quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Bannon, o boca porca, está na cadeia. Bolsonaristas devem estar achando que é conspiração.



Steve Bannon - com Bolsonaro, Carluxo e Eduardo: na política,
quase sempre, os semelhantes se atraem. Mas isso é uma outra história.

Desde que Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, já li uns quatro ou cinco livros sobre ele e seu desgoverno.

Das obras que já li até agora, três impactaram-me.

Um deles é "Fogo e Fúria". Outro, "Trump - O cerco sob fogo cruzado". O terceiro, "Medo - Trump na Casa Branca", que Bob Woodward escreveu e traz a marca plena do jornalista que destampou os porões de Wattergate e derrubou o governo Nixon.

Essas obras falam de perversões sexuais, incluindo relatos de estupro - um, pelo menos - que teria sido cometido por Trump contra uma assessora dentro de um avião.

Falam de imundícies - homofobia, misoginia, preconceitos, racismo, discriminação e baixezas morais de toda espécie.

Falam de desonestidades atrozes.

Falam de inapetências intelectuais.

Falam da absoluta incapacidade de um governante de gerir um país das dimensões dos Estados Unidos.

Donald Trump, evidentemente, é o personagem emblemático, digamos assim, dessas qualidades que degradam qualquer senso de humanidade.

Mas livros sobre ele, inescapavelmente, também se referem fartamente a Steve Bannon.

Trumpistas, fascistas direitistas, extremistas e outros istas - inclusive bolsonaristas, não esqueçamos - consideram-no um mago, uma espécie de entidade que baixou à Terra (plana?) para fazê-la mais feliz, mais liberal, mais fraterna e democrática, livre de esquerdistas, comunistas e maconheiros (os bolsonaristas incluiriam petistas, é claro).

Consideram-no o maior estrategista de campanha que o mundo político já produziu em todos os tempos.

Pois é.

Já outros istas - antitrumpistas, antifascistas, antidireitistas, anti-extremistas e antibolsonaristas poderão classificar Bannon, de acordo com os elementos apresentados por esses livros, como um porco - literalmente um porco, um sujeito malcheiroso, repulsivo, fedorento, que prima pela falta de higiene.

Temos ainda o Bannon boca porca, aquele que expele palavrões, xingamentos e conceitos desairosos a mulheres e homossexuais, entre outros.

Livros como esses também mostram Steve Bannon como o inescrupuloso, o oportunista, o aproveitador, o sujeito que procura todas as formas de perverter conceitos - legais, inclusive -, tudo em nome da causa maior de disseminar pelo mundo a ideia de que o conservadorismo deve triunfar a qualquer preço, para livrar a Terra de uma hecatombe.

Nesta quinta-feira (20), Steve Bannon foi indiciado e preso sob a acusação de desviar dinheiro de uma campanha de apoio à construção de um muro entre os Estados Unidos e o México - uma das promessas da campanha de Trump em 2016.

A campanha "We Built That Wall" (nós construímos o muro, em tradução literal) arrecadou US$ 25 milhões (cerca de R$ 142 milhões, na cotação atual) que foram doados de centenas de milhares de pessoas.

Segundo o Departamento de Justiça, ao menos US$ 1 milhão (R$ 5,64 milhões, na cotação atual) teria ido para o próprio Bannon, que usou o dinheiro em outras de suas organizações ou para ele mesmo.

Ao menos uma parte desse montante "foi usado por Bannon para cobrir centenas de milhares de dólares em despesas pessoais dele", disseram os promotores.

Esse é o Bannon que eu conheço.

Esse é a versão Steve Bannon que os livros que já li confirmam amplamente.

Esse é o Bannon moralista. Mas sua moral não veda, claro, aproveitar-se do dinheiro alheio.

Resta saber se, saindo da cadeia, Bolsonaro vai importá-lo.

Uma dobradinha entre Olavo de Carvalho e Steve Bannon seria, acredito, o sonho dentro dos melhores sonhos de bolsonaristas.

Aliás, da última vez que Bolsonaro esteve nos Estados Unidos, ele e os filhos Carluxo e Eduardo não dispensaram uma foto com seu guru.

Os opostos se atraem, diz a velha máxima.

Mas nem sempre.

Na política, vocês sabem, quase sempre os semelhantes é que se atraem.

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