quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Vaias, mal-estar, aplausos, encenações e "macheza" no palco de Bolsonaro em Belém. E o show vai continuar.

A inauguração da primeira etapa do Projeto Belém Porto Futuro, na manhã desta quinta-feira (13), foi verdadeiramente um espetáculo.

Vamos e convenhamos, foi um show.

Um show armado por Bolsonaro, para êxtase de bolsonaristas.

Um espetáculo, um show que serviu como uma espécie de acerto de contas (ainda bem que apenas verbal) entre os diversos atores presentes à solenidade. O maior ator foi Bolsonaro, é of course.

Como o Espaço Aberto anteviu na postagem Tensão e repulsa antecedem inauguração do Belém Porto Futuro. Governo do estado está alerta para protestos de bolsonaristas., disponibilizada ontem à noite, os protestos de fato aconteceram. E aconteceram também outras performances. Todas deploráveis.

Confiram a íntegra da solenidade - ou do show - no vídeo acima.

Houve vaias. Elas voltaram-se exclusivamente contra o governador Helder Barbalho, alvo de hostilidades de bolsonaristas não é de hoje. No vídeo acima, os apupos não são plenamente audíveis, ao contrário de outros vídeos que circulam em profusão nas redes sociais e fazem ecoar os protestos contra o governador.

Houve vaias. Elas voltaram-se também contra Bolsonaro, no momento em que ele começou a falar. Emanaram de antifascistas, que não suportam a presença, em Belém, de um homem com viés francamente autoritário, que já prestou homenagens públicas a torturadores e que, muito embora pose de amante da democracia, não engana ninguém sobre suas reais intenções autoritárias.

Houve um momento extático - isso mesmo, extático com x -, em que o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, deve ter sentido os arrepios do êxtase num pronunciamento que não durou nem 1 minuto. Durou cerca de uns 50 segundos. Mas esse tempo foi suficiente para o tucano não citar Helder nominalmente e para enfatizar que Belém e o Pará agradeciam a Bolsonaro os insumos e os equipamentos recebidos para fazer frente à pandemia. Foi um recado explícito ao governador, que durante a fase crítica da pandemia procurou colar em Zenaldo a pecha de gestor ineficiente nas ações de combate à doença, enquanto arrogava-se para si próprio, Helder, a iniciativa de atuar até no âmbito do município de Belém para minorar os impactos da crise. Bolsonaristas (também eles extáticos) aplaudiram, e aplaudiram intensamente, o recado-relâmpago, mas certeiro, de Zenaldo.

Houve uma grande surpresa. Helder citou nominalmente Zenaldo e lhe agradeceu por não ter criado embaraços para a construção do Porto Futuro.

Houve ficção. Rogério Marinho classificou a "resiliência, foco, determinação e espírito público", exatamente nessa ordem, como qualidades de Bolsonaro. Resiliência, vá lá - porque o Capitão, o pior presidente do Brasil em 500 anos de história, não deveria mais ter nem 1% do apoio popular. Mas ainda tem em torno de 30%. Já falar em "foco, determinação e espírito público" num homem que não acredita na ciência, que estimulou o descumprimento de todas as etiquetas de cautela recomendadas contra o Covid-19, que não articulou políticas com os estados e municípios para enfrentar a pandemia, que até agora considera essa pandemia como uma gripezinha (muito embora evite repetir isso em público) e que já teve três ministros da Saúde (o atual deles na interinidade há quase três meses), um governante que protagoniza uma cenário desses, portanto, pode ter tudo, inclusive Covid-19, mas não tem, desculpem, nem foco, nem determinação, nem espírito público.

Houve números citados com ardor. "Nós destinamos só ao estado do Pará, para ações de combate ao Covid-19, mais de 2 bilhões de reais. Entre os outros estados, proporcionalmente foi o mais atendido no combate ao vírus", vociferou Bolsonaro.

Houve mal-estar e exibições de negacionismo e de macheza explícitas. No palco, o deputado federal Éder Mauro (PSD), aspirante a prefeito de Belém, era o único sem máscara. E estava sentado a 1 metro e meio, se tanto, de Helder, seu novo inimigo político.

Houve aplausos. Como o show era um evento de bolsonarista para bolsonaristas, os bolsonaristas bateram palmas até para arrotos. Desde que tenham provindos das entranhas de bolsonaristas, é claro.

Houve uma manipulação concertada, combinada, sintonizada nos discursos relativos ao empreendimento. Ninguém disse por que as obras estão sendo inauguradas com apenas um terço do previsto no projeto.

Houve uma certeza, depois desse show de malabarismos verbais, encenações e ficções a céu aberto: shows como esse jamais deveriam continuar, mas vão continuar, é claro, sobretudo à medida que se aproximarem as eleições de novembro.

Um comentário:

Pedro do Fusca disse...

Apesar de ser do Grupo de Risco, não poderia faltar a esta festa como voce bem diz, de gente Bolsonarista e lá estive e faltou você dizer que a PM estava barrando pessoas que queriam participar deste evento. Um acinte contra a democracia pois democracia verdadeira é para os dois lados.