A Amazônia arde.
A Amazônia continua submetida a uma avassaladora devastação.
Enquanto isso, o bolsonarismo vale-se de um discurso escandalosamente desonesto para distorcer conceitos e realidades.
Enquanto isso, a Imprensa, infelizmente, omite-se em seu papel de escancarar o desonesto discurso bolsonarista.
Enquanto isso, a opinião pública, em sua maioria esmagadora, tende a acreditar que alhos são bugalhos - ou vice-versa.
Aos fatos.
Em visita à Área Indígena Munduruku, no extremo oeste do Pará, o ministro Ricardo Passar a Boiada Salles e comitiva foram recepcionados de forma hostil por garimpeiros e alguns índios. Um grupelho de índios.
Garimpeiros e alguns índios, diga-se logo, sonham em ver sua região como ela já está: devastada. Uma devastação que exibe contornos apocalípticos, como você pode ver na imagem acima.
Os devastadores exigem que o governo torne sem efeito dispositivo legal dando ao Ibama poderes de destruir as máquinas empregadas em atividades predatórias ao meio ambiente.
Era o que o governo bolsonarista queria para o cometimento de uma bolsonarística desonestidade: disseminar por aí, como está disseminando, que os índios - eles mesmos, apontados por setores progressistas como defensores do meio ambiente - seriam, de fato, os primeiros interessados na exploração da atividade garimpeira, não importando as suas consequências.
Aí, turbinado por sua própria desonestidade, o próprio discurso bolsonarista começa com aquela lenga-lenga de que as comunidades indígenas precisam, por si mesmas, decidir a melhor forma de explorar o dito potencial econômico de suas reservas.
Eis aí configurada a desonestidade do discurso bolsonarista.
E o jornalismo, onde entra com sua abominável omissão?
O jornalismo comparece nesse enredo quando se exime de mostrar duas coisas.
Primeiro: que ninguém, absolutamente ninguém, sejam índios, sejam não-índios, pode destruir a mata, contaminar rios e igarapés, disseminar o vírus para contaminar a população, retirar ouro e contrabandeá-lo, sem ter apoio político e de autoridades, seja por ação ou por omissão.
Segundo: que os índios envolvidos na devastação da Área Munduruku não representam a voz de seu povo, mas estão subordinados a interesses espúrios, criminosos e, portanto, sujeitos à repressão do estado. Uma repressão que o governo Bolsonaro não quer fazer, não faz e não fará.
Portanto, a Imprensa omite-se em botar a boca no trombone para mostrar que a Constituição Federal impede garimpos e mineração em terras indígenas. Nem índios, nem brancos, enfim, ninguém pode fazer qualquer atividade nestas áreas protegidas. Quem inobserva essa regra é criminoso, sujeitando-se às cominações legais. E ponto.
Eis aí configurada a omissão da Imprensa.
E ainda falta a opinião pública, mencionada no início. Sua participação, diante da desonestidade bolsonarista e a omissão da Imprensa, está na forte propensão em reforçar seus preconceitos, entre os quais o de que índios seriam preguiçosos, aproveitadores e sempre férteis a se render às tentações econômicas.
Pronto. Aí temos a opinião pública tendente a acreditar que alhos são bugalhos - ou vice-versa.
Por tudo isso, a Amazônia está como está.
Por tudo isso, o bolsonarismo avança em sua exitosa empreitada de corromper a verdade.
2 comentários:
Parabéns pelo texto, precisas fazer chegar aos jornalistas de veículos internacionais. Aqui a Amazônia não tem a menor importância. Nossos dirigentes se venderam para este modelo predatório e muitos jornalistas preferem os canudinhos da festa do SIMINERAL.
Paulo, doí mas passa. Incrível como vocês da imprensa, não tenham outros assuntos em bater no nosso Presidente e Covid-19. Quero ver o assunto dos senhores quando terminar o mandato do Presidente Bolsonaro, isto é em 2026? Pois quanto mais batem neste homem sério que só quer o bem do Brasil mais ele cresce nas pesquisas, se bem que penso que quem contrata a pesquisa tem o direito de alterar o resultado tanto para mais ou menos.
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