sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Os jornalistas vão à festa

As redações de Belém – nem todas, mas várias delas – amanheceram ontem à meia-força.
Era o dia seguinte – sim, um day after, se quiserem - ao da tradicional recepção de final de ano que a magnânima Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) oferece todos os anos aos coleguinhas.
E foram todos pra lá. Aliás, foram quase todos – os convidados e alguns que não se sabia, ao certo, se foram mesmo chamados. Mas deixa pra lá, porque a noite era de festa.
A Fiepa, refinada anfitriã, já conhece de priscas eras o gosto daqueles que convida para os seus recintos. E fez ver à galera que o coquetel – ou tira-gosto, como diria, em expressão de nenhuma catiguria, um coleguinha em tons de grunhido, como se falasse engolindo 15 empadas ao mesmo tempo - não era oferecido por qualquer um ou qualquer uma. Era oferecido pela Fiepa, ora bolas. E a Fiepa é a Fiepa.
Estava tudo à mesa, à mão, à altura da boca, na medida para o prazer que a noite recomendava: prosecco à vontade, uísque 12 anos que era uma maravilha, cerveja à farta e aquele clima, digamos, descontraído, largado, solto, despojado que só os coleguinhas são capazes de criar, sobretudo quando homenageados em confraternizações de final de ano, com tudo digrátis.
Nesse clima e nesse cenário, o que se viu do meio para o final da festa foi alguma coisa que vários circunstantes – ou seriam depoentes? – classificam de “divertidíssimo”, outros mais de “espantoso”, outros mais ainda de “inacreditável”. Alguns, menos extrovertidos, mais sisudos, faltos de senso de humor, chegam a dizer que foi um “horror” – mas exageram, com certeza exageram.
Não se pode considerar um “horror”, por exemplo, uma sinfonia de copos quebrando um minuto sim, outro também no meio do salão onde era oferecido o coquetel.
E nem se pode considerar “horror” um pobre de um garçom caindo desastradamente – porque garçons, sabe-se, são uma excelência para equilibrar bandejas, mas nem todos são obrigados a ter a mesma habilidade para equilibrar-se em salões meio deslizantes como o da Fiepa, tantas eram as coisas que escapuliam, direto ao chão, quando os copos se quebravam.
Além do garçom, um convidado também estatelou-se e foi socorrido por colegas atarantados, que já queriam até mesmo saber qual era o plano de saúde do acidentado, temerosos de que a coisa fosse grave. Não foi, não. Só um ferimentozinho, um filete de sangue... Coisa de festa, foi só um susto. Um escorregãozinho de nada, uma besteira. Só isso.
Foi divertido – e não um horror, seja bem dito outra vez – observar, como alguns observaram, que embaixo de uma árvore de Natal tinha alguma coisa que podia ser tudo, menos presente de Natal. Não era nada que devesse estar embaixo de uma árvore de Natal. E era uma coisa esquisita, que ressonava, às vezes ainda conseguia abrir os olhos, como em devaneio proporcionado pelo cochilo necessário para (re)tonificar a alma, mesmo durante uma festinha.
O que não pareceu muito divertido – e isto, vale ressaltar, foi reconhecido pela maioria dos depoentes – foi descobrir, na porta de um banheiro masculino, os humores intestinais, viscosos, meio lambreguentos, uma mistura de uísque 12 anos, prosecco, cerveja e guaraná (ainda tem?) que se acumulava em quantidade suficiente a exigir que alguém passasse um pano molhado, um vassoura, alguma coisa para remover dali aquele lago. “Eu tive uma visão do inferno daquilo ali”, conta quem viu, um depoente a quem falta humor, off course.
Com tudo isso, como vocês acham que as redações amanheceriam no dia seguinte? Amanheceriam como amanheceram: à meia-força, conforme já se ressaltou no início. Muitos chegaram tarde, inclusive quem trabalha na produção – antiga chefia de reportagem, para quem não sabe – e que, por dever de ofício, deveria madrugar em redação de jornal, chegou lá pelas 8h30, 9h – um atraso eterno. E chegou cambaleante, nauseado, o vigor físico – ainda suficiente para enfrentar maratonas – abalado pela animada noite anterior. E também voltou cedo pra casa – o andar arrastado, a cabeça pesada, coisas assim...
Muitos outros chegaram com aquele amargor, aquele gosto rascante, aquele travo horrível na garganta. Mas não foi só. Também tinha aquele lancinante dor na consciência, aquela sensação de culpa indescritível, aquele “o que foi que eu fiz”? que sempre batuca as mentes em dias seguintes aos de festas – ou bródios (ui!), como diriam os imortais de nossa Academia – como a que a Fiepa brindou os coleguinhas.
- Sinceramente, eu fique meio incomodada com tudo aquilo. A Fiepa nos recebeu tão bem... Mas, depois de tudo aquilo, acho que para o ano a recepção aos jornalistas vai se resumir a um café-da-manhã seguido de missa – contou, lágrimas de constrangimento aflorando aos olhos, uma depoente.
Mas o que é isso! Gente como essa aí, que não tem humor, não deveria ser convidada para confraternizações de final de ano. É uma estraga-festa. Literalmente.
E à Fiepa, que tão bem, com tanta cortesia, com tanta atenção e fidalguia recebeu os jornalistas, eles se confessam ternamente agradecidos pela acolhida que tiveram. E prometem voltar no ano que vem, inclusive se for oferecido um café-da-manhã.

11 comentários:

Anônimo disse...

Se comparada às bacanais da Roma antiga (e aqui vão as devidas desculpas à Fiepa, a grande anfitriã, pela grosseira comparação), aos licenciosos convidados desta festa faltaram apenas as termas. No mais, pelo jeito, rolou de tudo.
Imaginar o dia seguinte dos convivas dessa confraternização é um exercício doloroso até para quem ficou de fora do evento.
Para as próximas recepções com convidados desse tipo, desregrados, serão necessárias providências como posto médico de prontidão, com doses de glicose à farta e curativos, e preparação física.
Preparação física, sim, para que os "atletas" da xumbregação não capenguem na maratona do dia seguinte nas redações.

Anônimo disse...

Grande sem-festa!
Tenha senso de humor, grande amigo. Eles são uns pecadores. Mas os pecados são veniais.Deixa esse povo se divertir.
Olha, dizem até que a Fiepa, lá pelas tantas, começou a armar um plano B: se a animação aumentasse mais, o jeito seria apagar as luzes do prédio e mandar os coleguinhas se divertirem no meio da rua, na Benjamin. Mas aí, quando se discutia esse plano, aparece um outro ponderou:
"Não faz isso que vai ser pior. Se a festa for para o meio da rua", vão ter que apagar a luz do bairro de Nazaré inteiro."
Deixa o povo se divertir, Sem-festa, deixa.

Anônimo disse...

Imagine só, ter que apagar a luz de um bairro inteiro por causa de um festim de jornalistas!
Ô gentinha pra gostar de esbórnia (mais desculpas à Fiepa, a grande anfitriã)!
Uma pergunta: Quem dorme nas árvores são animais ou alguns povos de florestas, certo?
E quem dorme em árvore de Natal é o quê? Certamente não é Papai Noel.
Vamos lá, respondam!
Vamos participar desta corrida de apostas, deixando momentaneamente de lado os "atletas" da "maratona" de bolinação e olhares duplamente salientes pelos cantos da Fiepa.

Anônimo disse...

Eu sei, eu sei. Mas não posso dizer. Nem tudo o que se sabe pode-se dizer. Mas eu sei quem são muitos personagens. Umas graças!

Anônimo disse...

Não sei o que é pior, os que ficaram à vontade na festa, ou quem sequer apareceu por lá e tanto se incomodou com o que não viu.
Sinceramente, sou jornalista, estive na festa, não enchi a cara nem dei vexame, mas acho que todo mundo ali, até os que se excederam, têm o direito de se divertir à sua maneira. Produtor ou chefe de reportagem, repórter e até o garçom, quem quer que seja, estavam no seu momento de lazer, a convite, é bom que se diga, e, portanto, não se comportaram pior do que pessoas que não estão em uma festa mas se dão ao trabalho, em seus horários de expediente, de ficar falando (e escrevendo) mal sobre a vida alheia. Procurem algo útil para comentar.

Anônimo disse...

há rumores de que o post "viva os conservadores" foi escrito embaixo da árvore de natal.
ou na unimed da doca, para onde migrou uma horda de jornalistas no final da festança.
tantos jornalistas, aliás, que o estoque de glicose teve de ser renovado.

Anônimo disse...

Bela crônica. Bem humorada e real. Na minha época, os porres também aconteciam. Mas eram lá pelas bandas do Bar do Parque. Bons tempos aqueles da década de 70, asim como a praça da Repúblcia e o próprio bar do Parque faziam parte de outro cenário. E os jornais e seus jornalistas viviam outra época, bem diferente, com todo respeito, aos tempos de hoje.

Anônimo disse...

Paulo,
Dei muitas risadas com o post, comentários e claro, a festa. Foi divertidissíma. Você deveria ter ido. Ano que vem não falte. Ah! não creio que a idéia da missa e café da manhã vá adiante rsrsrs. Mas vamos avaliar com carinho a proposta de atendimento médico no local. Como são providências para 2008, peço que as sugestões para a próxima festa de confraternização sejam enviadas para a Ascom/Fiepa (ascom@fiepa.org.br)ou para chefia de gabinete (secretaria@fiepa.org.br). Podemos não conseguir aprovar nada, mas vamos rir mais um bocado.

Cleide Pinheiro

Anônimo disse...

Cleide, você não meu viu? Eu fui, sim. Estava lá. Mas estava dormindo, ressonando. E não era embaixo da árvore de Natal (rssss). Grande abraço!

Anônimo disse...

Caro colega Bermeguy,
Aqui é Dedé, sua colega de redação (mas quase não nos encontramos). Que farra, essa da Fiepa! Realmente, a poderosa Fiepa sabe como organizar uma festa. Adorei tudo: a foto, na entrada, à la "ilha de Caras" (a minha ficou linda); o show do Plantão de Notícias; encontrar os coleguinhas, a comida (o arroz de pato, um luxo!); as bebidinhas (como não bebo, não posso opinar sobre). Tive que sair cedo, às 23h, para tomar um avião e fazer um matéria em São Paulo (a convite, é claro), mas antes de sair pude perceber que aquela farra ia dar caldo, muito caldo. Com a viagem, não estava na redação para ver as caras ressaqueadas de quem chegou tarde. Mas valeu (sempre vale!). Parabéns à minha coleguinha,desde a UFPA, Cleide e sua equipe. Em 2008, se me quiseream, estou aberta a convites (RSRSRSRSRSR).
Dedé

Anônimo disse...

Oi, Dedé.Pois é, pelo menos por aqui a gente se encontra. É uma pena que tenhas saído mais cedo. Perdeste o melhor. Mas te contarão. Nesta terra, tudo se sabe.