sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A desonestidade bolsonarista, a omissão da Imprensa e a devastação criminosa da Amazônia


A Amazônia arde.

A Amazônia continua submetida a uma avassaladora devastação.

Enquanto isso, o bolsonarismo vale-se de um discurso escandalosamente desonesto para distorcer conceitos e realidades.

Enquanto isso, a Imprensa, infelizmente, omite-se em seu papel de escancarar o desonesto discurso bolsonarista.

Enquanto isso, a opinião pública, em sua maioria esmagadora, tende a acreditar que alhos são bugalhos - ou vice-versa.

Aos fatos.

Em visita à Área Indígena Munduruku, no extremo oeste do Pará, o ministro Ricardo Passar a Boiada Salles e comitiva foram recepcionados de forma hostil por garimpeiros e alguns índios. Um grupelho de índios.

Garimpeiros e alguns índios, diga-se logo, sonham em ver sua região como ela já está: devastada. Uma devastação que exibe contornos apocalípticos, como você pode ver na imagem acima.

Os devastadores exigem que o governo torne sem efeito dispositivo legal dando ao Ibama poderes de destruir as máquinas empregadas em atividades predatórias ao meio ambiente.

Era o que o governo bolsonarista queria para o cometimento de uma bolsonarística desonestidade: disseminar por aí, como está disseminando, que os índios - eles mesmos, apontados por setores progressistas como defensores do meio ambiente - seriam, de fato, os primeiros interessados na exploração da atividade garimpeira, não importando as suas consequências.

Aí, turbinado por sua própria desonestidade, o próprio discurso bolsonarista começa com aquela lenga-lenga de que as comunidades indígenas precisam, por si mesmas, decidir a melhor forma de explorar o dito potencial econômico de suas reservas.

Eis aí configurada a desonestidade do discurso bolsonarista.

E o jornalismo, onde entra com sua abominável omissão?

O jornalismo comparece nesse enredo quando se exime de mostrar duas coisas.

Primeiro: que ninguém, absolutamente ninguém, sejam índios, sejam não-índios, pode destruir a mata, contaminar rios e igarapés, disseminar o vírus para contaminar a população, retirar ouro e contrabandeá-lo, sem ter apoio político e de autoridades, seja por ação ou por omissão.

Segundo: que os índios envolvidos na devastação da Área Munduruku não representam a voz de seu povo, mas estão subordinados a interesses espúrios, criminosos e, portanto, sujeitos à repressão do estado. Uma repressão que o governo Bolsonaro não quer fazer, não faz e não fará.

Portanto, a Imprensa omite-se em botar a boca no trombone para mostrar que a Constituição Federal impede garimpos e mineração em terras indígenas. Nem índios, nem brancos, enfim, ninguém pode fazer qualquer atividade nestas áreas protegidas. Quem inobserva essa regra é criminoso, sujeitando-se às cominações legais. E ponto.

Eis aí configurada a omissão da Imprensa.

E ainda falta a opinião pública, mencionada no início. Sua participação, diante da desonestidade bolsonarista e a omissão da Imprensa, está na forte propensão em reforçar seus preconceitos, entre os quais o de que índios seriam preguiçosos, aproveitadores e sempre férteis a se render às tentações econômicas.

Pronto. Aí temos a opinião pública tendente a acreditar que alhos são bugalhos - ou vice-versa.

Por tudo isso, a Amazônia está como está.

Por tudo isso, o bolsonarismo avança em sua exitosa empreitada de corromper a verdade.

2 comentários:

José Carlos Lima disse...

Parabéns pelo texto, precisas fazer chegar aos jornalistas de veículos internacionais. Aqui a Amazônia não tem a menor importância. Nossos dirigentes se venderam para este modelo predatório e muitos jornalistas preferem os canudinhos da festa do SIMINERAL.

Pedro do Fusca disse...

Paulo, doí mas passa. Incrível como vocês da imprensa, não tenham outros assuntos em bater no nosso Presidente e Covid-19. Quero ver o assunto dos senhores quando terminar o mandato do Presidente Bolsonaro, isto é em 2026? Pois quanto mais batem neste homem sério que só quer o bem do Brasil mais ele cresce nas pesquisas, se bem que penso que quem contrata a pesquisa tem o direito de alterar o resultado tanto para mais ou menos.