrato foi apresentado à auditoria respaldando essas cobranças”.
* “Múltiplos são os casos de despesas de passagem aérea para pessoas sem vínculo direto com o clube, não tendo sido localizados documentos contratuais que as amparassem, beneficiando mulheres e crianças.”
* O relatório diz que foi “vultosa a movimentação financeira decorrente da venda ou transferência de atletas do clube para outras agremiações. Essas movimentações, como atestou o auditor em depoimento, revelaram indubitavelmente a imprestabilidade dos documentos que compunham os balancetes existentes no clube.”
* O relatório apresenta vários casos de transações com jogadores como Sandro Gaúcho, Balão, Jobson e Magnum para mostrar que, assim como entravam nos cofres do Paysandu, os recursos imediatamente saíam. E invariavelmente eram destinados à Ruben Martins Turismo, para o pagamento da tal “taxa de assessoramento”.
* Em duas oportunidades, o dinheiro foram parar na conta da empresa Brasil Service, do empresário Chico Ferreira, condenado a 80 anos de reclusão como mandante do assassinato dos irmãos Novelino, crime ocorrido em abril do ano passado. Numa das vezes, foram destinados R$ 200 mil referentes à liberação dos jogadores Márcio da Silva Gomes e Rodrigo Silva dos Santos. Numa outra vez, mais R$ 200 mil foram transferidos pelo Paysandu à Brasil Service de Chico Ferreira. O dinheiro era parte dos R$ 500 mil que o clube recebeu ao liberar o jogador Magnum.
A conclusão do relatório é contundente: “Como se vê, realmente a administração do associado Arthur Tourinho esteve por demais afastada dos princípios da probidade administrativa, revelando em realidade ações desvinculadas do interesse do clube, para logicamente beneficiar terceiros. Os inúmeros pagamentos realizados à empresa Ruben Martins, sem a devida comprovação, por si só já evidenciam a irresponsabilidade como era tratado o patrimônio bicolor.”
Conclui o relatório: “É triste, mas a realidade e os autos evidenciam que a nossa agremiação foi administrada pelo ex-presidente Arthur Tourinho, sem que o proveito do clube fosse a prioridade, sem que a responsabilidade com a ‘coisa alviceleste’ fosse privilegiada. Enfim, administrou-se o clube sem que a bússola orientadora fosse a probidade administrativa”.
Tourinho bem que poderia responder a tudo isso.
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